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É o esconderijo da alma. O órgão do intelecto. A curva que une as correntes do mundo. São várias tentativas, mas nenhuma metáfora consegue definir o cérebro e seus 86 bilhões de neurônios que lançam continuamente impulsos eletroquímicos. Nem a própria ciência.

Decifrar a mente é a próxima missão humana. Achou que era povoar Marte? Antes de colonizar o planeta vermelho é preciso conhecer a massa cinzenta que vislumbrou o infinito, inventou os deuses e montou equações e espaçonaves. A tarefa é tão grande que só formando uma rede mundial de cérebros para conseguir.

Desse cenário surgiu o movimento neurohacking, uma associação independente de programadores, designers, cientistas, empreendedores, artistas e educadores para monitorar e estimular as ondas cerebrais. A ideia é aumentar o controle sobre o cérebro e criar uma interação direta e criativa entre o órgão e as máquinas.

Hoje, essa tecnologia ajuda desde estressados a meditar até paralíticos a se movimentar dentro de exoesqueletos. Aqui, hackear não é uma manipulação criminosa: o termo significa conhecer o funcionamento de algo a ponto de alterar suas funções.

Os eletrodos são grudados na testa com fita crepe. O macarrão de fios coloridos desce pela nuca e se conecta a uma placa. Dela, a informação vai para o computador, que exibe na tela as ondas cerebrais e as regiões do crânio acionadas na experiência.

Antes, uma cena como essa só acontecia em universidades ou grandes corporações. Agora, ela se repete em garagens, escritórios ou centros culturais. Aparelhos de EEG (eletroencefalograma) se simplificaram, podem ser comprados pela internet, e o custo deles está baixando a cada modelo novo lançado. Sua mente vai ser hackeada: operação concluída com sucesso!

Os post-its e as bancadas de trabalho estão por todo lado. As pessoas usam camisetas com frases espertas. O ambiente é de start-up. O estranho na cena é que nas cabeças há um festival de adereços. Um parece uma tiaraestilosa. O outro se assemelha a um capacete de ciclista.

O terceiro você juraria que é um kit de atendente de telemarketing, só que a haste do microfone parou no meio da testa do sujeito. Não há ninguém de avental ou máscara, e o ambiente está bem longe de um esterilizado laboratório. Mas é um lugar de pesquisa e experimentos cerebrais, onde luzes e carrinhos funcionam com o poder da mente (ou dos eletrodos).

Nos dois últimos anos, as comunidades de neurohackers surgiram nos Estados Unidos e Europa e já se espalharam pelo globo, misturando a mentalidade “faça você mesmo” (ou DIY, sigla pra “do it yourself”) com o modelo de desenvolvimento de código aberto.

O evento “Hack The Brain” (Hackeie o Cérebro, em tradução literal), que acontece desde 2014 na Holanda, teve neste ano sua primeira versão brasileira no Museu do Amanhã, no Rio, onde houve um hackathon (maratona de programação) com quatro equipes interdisciplinares que trabalharam por três dias para criar usos da tecnologia.

“Não lemos o pensamento, mas, só de descobrir os padrões de ondas cerebrais, já conseguimos controlar aparelhos”
Connor Russomano, desenvolvedor de eletroencefalograma para neurohacking

 

No Hack The Brain 2015, em Amsterdã, o estímulo cerebral de um neurohacker de Montréal (Canadá) movimentou a mão de um colega que estava no evento, graças à tecnologia que transforma ondas físicas em comandos digitais. Outra comunidade em rede é a NeuroTechX, que reúne entusiastas em 14 cidades tão distintas como Nova York (EUA), Tel Aviv (Israel) e Lima (Peru).

As informações obtidas por todas essas associações podem ser armazenadas, consultadas e analisadas por qualquer um em plataformas como a Cloudbrain.

Até agora, o dispositivo que mais se sintoniza com essa onda é o Open BCI (sigla que pode ser traduzida como “interface aberta de cérebro e computador”).

O equipamento, que inclui capacete feito em impressora 3D, sensores e placas, segue as regras do código aberto. Uma vaquinha online fez a start-up novaiorquina de Joel Murphy e seu aluno Conor Russomanno começar a produção em 2014.

O curioso é que Murphy é um professor de arte (focado em tecnologia, claro) e trabalhou em pesquisa bancada pelo Darpa, o centro de pesquisa do exército norte-americano. Ou seja, o Pentágono, também conhecido como Departamento de Defesa dos Estados Unidos, está por trás da criação dessa tecnologia, como aconteceu antes na concepção da internet.

Fonte: UOL notícias

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