Homem mais velho do mundo.
Com 256 anos de idade quebrou o silêncio antes de sua morte e revela segredos que chocam o mundo.
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Com 256 anos de idade quebrou o silêncio antes de sua morte e revela segredos que chocam o mundo.
Não é mais ficção. Não podemos mais ignorá-los. Já vivemos e damos passos largos a uma vida presente e futura retratada nas telas do cinema em filmes como Blade runner, Inteligência artificial, Eu, robô e Ex machina. Em Blade runner, que completou 35 anos, o diretor Ridley Scott mostra clones criados para trabalhos forçados ou desprezados, chamados de replicantes. Eles eram tão perfeitos que se passavam facilmente por humanos. Tão humanos, que acabaram por se rebelar. É o que nos espera no século 21? O ano da ficção científica era a Los Angeles de 2019!
O certo é que a interação entre humanos e robôs vai se tornar tão natural quanto a interação entre humanos. O que traz para o debate aspectos positivos e negativos, acertos e erros, lado bom e ruim. Se a robotização poderá fazer com que as tarefas do dia a dia sejam mais produtivas, mais intuitivas e muito mais fáceis para a pessoa que usa um robô, podem também causar isolamento, individualização, falta de interação, de contato, do toque e, talvez, perda do afeto nas relações humanas.
Pesquisa realizada pelo Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), maior organização profissional dedicada ao avanço da tecnologia em benefício da humanidade, analisa o impacto da inteligência artificial (IA) na geração Alpha, aqueles nascidos entre 2010 e 2025, com resultados surpreendentes. Foram entrevistados cerca de 600 pais e mães, com idades entre 20 e 36 anos, com pelo menos uma criança de até 7 anos, entre 13 e 15 de junho de 2017.
Entre tantos e ricos dados, chegou-se a conclusões como: a maioria dos pais de crianças dessa geração considera que um tutor de IA aumenta as expectativas de aprendizado mais rápido de seus filhos, além de preferir que o ser de IA os auxiliem na velhice. E em relação aos cuidados infantis, passando por assistência médica à adoção de animais de estimação (animais domésticos serem substituídos pelos animais de estimação de IA), os pais desse milênio veem todas as fases da vida de seus filhos envolvidas por tecnologia de inteligência artificial.
A geração em questão é considerada como a mais impactada pela tecnologia e a IA deve passar a fazer parte de todos os aspectos de suas vidas. Pela pesquisa do IEEE, os pais da geração Alpha ficam um pouco mais preocupados com a perspectiva de seus filhos dirigirem sozinhos (3%) do que a bordo de carros autônomos (25%). Entretanto, 45% dos pais ficam igualmente preocupados com ambos os cenários. Cerca de dois terços dos pais do milênio (63%) preferem ter tecnologias de IA ajudando-os a viver de forma independente na velhice, enquanto apenas 37% optam por confiar em seus próprios filhos, descobriu o estudo.
A IA está estimulando o surgimento de robôs de estimação que podem identificar, cumprimentar, obedecer e divertir a família. De acordo com a pesquisa, 48% dos entrevistados declaram que possivelmente trocariam um animal de estimação por um robô caso fosse esse o desejo dos filhos. As mães são mais receosas, 42% das mulheres contra 55% dos homens. Como a IA está dando vida a robôs que andam e falam, aproximando-os do comportamento humano, 40% dos pais da geração Alpha disseram que provavelmente substituiriam uma babá humana por um robô-babá, ou ao menos usariam o robô para ajudar nos cuidados com as crianças.
THE JETSONS
É como se fôssemos viver o desenho The Jetsons, moradores de Orbit City, produzido pela Hanna-Barbera entre 1962 e 1963, que retratava a “Era Espacial” e introduziu no imaginário das pessoas o que seria o futuro da humanidade: carros voadores, cidades suspensas, trabalho automatizado, todo tipo de aparelhos eletrodomésticos e de entretenimento, robôs como criados. Tudo cada vez mais real e, alguns, já presentes.
Para manter a geração Alpha entretida, aplicativos, telas interativas e dispositivos de inteligência artificial estão sendo usados pelos pais do milênio. E 64% deles alegam que IA e outras tecnologias lhes permitem mais tempo para fazer outras atividades, no entanto concordam que as tecnologias, incluindo IA, diminuíram o tempo de qualidade com seus filhos. E há aqueles (45%) que concordam que IA e outras tecnologias minimizam suas frustrações como pais. Para 80% dos pais entrevistados, a IA ajuda a geração Alpha a aprender mais rápido que eles. Atualmente, estão em desenvolvimento brinquedos “inteligentes” e aplicativos de IA que, no futuro, serão capazes de responder à linguagem humana e a comportamentos infantis específicos. Esses aparelhos terão a capacidade de monitorar em tempo real e aprimorar o aprendizado de vocabulário no futuro.
Tudo que é novo e inovador causa estranhamento, resistência e certo medo. Qual o freio? O avanço da tecnologia é livre? Até onde vai a linha que divide o bem do mal? E os riscos? Em Tempos modernos, de 1936, Charles Chaplin fez uma crítica mordaz à Revolução Industrial. O personagem Carlitos apertando parafusos repetidamente até ser engolido para dentro da engrenagem de uma máquina gigante se mostra mais atual e contemporâneo do que nunca. Mas, após 100 anos, a vingança será máquinas engolindo máquinas?
Ética para coibir má conduta
Lado positivo da tecnologia deve ser ressaltado, mas é preciso cuidado com a euforia exagerada e a substituição do afeto por pessoas pela interação só com robôs
A tecnologia é fascinante e, sem perceber, captura-nos num piscar de olhos. Resistentes ou não, dominados ou não, é impossível não se ver integrado à era digital. E a inteligência artificial (IA), que faz parte dos estudos da ciência da computação desenvolve numa velocidade assustadora e incrível ao mesmo tempo. Fazer com que os computadores pensem como seres humanos ou que sejam tão inteligentes quanto o homem pode parecer ficção, mas é real e já está presente no cotidiano de todas as pessoas no planeta.
Há vários ramos de estudo em sistemas inteligentes, cada um se dedicando a um aspecto específico do comportamento humano, o que coloca em xeque: ética x moral; aceitável x inaceitável ou mesmo o bem versus o mal. Não é questão de lado, mas de cuidado, discernimento e de evolução e avanço sem prejuízo à humanidade.
Edson Prestes, professor do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro sênior do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), alerta que “qualquer tecnologia tem o componente medo, logo não pode ser levada pela euforia. Por isso, é sempre interessante ter cuidado, olhar os dois lados. Sou fã da tecnologia, desde que levados em consideração os aspectos éticos e o lado negativo”.
o pensar em tecnologia sempre nos assusta a frieza, o distanciamento, a falta de privacidade. Por outro lado, se há riscos, há um lado bom. “Imagina em um ambiente hospitalar ou numa casa de idosos ter a presença de um robô cachorro? Quando lemos, estabelecemos com o personagem fictício das páginas do livro um afeto, o mesmo com objetos que guardamos. Esse tipo de afeto sempre existirá, por que não com uma máquina? O problema é que muitos olham para uma máquina como se fosse um liquidificador e conclui ser impossível estabelecer um vínculo emocional.”
“O robô pode ser uma companhia quando você não está em casa com seu filho. Mas ele deve substituir? Não!” – Edson Prestes
(foto: Arquivo Pessoal)
Edson explica que ocorre o chamado antropomorfizar, ou seja, dar forma ou características humanas a algo que não é humano. Os homens tendem a antropomorfizar seus cães, o trato com o carro, as crianças têm dificuldade de diferenciar o que é ou não real, não fazem diferenciação… “Então, criar elos com o robô vai existir. É algo interessante? Se pensarmos em pessoas vulneráveis, idosos e crianças sejam sem convívio social, tímidas e com problema emocional, a máquina pode ser uma ferramenta. Por outro lado, se levarmos para o lado da euforia e a interação só ocorrer com o robô, que será quase um ser perfeito, é ruim.”
Por isso, alerta o professor, é fundamental pensar nos aspectos e elementos negativos. “É preciso saber lidar com isso. Ter cuidado e pessoas que pensem a respeito e alertem como forma de prevenção. O robô pode ser uma companhia quando você não está em casa com seu filho. Mas ele deve substituir? Não! Há estudos psicológicos com idosos mostrando que essa população precisa de contato diário com pessoas para ter a capacidade cognitiva preservada. O mesmo com crianças, elas não podem ser envolvidas 100% com robôs. Nenhuma máquina tem a riqueza que o ser humano pode prover”, afirma.
EDUCAÇÃO
Edson Prestes faz parte de uma iniciativa mundial preocupada com os aspectos éticos da IA, The global initiative for ethical considerations in the design of autonomous systems, um grupo “proativo, que surgiu há um ano, atento e que, sabendo que o robô e o ser humano vão coexistir, o que é inevitável, o que isso pode acarretar? Questões de segurança, emocionais e como saber guiar os sistemas para serem feitos no futuro. A criança pode interagir com o robô, mas uma hora o próprio robô pode enviar mensagem para o pai dizendo que ele tem de ver o filho e alertá-lo que ele faz uma diferença brutal nesse contato. Temos de promover essa consciência para as pessoas se prepararem para o futuro, sabendo o que isso pode acarretar”.
O professor destaca que “vejo a tecnologia do ponto de vista positivo, mas não ponho panos quentes nos problemas porque o usuário final vai sofrer e porque eles levam a soluções”. Para minimizá-los, Edson Prestes cobra mais investimento em educação, “o que não é de interesse do governo para não perder a massa de manobra”. Ele afirma que “somos um dos povos mais criativos do mundo, e olha que trabalho com pessoas de várias nacionalidades, de todos os continentes na verdade, mas infelizmente nós não somos olhados com a lente correta e isso mata nossa capacidade criativa. A ciência só se desenvolve pela criatividade e não só pelo conhecimento. O Brasil tem potencial para crescer mais na área de robótica, não o faz por falta de investimento. Nossos pesquisadores são subestimados e subutilizados”.
Constante conflito
Avanço da tecnologia levanta questões éticas que precisam ser melhor debatidas para evitar que o comportamento social seja influenciado e as relações humanas desestruturadas
“As evidências pré-históricas nos sugerem que o desenvolvimento humano está associado ao domínio da natureza pelos humanos por meio da tecnologia”, afirma o doutor em sociologia e professor da PUC Minas Juracy Costa Amaral. Consequentemente, enfatiza o docente, essa condição produz inúmeras possibilidades de comportamentos, seja individual ou coletivo. “A modernidade, emoldurada pela ciência, acelerou esse processo e nos coloca diante de questões éticas que necessitam ser melhor esclarecidas para que as ações humanas não produzam consequências perigosas para as condições originais da humanidade.”
Para Juracy Costa Amaral, a troca de características humanas por máquinas robóticas para substituir afeto, paixão e até mesmo o amor, importante na atração sexual reprodutiva, pode trazer consequências para o comportamento sexual, como já pode ser constatado entre a população japonesa, em que bonecos estão substituindo os parceiros sexuais.
Juracy Costa Amaral (foto: Arquivo Pessoal)
“A insegurança e as dificuldades de relacionamento entre os seres vivos podem ser a causa dessas práticas, já que as máquinas são passíveis e controláveis, enquanto as relações entre humanos implicam conflitos de interesses, fato que afastam muitos de se relacionarem, principalmente jovens que vivem em sociedades de controle rígido. A praticidade, a insegurança afetiva dos indivíduos que vivem nas metrópoles, o individualismo que se desenvolve com a civilização moderna e a confiabilidade nos ‘robôs humanos’ são elementos determinantes dessa procura por máquinas para ‘substituir’ o objeto humano da relação.”
Juracy Costa Amaral aponta outra questão que envolve a robotização e a inteligência artificial, que é a educação dos filhos, que também está relacionada às dificuldades de convivência entre os humanos. “O fascínio pelas máquinas e a confiabilidade nos programas criados para exercer inúmeras funções que facilitam o processo de informação abrem perspectivas para ocupar o lugar dos educadores humanos, mas é discutível, pois educar não pode ser confundido com treinar. E penso que os robôs ainda não são suficientemente capazes para tal função, que requer características humanas insubstituíveis, especialmente as vinculadas à cultura. Porém, o processo cultural, que imprime os traços de identidade dos humanos, pode ser alterado e produzir consequências já tratadas pela ficção, que seriam imprevisíveis, mas, certamente, caracterizaria outra ‘humanidade’.”
Nessa perspectiva, o professor de sociologia acredita que as gerações se sucederiam aprendendo a conviver com esses elementos artificiais. “O envelhecer passa a ser também um processo de adaptação, talvez para a geração de idosos atual seja mais complicado, mas os jovens que virão a ser as gerações de adultos e idosos do futuro, que em certa medida já experimentam essa ‘substituição’ humana, não terão tantas dificuldades para isso”, afirma.
DOMINAR A NATUREZA
A discussão aqui não é ser contra ou a favor dos avanços da tecnologia. Mas avaliar os benefícios e os riscos. “Penso que esses inventos trazem inúmeros benefícios e fazem parte da natureza humana inventar e dominar a natureza das coisas, consequentemente, sobrepor-se a si mesmo. Como pode ser verificado nos procedimentos médicos, que criam e substituem órgãos fazendo a vida se prolongar acima do limite da própria natureza. A questão é saber qual princípio ético seguir. Como problema maior, aponto a poluição, principalmente a do lixo causado pela nanotecnologia, cujas partículas podem ser inaladas ou absorvidas pelos organismos dos seres vivos e não se sabe qual efeito isso trará para os viventes do futuro”, alerta o professor da PUC Minas.
Juracy Costa Amaral afirma que o comportamento social refletirá todas essas alterações e crê não ser problemático. “O comportamento individual sofre desde que se inicia o processo civilizador, pois sempre estamos em conflitos com nós mesmos. De um lado o instinto, do outro o desejo insaciável. Porém, a civilização nos freia e nos impede de realizar os desejos e fantasias para garantir a sobrevivência em sociedade, que evolutivamente é mais vantajosa que a realização individual. Assim penso.”
Fica a dica
Leitura obrigatória sobre esse tema é o livro, que também é uma palestra do TED, Alone together: why we expect more from technology and less from each other, da socióloga norte-americana Sherry Turkle (foto). Professora do Massachusetts Institute of Technology (MIT), ela analisa o novo relacionamento do ser humano com os gadgets e as consequências. A autora mostra preocupação com a maneira como a tecnologia está mudando a forma como as pessoas se relacionam umas com as outras e constroem suas vidas internas. Ela também discute sobre os robôs sociais. O que mais intriga Sherry é como as pessoas se deixam encantar e se envolver por eles. Mesmo os modelos mais simplórios, cuja capacidade se restringe a reformular frases ou mesmo aqueles criados para fazer companhia a crianças e idosos. “Esperamos mais da tecnologia e menos do outro.”
Exemplos de robôs com os perfis citados na pesquisa:
1) Robô para terapia do autismo
2) Paro: robô promete ajudar idosos com demência;
3) Kirobo: robô inteligente, que reconhece as emoções e as expressões faciais interagindo com os seres humanos
4) Yotaro: robô bebê que estimula as pessoas a cuidar dos filhos
5) Golden Pup: cachorro robô
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Cláudia Prates – psicóloga e psicoterapeuta de família
» Gigantes de pés pequenos
“A humanidade desenvolveu a capacidade (e necessidade) de contato e poder inicialmente por meio da força: era a época do selvagem. Seguiu-se a ela a era da Astrícia, onde o desvio do uso da inteligência deu origem à corrupção. Houve o aparecimento da automação, que sinalizou a ‘aposentadoria’ da presença mecânica do homem que perde movimento físico e aumenta o movimento cerebral. Previa-se a era do sentimento, que, geminado com a inteligência, poderia criar um mundo novo, moderno e fértil de relações. A parceria harmoniosa de cérebro e coração produz a inspiração, precursora da criatividade. Daí poderiam sair fartos e fundamentais inventos. O que se percebe é o enfraquecimento do uso prático e natural do sentimento e o desvio da inteligência original em favor da artificial. A criação de comunidades estereotipadas, mecanizadas, destituídas de relações artesanais poderia transformar a humanidade em massa produtiva, sem história. Partindo do princípio elementar que reza que a vida humana, a saúde e o bem-estar necessitam de calor e contato, supõe-se que a era da inteligência artificial poderá criar gênios monstruosos com baixa potência e resistência emocional, gigantes de pés pequenos. O contato, o olhar, o toque, o calor do amor (ou mesmo da ira) fecundam as relações. O risco é de desaparecimento, cada vez mais comum, de relações de conveniência e interesse, em que o foco são aumento de produtividade e tecnologia. Fatalmente, haverá pane nos sistemas imunológicos que se alimentam de amor, razão de cura e de adoecimento de todas as civilizações.”
» Keepon: criado como um instrumento de terapia para tratar crianças autistas pelos doutores Hideki Kozima (Sendai, Japão) e Marek Michalowski (São Francisco, EUA) para estudar o desenvolvimento social e coordenação interpessoal das crianças. Para isso, eles precisavam de um equipamento robótico cuja filosofia orbitasse ao redor de conceitos como beleza, simpatia, personalidade, simplicidade e interação rítmica.
» Jibo: criação da Acer, é um robô que serve como assistente doméstico em vários momentos da sua rotina. Ele é capaz de tirar fotos, ditar receitas, falar a previsão do tempo, comandar outros eletrônicos da casa (de TVs a sensores ligados via Internet das Coisas) e mais – tudo isso recebendo comandos de voz.
» Hub: modelo da LG, também é um assistente doméstico. Além de funcionar como os já populares assistentes de voz, interagindo com os moradores e com outros eletrodomésticos da casa, como fogão, geladeira e ar-condicionado, chama a atenção por apresentar um design atraente. Ele consegue “encarar” quem está falando com ele, reconhecer diferentes rostos e fazer pequenos movimentos como responder “sim” se inclinando para a frente ou se movimentar para os lados no ritmo da música que ele estiver tocando, além da habilidade de informar sobre o clima.
» Kuri: é um robô caseiro adorável. Desenvolvido pela Mayfield Robotics – uma startup financiada pela Bosch -, o que o diferencia de outras iniciativas semelhantes é o fato de que seus desenvolvedores queriam dar a ele uma personalidade marcante, o que reflete tanto na presença de “olhos” expressivos quanto na maneira que o dispositivo responde aos seus comandos. Além disso, o dispositivo tem pequenas rodas que o ajudam a se movimentar por diferentes ambientes. O robô responde tanto a comandos de voz quanto a toques, sendo capaz de controlar dispositivos da Internet das Coisas e retornar automaticamente à sua base de recarga quando sua bateria está acabando. Agindo como um verdadeiro “membro da família”, ele é capaz de reconhecer os rostos de diferentes pessoas e enviar mensagens de texto automáticas quando alguém chega em casa.
» Mykie: modelo da Bosch, é um assistente digital de cozinha que entende comandos de voz e pode projetar vídeos de receita em uma parede.
Bolha de identidade
Os pontos de vista são muitos, mas sempre se encontram como sendo inevitável a vida humana invadida pela inteligência artificial. A saída é usá-la em seu benefício
Como a inteligência artificial (IA) pode afetar as relações humanas? Antes de mais nada, Júlia Ramalho Pinto, psicóloga, coach, administradora e sócia-diretora da Estação do Saber, diz que é importante deixar claro que a IA é um sistema que funciona baseado em algorítimos e que emulam a inteligência e fazem escolhas. Um exemplo: quando você curte um post no Facebook, o sistema artificial do Facebook o ajuda a ver outras coisas iguais àquelas que você curtiu. Quanto mais você usa esses sistemas mais ele aprende do que você gosta e qual é seu perfil. Então, esses sistemas aprendem sobre você e buscam mostrar o que você gosta e quer saber.
Júlia Ramalho Pinto explica que a realidade se baseia em nossa percepção. Isto é, na capacidade de organizar e processar impressões sensoriais e dar finalidade e sentido ao ambiente. “Se a nossa percepção é alterada pelo nosso foco, a IA molda o que estamos vendo de forma aleatória e nos mostra mais do mesmo, ela altera nossa percepção. Logo, nossa realidade.”
Para Júlia, as relações são desafios para nós humanos, é nossa capacidade de lidar com o outro, diferente de nós. “Com sistemas inteligentes que escolhem o que nos mostrar e onde devemos manter nosso foco, eles acabam nos ajudando a ver mais do mesmo. Nesse sentido, esses sistemas podem estar nos tornando mais intolerantes em nossas relações, nos mantendo numa bolha de identidade em que eu apenas relaciono, compro, escuto música, vejo filme e notícias do que for ao encontro do que quero, ou seja, que esteja de acordo com os padrões do que compartilho. Se esses sistemas artificiais já estão entre nós, eles afetam nossas relações ao nos dizer quem e o que devemos ver. Ao formarem para nós uma moldura de um mundo criado por eles e que reforça tudo o que queremos ver.”
APAIXONANTE
Júlia Ramalho Pinto afirma que, no limite, muitos gostariam que o mundo fosse feito apenas de nós mesmos, sem diversidade e apenas compreensão. “O sistema de inteligência artificial pode emular isso para nós. No filme Ela, Theodore é o personagem que se apaixona pelo seu sistema. E como não se apaixonar por um sistema que sabe tudo sobre você e que sempre está ali disponível? Que relação é feita assim? Que relação é tão completa e sem equívocos? Esse é um grande risco, que a gente passe a acreditar que á vida não é feita da arte de lidar com o diferente, mas sim da fantasia de encontrar o que é semelhante.
“Tenderemos a fantasiar que a vida possa ser sem desencontros e nos fecharemos” – Júlia Ramalho, psicóloga
(foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)
Nessa vida controlada pelas máquinas, sem equívocos, e moldada de nossos semelhantes, tenderemos a fantasiar, cada vez mais, que a vida possa ser sem desencontros e nos fecharemos cada vez mais. Em outras palavras, seremos cada vez mais intolerantes um com o outro.”
Na rede
Quer saber como funcionam os robôs falados nessa matéria? Acesse os links dos vídeos abaixos:
1) https://www.youtube.com/watch?v=nPdP1jBfxzo
2) https://www.youtube.com/watch?v=UeAgX8NRpc4
3) https://www.youtube.com/watch?v=-3NYBpYRC-s
4) https://www.youtube.com/watch?v=Gvle_O4vD18
5) https://www.youtube.com/watch?v=kFsUBK4aqZ0
6) https://www.youtube.com/watch?v=9jYKUVP49Po
7) https://www.youtube.com/watch?v=4oJAJdMZIIQ
8) https://www.youtube.com/watch?v=tcfdI5MCja8
Robô detecta emoção
Pesquisadores espanhóis e portugueses desenvolveram um protótipo de robô capaz de detectar o estado emocional das pessoas com as quais interage, o que enriquece seu conhecimento e melhora sua capacidade de interação com os humanos. “Se o robô tem como objetivo manter um grupo de crianças entretido, a partir do estado emocional do grupo ele pode decidir agir de forma específica sobre aqueles jovens que emocionalmente se encontram mais afastados do grupo e, dessa forma, tentar homogeneizar o estado emocional do conjunto”, explicou Vicente Julián, do Grupo de Tecnologia em Informática e Inteligência Artificial da Universidade Politécnica de Valência, no leste da Espanha. Esse trabalho faz parte de um projeto internacional sobre a interação dos robôs com humanos, no qual a equipe focou na identificação de emoções e em sua interpretação por sistemas informáticos. “O resultado da monitorização de emoções é utilizado de maneira inovadora, com a qual se pretende identificar um ou vários estados emocionais de um grupo de pessoas e como esses estados se propagam ao longo do tempo. O robô interpreta alterações emocionais e as utilizam para tomar decisões”, explicou Julián. Os resultados do projeto podem ser aplicados no campo da robótica dedicada a meios assistenciais, comerciais ou à educação. O estudo também tem a participação de especialistas da Universidade do Minho de Portugal.
Trocado por uma máquina
Não é ficção. Muito menos futurologia. A robotização e a inteligência artificial são uma realidade e só tendem a evoluir. E não é questão de escolha. No entanto, pensando nas relações humanas diante das máquinas, como se darão? Para Edson Moraes, coaching, consultor de empresas, jornalista e administrador de formação, que atuou anos na área de tecnologia como programador e decidiu dar uma reviravolta na carreira para trabalhar com pessoas, a questão da robotização dos processos tem de ser abordada por duas vertentes: primeiro, porque os processos estão definidos e, segundo, tem a ver com aspectos de qualidade de dados que já passam para o robô experiência que gera e faz a robotização ficar melhor. Não tem volta. Até porque, “no geral, para a robotização ser efetiva é passar inteligência para a máquina e conseguir que ela seja multiplicada e aplicada de várias formas. Hoje, falamos com o Siri (assistente pessoal) no computador. Portanto, tudo é questão de tempo. E o Siri terá ainda mais qualidade em função da informação.”
No entanto, para Edson Moraes, o ponto nevrálgico de toda a questão da inteligência artificial está em ensinar o computador a pensar. “Você gera um computador com muita inteligência, mas não consegue transmitir nossa característica humana. Ele é inteligente, mas não tem sabedoria. Por mais que o computador se exercite, ele não trabalha o qualitativo, só o quantitativo. Numa ação jurídica, ele pode ser preciso na peça do processo, mas jamais terá a postura do juiz, que avaliará até a postura corporal de um investigado, os aspectos comportamentais. Sabedoria não é inteligência e informação, mas também compaixão. É você se colocar no lugar do outro, olhar a vida sob a perspectiva do outro”, afirma.
Para Edson Moraes, robô pode até ser divertido. “A inteligência artificial se baseia na rede neural, na correlação de dados baseado em modelo matemático. Tudo bem passar capacidade de processamento para o computador. A inteligência artificial e a robotização são úteis para inúmeras coisas, mas certamente vão gerar um problema social para quem não estiver preparado para enfrentá-los. E não só academicamente. Atividades profissionais rotineiras vão desaparecer, como motorista e garçom. O que pode criar um abismo de classe ainda maior do que temos, o que provoca uma discussão ética.”
Um exemplo, conta Edson Moraes, foi a pesquisa encomendada pelo governo britânico para o grupo Fast Future: The shape of jobs to come (A forma dos trabalhos que virão, em tradução livre). O intuito era descobrir as profissões que mais se destacariam nas próximas duas décadas. Entre elas estavam: consultor de bem-estar para idosos; agricultor vertical; nanomédico e especialista em reversão de mudanças climáticas. Vale destacar que outras pesquisas apontaram duas novas ocupações que muitos nem sequer imaginariam: terapeuta de final de vida e conselheiro de robô. Também no Reino Unido, pesquisadores da Universidade Oxford responderam à questão ao contrário, ou seja, quais empregos estavam com seus dias contados. O estudo analisou 702 ocupações e fez a estimativa das chances de essas funções serem automatizadas nos próximos 20 anos. Segundo eles, a profissão que mais corre riscos de ser extinta (99%) é a de operador de telemarketing. Enquanto isso, a pesquisa mostrou que a tarefa que um robô jamais faria bem é a do assistente social na área de drogas e saúde mental.
CHINA
Enquanto isso, na China, por exemplo, já há fábricas que trocaram 90% de seu quadro de funcionários por robôs. Na lista das funções que desaparecerão estão também: preparador de Imposto de Renda, reparador de relógios, corretor de seguros, agente de crédito, árbitro, trabalhadores rurais, operador de caixa, corretor de imóveis, digitador de dados, cartógrafo, arquivista, bibliotecário, estatístico, escrivão, garçom, taxista, carteiro, costureira, recepcionista, cozinheiro de fast food e vendedores porta a porta, entre outras.
Portanto, é fundamental que passemos a pensar o que poderá ocorrer quando robôs passarem a conviver mais intimamente com humanos. “Saí da área da tecnologia porque prefiro lidar com gente e não com máquina, já que ela não tem essa relação de entender o outro, não tem todos os sentidos. No entanto, não acredito em afirmações tão fortes de homem versus máquina. Existe espaço para os dois. Não é um discurso maniqueísta, a tecnologia é para soma. Um idoso pode ter um robô que o auxilie no dia a dia para lembrar tarefas como tomar o remédio na hora certa, o que não substituirá o cuidador de idoso. Não é lutar contra, mas saber usar. É outra forma de existência e tem espaço para ambos. É como teatro e cinema, vídeo e cinema, rádio e TV, livro on-line e de papel…”
Seus ossos vão virar areia e, sobre essa areia, um novo deus andará.” A frase é da robô Dolores, personagem da série de ficção científica Westworld.
A realidade pode não ser tão ruim assim – mas certamente um muro, uma fronteira ou um novo esquema de permissão de trabalho não serão capazes de detê-los: a ascensão dos robôs pode ser o grande acontecimento de 2017.
É bem verdade que desde a quebra do primeiro tear pelos ludistas, no auge da Revolução Industrial, em protesto contra a industrialização e as novas tecnologias, a mecanização vem tirando o trabalho das pessoas.
Mas o processo está caminhando cada vez mais rápido, acelerando o tempo todo. E a próxima onda pode arrebentar logo – e perto de você.
Temos hoje uma grande diversidade de novas tecnologias aplicadas à robótica avançada e à criação de computadores mais rápidos, melhores e mais brilhantes.
Ainda não se trata da chamada “inteligência geral”, que vai conseguir atingir objetivos complexos em ambientes tão complexos quanto com poucos recursos computacionais e que pode levar ao enigma ético (e até agora fictício) sobre a consciência das máquinas.
Mas equipamentos cada vez mais elaboradas estão realizando mais e mais trabalhos que antes exigiam o cérebro humano e substituindo também a força física.
Impressoras 3D eliminaram vagas de emprego na manufatura. Carros sem motoristas estão bem próximos de virar realidade, assim como os caminhões que não exigirão ninguém atrás do volante – o que não deixa de ser um pouco assustador se pensarmos que o motorista de caminhão é um dos trabalhos mais comuns em muitas partes do mundo, por exemplo.
Uma pesquisa recente da Universidade de Oxford, no Reino Unido, sugere que cerca de metade dos postos de trabalho existentes hoje nos EUA serão automatizados até 2033.
Datilógrafos e escriturários já foram extintos há algum tempo. Os próximos podem ser pessoas com boa formação que trabalham em Marketing, Medicina, Direito e, sim, até no Jornalismo.
E lembrem-se dos bancários. Em um artigo recente publicado pela agência Bloomberg, o presidente do banco State Street, de Boston, Michael Rogers, afirmou que atualmente emprega cerca de 30 mil pessoas, mas acredita que até 2020 uma em cada cinco delas será substituída por um algoritmo.
O escolhido de Donald Trump para assumir o Ministério do Trabalho, Andrew Puzder, presidente de uma empresa que controla redes de lanchonetes nos EUA, está feliz em ter menos funcionários e é adepto dos serviços automatizados de atendimento ao consumidor.
“Eles são educados, sempre fazem vendas melhores, nunca tiram férias, chegam atrasados ou ficam doentes e nunca cometem discriminação por idade, sexo ou raça.”
Se você acha que já leu essas previsões todas antes, está certo. Especialistas vêm falando há alguns anos sobre a quarta ou quinta revolução industrial, a terceira onda da globalização e a tecnologia disruptiva. Mas então por que desta vez é diferente? Por conta do contexto político – a questão é essa.
O que deve significar esse novo impulso econômico, chegando aos bastidores da revolta do Cinturão da Ferrugem, região industrial americana que impulsionou a vitória de Trump e um polo dos esquecidos?
Você deve ter percebido que 2016 foi um ano e tanto nos Estados Unidos. E tudo leva a crer que o clima deve continuar intenso em 2017 na Europa, com as eleições na Alemanha, França, Holanda e, provavelmente, Itália. Joe Biden diz que a classe política não tem respostas para a automatização do trabalho
Muitos veem isso como nada menos que um aumento dos desprivilegiados. Se há temas recorrentes, alguns deles são sobre nacionalismo e identidade. Mas também os deslocamentos econômicos e o crescente sentimento de desigualdade.
O professor Richard Baldwin, economista do renomado Instituto Graduate, de Genebra, afirma que isso deve piorar.
Segundo as previsões dele, “alguns quartos de hotéis em Londres poderão ser limpos por pessoas conduzindo robôs diretamente do Quênia ou de Buenos Aires e de outros lugares por menos de um décimo do preço praticado na Europa”.
E ele tem uma visão simples sobre a reação política das pessoas a este cenário: “Elas vão ficar com raiva”.
Alguns políticos reconheceram que 2016 marcou o início dessa raiva. O problema é que, entre paredes e barreiras comerciais, eles têm poucas opções para lidar com o aumento da desigualdade. E o mesmo acontece entre pensadores e legisladores.
O ex-consultor de economia do vice-presidente dos Estados Unidos Joe Biden escreveu recentemente: “Para sermos honestos, precisamos admitir que nenhum dos lados – democratas ou republicanos – tem um plano robusto e convincente para recuperar os postos de trabalho em comunidades que perderam muito da base manufatureira”.
E admite: “Eu mesmo estudei esse problema durante vários anos e não cheguei nem perto de uma resposta”.
A economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, defende o uso de políticas para impulsionar as pessoas a novas vagas de emprego. Mas, para isso, as vagas precisam existir. E nada garante que elas existirão.
Há décadas se fala sobre a importância das habilidades e da formação – e não parece que a indústria britânica seja tão bem sucedida ou dinâmica nesses quesitos. Ao contrário: está aquém das mais básicas e óbvias habilidades, dos pedreiros à tecnologia da informação.
Vamos considerar um cenário: o Reino Unido está com déficit de clínicos gerais, e muitos médicos em hospitais são estrangeiros. Apesar disso, há uma grande competição para se tornar médico – somente os alunos mais brilhantes e aplicados, com as melhores notas, têm alguma chance. A conta não fecha.
Mas talvez seja hora de ser otimista. Algumas soluções são bastante exóticas: uma das que mais me chamou atenção é o movimento conhecido como FALC (Fully Automated Luxury or Leisure Communism ou “comunismo de luxo e lazer totalmente automatizado”).
O argumento básico dos apoiadores desse movimento é que tudo o que precisamos logo vai ser tão barato que nós poderemos ter muito – isso, claro, se os atuais proprietários não ficarem com o lucro só para eles.
Alguns pensadores da esquerda são muito mais pessimistas e alertam que essas tendências podem terminar com uma guerra entre os pobres – o extermínio dos trabalhadores, literalmente.
“Robô” – termo usado pela primeira vez por um autor de ficção científica – é apenas a palavra tcheca para “servo”. Com a lógica do FALC, todos nós seríamos donos do fruto do trabalho dos robôs, como proprietários de escravos sem culpa. Algo como “o dinheiro é pobreza”. As sociedades pós-escassez não precisam disso.
Mas tudo isso depende de quem serão os proprietários dos robôs. Isso também poderia significar uma revolução na forma como nós encaramos o trabalho.
Uma versão menos radical de tudo isso poderia ser o salário dos cidadãos, uma renda básica universal. Isso significa que todos receberiam essa quantia mínima, estejam trabalhando ou não.
Em uma entrevista recente à revista “Wired”, o presidente Barack Obama já disse que a discussão sobre a renda universal básica é inevitável nos próximos anos.
Mas isso vai na contramão do espírito da época. A raiva dos eleitores com as circunstâncias econômicas está frequentemente atrelada com a reclamação de que a elite está paparicando aqueles que não fazem por merecer, sejam os beneficiários domésticos ou os trabalhadores imigrantes.
Claramente um projeto para aumentar drasticamente os benefícios sociais a todos e sem distinção – dos bilionários fúteis aos trabalhadores da base da pirâmide – pode não conquistar tanto apelo político da população.
E também não há nenhuma certeza de que uma vida mais “básica” seria mais satisfatória, enobrecedora ou menos dividida e desigual que a vida com benefícios do governo como o seguro-desemprego. Parece que não há soluções fáceis ou óbvias nem para a revolta do Cinturão de Ferrugem nem para a ascensão dos robôs.
Mas uma boa resolução de Ano Novo pode ser uma promessa de procurar por soluções, sejam elas cinzentas, otimistas, pessimistas, estranhas, manjadas ou otimistas.
Demorou tempo demais para que os políticos acordassem para o fato de que o fim da velha era industrial teria consequências graves para todos. Melhor que não leve o mesmo tempo para pensar em um futuro que está ali, dobrando a esquina.
Sinais sutis e indiretos podem indicar grande sofrimento. Fique sempre atento aos desenhos, encenações e variados comportamentos e formas de expressão. A criança muitas vezes não verbaliza os seus problemas, mas sempre os revela.
Depressão
A depressão é doença frequente também em crianças. Estatísticas americanas apontam para uma frequência de 0,9% em pré-escolares, 1,9% em escolares e 4,7% em adolescentes.
Existe forte predisposição familiar, havendo um padrão de herança provavelmente do tipo poligênico, multifatorial.
As manifestações podem ser tão diversas, que é preciso muita sensibilidade na observação da criança. Esta pode mostrar-se triste, chorona, desinteressada, ou agressiva, arredia, irritada, intolerante. Pode também causar a impressão de deficiência intelectual, pois a depressão pode causar dificuldade de concentração, memorização, lentificação das reações e atraso no desenvolvimento neuro psicomotor.
Outra possibilidade é a de a depressão se mostrar apenas através de queixas físicas: dores de cabeça, de barriga, insônia, perda de apetite, etc.
Na adolescência pode haver abuso de álcool ou outras drogas, devido a uma tentativa da criança de se automedicar, buscando uma saída, mesmo que temporária, desde estado insuportável de desesperança e angústia.
Para o diagnóstico a criança deve apresentar, pelo menos, cinco dos seguintes sintomas, por um período de, pelo menos, duas semanas:
O tratamento deve ser instituído por um profissional, que então optará por um acompanhamento psicoterápico, com um trabalho também com a família. Casos mais acentuados tornam o uso de medicação necessário.
Violação das mulheres sabinas: concepção de guerra de Picasso centrada no sofrimento das vítimas, em particular das mulheres e crianças. Ele simplifica as pinturas para se concentrar na brutalidade da morte pela espada. Os soldados, suas armas e seus cavalos são ampliados e são dados proeminência como uma representação simbólica do poder dos exércitos do estado sobre indivíduos. Os passos dos soldados no peito de uma criança e a angústia da mãe são mostrados através da deformidade de suas poses desamparadas.
Transtornos de ansiedade
Transtorno de ansiedade de separação: consiste no transtorno de ansiedade mais comum na infância, presente em cerca de 3 a 4% das crianças em idade escolar. Ocorrem angústia e ansiedade extremas quando a criança imagina, ou se vê em uma situação na qual possa haver a sua separação da pessoa que a cuida (geralmente a mãe, ou quem faça o papel de mãe), ou de pessoas muito queridas. Há preocupações excessivas de que um evento possa ocorrer e levar à separação. A criança fica imaginando situações, nas quais a mãe possa morrer, ir embora, fugir, ser roubada, etc. Uma consequência pode ser a relutância em ir à escola. Interessante é que este medo pode se manifestar através de queixas somáticas, como dor de cabeça, dor de barriga, pesadelos, entre outros.
Transtorno de Ansiedade Generalizada: a criança mostra uma preocupação excessiva em relação ao futuro, ao desempenho, à competência, à aprovação e opinião de outros. São crianças tensas, incapazes de relaxar e, frequentemente têm queixas somáticas.
Mesmo fora de fins de pesquisa – para os quais , de fato, foi desenvolvida -, a escala abaixo apresenta questões que podem guiar o profissional na suspeita de ansiedade na criança e na indicação de um aprofundamento diagnóstico
ESCALA TRAÇO-ANSIEDADE INFANTIL (mais que 41 pontos indica ansiedade)
Nome:________________________Sexo:______________Idade:_____Data:________
Vocês encontrarão aqui indicações, descrevendo os comportamentos infantis ou seus problemas. Leiam atentamente as indicações e escolham o grau de sofrimento da criança em relação ao problema apresentado. Indique:
0: ausente; 1: raramente; 2: frequentemente; 3: sempre.
FONTE: Francisco B. Assumpção Jr. Cristiane Renate Resch Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal – Vol 1 0 0 Nº 0 1 ; Jan/Fev/Mar 2 0 0 6
Fobia Social: a criança apresenta uma timidez excessiva, uma grande inibição, em diferentes situações sociais: falar ou comer em público. Ela teme ser tida como estúpida ou ridícula. Também aqui podem ocorrer sintomas físicos extremamente desagradáveis, como, tremor, dor de barriga, náusea, vômitos, falta de ar, aperto na garganta, calor ascendente, palpitação, etc.
Transtorno de pânico: caracteriza-se por ataques imprevisíveis e inesperados de grande medo, sufocação, sensação de perigo morte, palpitação, dentre outros sintomas, com duração média de 15 minutos a meia hora.
Fobias Específicas: neste caso a sensação de medo e ansiedade é desencadeada pelo contato com um fator específico, como exposição à altura, lugares fechados, animais, etc.
Fobia Social: Uma criança com fobia social sente um excesso de ansiedade quando está numa situação em que se vê exposta à observação de outras pessoas. Exemplos são falar, ou ler em voz alta em sala de aula, comer na presença de outras crianças, ir a festas, escrever no quadro negro, usar banheiros públicos, falar com professores ou orientadores e mesmo brincar com outras crianças. Nessas situações relatam sentir calafrios, palpitações e enjôos, sentir o rosto ficar “vermelho”, suar frio, etc. Seu sofrimento é tão intenso a ponto de impedir a realização de tais atividades, pois existe o medo de que os outros percebam sua ansiedade, o que tornaria a situação ainda mais humilhante ou embaraçosa para si.
Pelas próprias características deste transtorno, os pequenos não se queixam do problema e preferem se esconder e se isolar do convívio social. Assim, a criança não tem coragem de tirar dúvidas com a professora, ler em voz alta, ou mesmo conversar e brincar com os seus colegas.
Sinais sutis e indiretos podem indicar grande sofrimento. Fique sempre atento aos desenhos, encenações e variados comportamentos e formas de expressão. A criança muitas vezes não verbaliza os seus problemas, mas sempre os revela.