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A preguiça anda tão devagar, que a pobreza facilmente a alcança. (Benjamin Franklin)

Você sabia que a preguiça é uma arte? Sim. A arte de tornar tudo mais difícil. Talvez você conheça alguém (ou até mesmo se enquadre no perfil) que encontra dificuldade em fazer desde as coisas mais simples, como levantar da cama, até as mais ousadas, como a realização de seus sonhos (se é que existem) ou, ao menos, a busca por melhores condições de vida.

O desânimo, a morosidade, a falta de vontade são suas características mais marcantes. Pessoas que se permitem dominar pela preguiça são, geralmente, parasitas de algum sistema que as mantém vivas. Pode ser a família, instituições, um emprego que detestam ou até mesmo programas sociais. Se receberem as migalhas diárias que as mantenham respirando, está tudo bem.

O preguiçoso é um ser sem inciativa para desenvolver algo relevante e, comumente, carrega consigo um sentimento de frustração que, no entanto, não é forte suficiente para fazê-lo mudar de atitude. Em sua mente, não resta a menor dúvida: melhor frustrado do que cansado.

A frase que abre este texto, foi proferida por um dos homens mais ativos e criativos da história, e resume muito bem o destino amargo de quem se deixa dominar por este lastimável comportamento. A pobreza citada por Ben Franklin não é apenas uma condição material. É muito mais emocional e espiritual.

Mas antes de começar, pergunto: quem nunca sentiu preguiça na vida? Quero deixar bem claro que este texto não condena, de forma alguma, a preguiça eventual, daquela do tipo domingo vou dormir até o meio dia. Todos nós temos direito a uma relaxada de vez em quando. É natural e até salutar para “recarregar a bateria”.

É muito importante frisar que as paradas estratégicas são necessárias tanto para pôr os pensamentos em ordem, quanto para desenvolver e estimular a criatividade. É mais ou menos o que o sociólogo italiano Domenico De Masi classificou de Ócio Criativo.

O perigo exposto aqui é sobre a preguiça que causa danos ao corpo e à mente, que transforma um ser humano cheio de possibilidades em um vegetal quase inanimado.

Preguiça versus depressão

Durante minhas constantes e incansáveis pesquisas sobre a mente e comportamento humano, cheguei à conclusão que a preguiça é tão ou até mais danosa que doenças como a depressão. Pode parecer exagerada a afirmação, por isso peço licença para explicar.

A depressão, de uma forma (bem) genérica, tem como alguns dos sintomas, cansaço exagerado, falta de energia e interesse em atividades até então prazerosas, dificuldade de concentração, sono excessivo, dentre outros. Naturalmente, são apenas alguns exemplos dentro de uma enorme variedade, amplamente estudada e documentada pela Psicologia tradicional.

Quando alguém se descobre ou é diagnosticado com depressão, a primeira medida é (pensar em) procurar tratamento especializado. É preocupante saber que uma pessoa querida sofre deste mal.

Existem muitos exemplos de indivíduos que foram às últimas consequências e praticaram atos extremos, como automutilação ou suicídio. Não há dúvidas que situações desta natureza, merecem toda atenção dos familiares e amigos.

Passemos agora à preguiça. Seria tolice afirmar que ela tem como (muitos) sintomas, os mesmos descritos dois parágrafos acima? E como reagimos quando somos informados que alguém que conhecemos está sofrendo de preguiça? Preocupação? Tenho quase certeza que não. O máximo que podemos expressar é um risinho no canto da boca e um pensamento do tipo esse fulano não tem jeito mesmo. Ou seja, ninguém se importa com os preguiçosos.

Pois bem, após este simplório paralelo, que pode ter aborrecido algumas pessoas com mais conhecimento no assunto, passo a alguns danos causados pela preguiça, direta ou indiretamente.

Os danos visíveis e invisíveis

De uma forma ampla, a preguiça gera o sedentarismo (e vice-versa), e causa estragos – tanto fisicamente quanto mentalmente – em pessoas que adotam alguns comportamentos padrões, como os citados abaixo:

Tem uma extrema aversão de mover-se de um ponto a outro, quando o caminho a ser percorrido excede os dez metros;
Prefere o confortável abraço da morte a se exercitar;
Se morar sozinho, corre o risco de ser devorado por ratos, já que não há disposição para retirar o lixo e fazer uma simples faxina na casa;
Prefere pedir comida por telefone a cozinhar algo saudável;
Passa horas na frente da TV (desde que o controle remoto funcione);
Adora consumir conteúdos irrelevantes e pobres na internet, tanto no computador quanto no smartphone;
Em seu “tempo livre”, se entrega a longas horas nos braços de Morfeus (o deus dos sonhos, na mitologia grega).

Infelizmente, esta estereotipada figura não é a única vítima. É preciso entender que a preguiça mental está fortemente presente em nossa sociedade, repleta de facilidades.

Acredito que sete em cada dez pessoas do mundo moderno, sofram deste mal (essa afirmação não é baseada em dados científicos nem é resultado de pesquisas. Trata-se de um mero palpite).

Conheço gente que só de olhar para um livro com mais de duzentas páginas, já mostra a característica expressão facial que significa Deus me livre. As mídias digitais, antenadas nas tendências, criam meios para deixar os conteúdos mais “dinâmicos”.

Se você prestar atenção, as formas de comunicação estão cada vez mais curtas, especialmente nas crescentes redes sociais, que limitam a quantidade de caracteres. Em breve, nos comunicaremos apenas com símbolos, como faziam nossos primitivos antepassados.

Dos efeitos do sedentarismo, consequência da preguiça, temos uma lista contendo velhos conhecidos dos hospitais e necrotérios:

Diabetes – acúmulo de gordura, aumenta o risco de resistência à insulina;
Hipertensão – coração que não é exercitado, se esforça mais para o sangue circular;
Osteoporose – exercícios ajudam na formação da massa óssea;
Câncer – especialmente o de próstata e de mama, que estão ligados com o controle de peso;
Obesidade – precisa explicar?
Espere um pouco. Essas doenças podem ser adquiridas devido à falta de exercício, alimentação ruim (fast foods, gorduras saturadas, açúcar, carne vermelha, etc.) e excesso de peso. Qual a relação com a preguiça? Se você não percebeu, deve estar com preguiça de raciocinar.

Outros efeitos são menos percebidos e comentados, porque não existe a manifestação física, pelo menos não explicitamente. Consegue imaginar quanta gente já enterrou seus sonhos e se condenou a uma vida medíocre e sem perspectiva?

Claro que existem outros fatores, mas você não precisa se esforçar muito para encontrar pessoas que estão onde estão por pura preguiça de aprender, de ler, de estudar, de sair de casa, de procurar oportunidades, de viver. Acreditam que dá muito trabalho e preferem viver de migalhas.

Como combater esse mal?

Chega de falar dos efeitos, que são bem mais abrangentes do que a breve amostra contida neste texto. Se você chegou até aqui, deve querer algumas dicas para vencer esse pecado capital, termo citado sem nenhuma conotação religiosa, somente porque cabe no contexto.

Em qualquer das atividades sugeridas abaixo, será necessária uma dose de esforço inicial. Se comprometa a reservar um tempo para cada uma. Considere este tempo sagrado, ou seja, não faça mais nada em paralelo (então, desligue o famigerado telefone celular).

E é de fundamental importância não se cobrar por resultados imediatos. Viva um dia de cada vez.

Dicas para combater a preguiça física e mental

1- Leia um livro. Escolha um que contenha assuntos que lhe interessam e leia duas páginas por dia, pelo menos. Alguns livros são monótonos no início, mas se tornam irresistíveis a ponto de você não querer largá-lo até concluir o capítulo. Lute contra a tentação de desistir. Por isso, vá devagar

2 – Saia para caminhar todos os dias. Não precisa ser uma volta ao mundo. Caminhe um quarteirão e volte para casa. Se tiver disposição, vá mais além. No início, lute contra a vontade de ficar em casa e assistir TV. Depois de um tempo, o que era um tormento se torna prazeroso. Mas não force a barra. Vá devagar.

3 – No trabalho, faça um pouco a mais que o seu serviço rotineiro. Muita gente acha que fazer algo além do seu trabalho normal é um ato de ingenuidade ou puxa-saquismo. Não caia nessa. Ajude quem precisa. Lembro que na minha antiga empresa, eu costumava ajudar uma senhora na limpeza do setor. O mais legal é que outras pessoas passaram a fazer o mesmo (a melhor forma de educar é dando exemplo). A dica vale – também – para quem não exerce atividade remunerada. Ajudar ao próximo é um ato nobre e atos nobres são sempre benvindos em qualquer circunstância.

Nota: nesta dica, que parece estar deslocada do assunto, poderiam ser mencionados termos como atitude, solidariedade ou pró-atividade. Sem dúvida, a ausência destes comportamentos pode ser o efeito de uma característica de personalidade ou caráter, mas também da preguiça em ajudar. Infelizmente, já tive o desprazer de presenciar algumas vezes.

4 – Limite o tempo para TV ou outras distrações (vídeo game, bobagens da web e rede sociais). Você pode estipular algo em torno de uma hora por dia. Longas jornadas na frente da TV ou similares, moldam a mente, tornando-a dependente e preguiçosa para atividades construtivas e enriquecedoras.

5 – Durante um mês, escreva um diário, registrando as atividades que realizou. Talvez essa seja a dica mais complicada de executar, simplesmente porque muita gente desaprendeu a usar papel e caneta. Pode ser no computador? Não, tem que ser no velho estilo. Não precisa ser algo longo, cheio de devaneios. Escreva tópicos curtos: hoje eu caminhei até a praça do bairro, li dois capítulos do livro, não assisti TV, ajudei a dona Marta a fazer um bolo. Pronto. Se quiser escrever mais, ótimo. Mas vá devagar.

Dica Extra: na medida do possível, procure acordar cedo. A sensação de levantar da cama no início do amanhecer é reconfortante, justamente pelo fato de estarmos despertos, aproveitando uma fatia maior do tempo disponível no dia. Acordar tarde traz consigo uma sensação de improdutividade, reforçada pela incômoda constatação de que o mundo inteiro acordou e você continuou dormindo (contrariando a letra da canção Pro Dia Nascer Feliz, escrita por Cazuza e lançada pelo Barão Vermelho).

Atenção: esqueça o mito de que são necessárias oito horas de sono diários. Essa teoria está ultrapassada há tempos, assim como muitas outras que nos condicionam a fazer coisas somente porque um suposto especialista disse que é assim, porque sim. Dá uma olhada no artigo O Mito das 8 Horas de Sono para entender melhor.

Percebeu que são coisas perfeitamente possíveis de executar? O sentimento de dificuldade surge a partir das limitações que criamos em nossas mentes. Se você quiser sair da inércia, se esforce para dar esses primeiros, pequenos e fundamentais passos.

Propositalmente, eu finalizei algumas dicas com a frase vá devagar, apenas para que fique bem claro que não se adquire bons hábitos de um dia para outro. É preciso manter a frequência, a continuidade. Quando você menos perceber, só vai usar a palavra preguiça para mencionar aquele bichinho adorável, com olhar doce, encontrado nas matas da América do Sul.

Quer se aprofundar um pouco mais? Dá uma olhada na pesquisa, publicada na revista Exame, mostrando as 20 coisas que os cientistas já descobriram sobre a preguiça.

por Marco Ribeiro

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