Desafios do homem moderno para encontrar a felicidade
Em 1996, final do século 20 Rojas, psiquiatra e estudioso sobre o comportamento humano já anunciava o desenvolvimento de uma geração: a do homem light, descrevendo o indivíduo realizado materialmente, porém vazio e sem substância, sem conteúdo e infeliz.
Vinte anos depois, esbarramos no produto desta geração, a qual cresceu com as conquistas tecnológicas e científicas, por outro lado, presenciou o avanço da outra face da tecnologia, criando indivíduos:
- Materialistas – que reconhecem o outro pelo dinheiro e status social;
- Hedonistas – que querem viver bem a qualquer custo, sendo o prazer o bem supremo, cujos fins justificam os meios. Este indivíduo não possui vínculos, vivendo para seu único e individual prazer.
- Permissivos – a substituição da moral pela ética permissiva, em que tudo é permitido, lícito e tolerado;
- Relativistas – pressuposto de que tudo é relativo. Não há mais certo ou errado, desde que os faça feliz, ainda que de forma êfemera. A verdade hoje perdeu seu valor e é fabricada conforme a necessidade;
- Consumistas – o consumo atualmente representa a fórmula da liberdade, da felicidade e da fuga dos problemas;
- Niilistas – pessimistas e céticos ao extremo com relação à existência e à vida. Negam assim, todo e qualquer princípio, seja político, religioso ou social.
O homem do século 21 possui bem-estar e prazer, porém está permanentemente descontente, buscando preencher seus vazios, mas sem saber como. Suas verdades são negociáveis, tudo é relativo, demonstrando assim o ser humano frágil, alheio ao que é valoroso, inconsciente, fraco e na maior parte do tempo, infeliz.
A permissividade está ligada com o niilismo e ao hedonismo na medida em que o homem moderno perdeu seus referenciais, é livre, porém não sabe aonde vai, não é bússola e sim vela. Nesse homem a paixão pelo nada é aflorada. Comprometer-se para esse homem é ato utópico, sem entender que somente quem é livre tem o poder de se comprometer, e desta forma o homem se torna escravo por sua paixão pelo subjetivo, querendo experimentar todas as sensações possíveis; com isso o homem moderno torna-se solitário e vazio.
Nesse aspecto subjetivismo e permissividade encontram-se entrelaçadas, já que seu ponto de vista é sua única norma de conduta, cujo objetivo é a perseguição do benefício imediato. Este binômio acaba desembocando no relativismo, em que o juízo de valor é particular e a verdade baseada em pensamentos e desejos individuais e esse, por conseguinte recai no ceticismo, mas ao contrário do relativismo que crê que a verdade muda constantemente, o ceticismo acredita que a verdade é algo inalcançável. Todos esses ingredientes constroem o homem atual, infeliz, pois a felicidade envolve a plenitude do homem, é o resultado e a combinação de vários aspectos e se caracteriza pela paz interior, prazer, serenidade, equilíbrio.
O novo ideal social é a máxima comodidade e a lei do menor esforço, o homem moderno possui muitas informações, entretanto não é capaz de sintetizá-las para seu amadurecimento pessoal. Modelos de conduta são induzidos pela moda e fabricados, valores são perdidos e desta forma pode-se explicar a falência dos relacionamentos atuais.
O homem hoje baseia sua vida no consumismo, nos modismos, espelha-se nos artistas e em toda a beleza vendida pela mídia, e ciente de que não poderá alcançar essa perfeição, torna-se triste, infeliz. Baseia sua vida no material, no capital, relegando seu espiritual, sua essência ao segundo plano e jamais consegue ser plenamente feliz e realizado, pois a felicidade não está nas prateleiras, é algo que se sente pelo preenchimento de outros aspectos da vida que vão muito além do que o dinheiro pode comprar. Aqui não se trata de dizer que o dinheiro não é necessário, mas de frisar que a escravidão pelo capital, é que é equivocada; não é o dinheiro em si, mas o culto a ele como se fosse o único motivo de existência. Por fim, encontramos a desilusão que é a maior característica do cansaço da vida, levando aos vícios, à depressão, ao suicídio.
Alguns aspectos importantes para que o homem retome seu caminho:
- Retomar os valores existenciais, ter um projeto onde haja a primazia do amor, do trabalho e da cultura e onde se recupere o humanismo.
- Importância da família unida e/ou amigos verdadeiros para esses processos de mudança.
- O homem deve resgatar seu ser espiritual, descobrir a beleza, a nobreza e a grandeza que existe no mundo.
- A felicidade só pode ser alcançada por meio de uma vida coerente e com argumentos. O ser humano precisa ter em mente que é insubstituível e é importante, e para isso precisa ter metas claras, projetos definidos, amadurecimento e equilíbrio psicológico.
Diante de tal perspectiva há a necessidade de: 1- reformular a vida, colocando certa ordem de valores e preferências; 2- renovar as ilusões perdidas, aprendendo a aproveitar a vida, prestando atenção nos detalhes e milagres diários; 3- e finalmente o imprescindível que é estabelecer um propósito firme para que objetivos sejam realizados.
São três fatores preponderantes na execução do projeto pessoal: a) Ordem – estabelecer prioridades; b) ter disciplina, constância, perseverança; e c) vontade -capacidade psicológica que se antecipa as consequências. Pois não se trata de agir por obrigação, mas por uma verdade e vontade genuínas.
A felicidade é subjetiva e algo que vai se encontrando ao longo do percurso e não ao fim da existência, já que não há felicidade definitiva. Deve vir atrelada ao amor e aos valores morais e não está ligada somente aos progressos materiais.
Eis o desafio do homem do século XXI. Entender que a felicidade está na simplicidade, é resultado de atitudes e de escolhas feitas ao longo da vida- muitas vezes sendo necessário mudar o caminho ao longo da viagem-, da postura ética, do reconhecimento da importância do outro nas relações, de buscar seu propósito, mas principalmente da equação de equilíbrio presente em todos esses aspectos.
Quem tiver interesse sobre este assunto, indico:
ROJAS, Enrique. Tradução: Wladir Dupont. O homem moderno: A luta contra o vazio.São Paulo: Mandarim, 1996.