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O cérebro não processa o tempo como um relógio o faz

ILUSTRAÇÃO DE GIL COSTA / FUNDAÇÃO CHAMPALIMAUD

Às vezes o tempo parece infinito, outras vezes que não passa. Uma equipa de neurocientistas investigadores do Fundação Champalimaud passou quatro anos a estudar a forma como processamos o tempo, e descobriu os neurónios que processam a nossa percepção sobre a passagem do tempo

O que é o tempo? Qual a percepção que cada um nós tem sobre a passagem das horas? Porque é que há momentos que parecem infinitos e outros que nunca mais passam?

Qualquer interrogação relacionada com o tempo é de tal maneira subjetiva que só mesmo um cientista poderá explicar. Foi exatamente isso que uma das equipas de neurocientistas do Centro Champalimaud procurou saber, quando partiu para um trabalho sobre a forma como o nosso cérebro constrói a percepção da passagem do tempo para, finalmente, conseguir identificar os circuitos neuronais que modulam essa medida.

ESTREIA NA REVISTA “SCIENCE”

Esta descoberta – até agora só tinha havido experiências no cérebro de ratinhos – é de tal modo importante para a comunidade científica que, pela primeira vez, um trabalho realizado nos laboratórios da Fundação Champalimaud, foi publicado na revista “Science”.

Durante quatro anos, a equipa liderada por Joe Paton, investigador principal do Learning Lab – um laboratório do centro que se dedica a estudar a questões relacionadas com a aprendizagem [onde se incluem investigadores Sofia Soares e Bassam Atallah], tentou perceber como é que os neurônios dopaminérgicos, responsáveis por libertar dopamina, poderiam ser determinantes no processo do processamento do tempo no nosso cérebro. “Estes neurônios são centrais para vários aspectos do comportamento existem muito estudos sobre a atividade da dopamina, que muitas vezes está envolvida na nossa sensação de recompensa e de bem estar ” explica Joe Paton.

“O nosso objetivo quando montámos o trabalho foi precisamente perceber o envolvimento dos dopaminérgicos na relação com o tempo”, revela o cientista.

Seguindo a pista destes neurônios através de várias experiências de observação e manipulação, aumentado ou diminuindo a libertação de dopaminas no cérebro de ratinhos, os cientistas conseguiam prever as decisões ou hesitações dos animais, indicando que o efeito da passagem do tempo estava fortemente relacionada com a atividade elétrica desta células. “Esta descoberta começa por ser importante para questões que estejam ligadas a comportamentos impulsivos ou relacionados com o déficit de atenção, por exemplo”, diz Paton.

A questões que agora se põe é esta: “Será o resultado desta experiência suficiente para percebemos se funcionam do mesmo modo no comportamento humano? Será que a manipulação desses neurônios pode alterar a nossa experiência subjetiva do tempo?” Os autores gostam de acreditam que sim, apesar de salvaguarda que “quando estudamos animais a única coisa que podemos medir é o seu comportamento e interpretar o que vemos como sendo uma experiência subjetiva.”

Em última análise, e como explica o neurocientista, o tempo tem uma dimensão tão básica e simultaneamente tão complexa na nossa experiência de vida, e é tão importante para tanta coisa, que qualquer passo que se dê no sentido de perceber como é que se processam no nosso cérebro os mecanismos relacionados com esta questão, é mais um salto que se dá em direção ao Conhecimento.

ana-soromenho

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