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Ligação de neurônios no cérebro pode chegar até 11 dimensões

Ligação de neurônios no cérebro pode chegar até 11 dimensões

REPRODUÇÃO DAS ESTRUTURAS CEREBRAIS (FOTO: PIXABAY)

Cientistas suíços conseguiram obter uma das mais complexas visões do neocórtex cerebral. O grupo utilizou a técnica matemática da topologia algébrica para conseguir mapear as dimensões do órgão e descobriu que ele é composto por estruturas geométricas que estendem-se em até 11 dimensões diferentes.O neocortex é a parte mais desenvolvida do cérebro, responsável por nossa razão e discernimento.

O objetivo dos pesquisadores da Blue Brain Project é montar uma reconstrução completa do cérebro humano utilizando um supercomputador. Para isso, eles fazem uso da topologia algébrica, uma técnica matemática que permite calcular as propriedades de um objeto ou espaço independente do seu formato.

Segundo os matemáticos, o método consegue discernir os detalhes do sistema neurológico cerebral ao mesmo tempo em que é capaz de capturá-lo em sua totalidade.  “Nós encontramos um grande número e variedade de conexões diretas entre neurônios e cavidades entre eles, algo que nunca foi visto antes em redes neurológicas, tanto biológicas quanto artificiais”, explicou a equipe em artigo publicado no periódico Frontiers of Computational Neuroscience.

Acredita-se que no interior do cérebro exista uma média de 86 bilhões de neurônios, todos com múltiplas ligações entre si. Foi observando a complexidade dessas ligações que os pesquisadores notaram a variedade de dimensões e formas geométricas formadas por eles.

De acordo com os cientistas, as associações neurais podem formar desde hastes (figura em uma dimensão) a pranchas (duas dimensões), cubos (três dimensões), caminhando para figuras cada vez mais complexas em quatro, cinco e até onze dimensões.

Apesar da conquista, os neurologistas explicam que ainda há muito trabalho pela frente. É preciso entender a correlação entre essas conexões e as tarefas cognitivas realizadas pelo cérebro, além do processo por trás da formação dessas formas tão complexas.

(com informações de ScienceAlert)

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Ligação de neurônios no cérebro pode chegar até 11 dimensões

É isto que acontece ao cérebro quando dorme pouco

Quanto maior é a privação do sono, maior é a atividade das sinapses.

© iStock

A incapacidade de raciocinar devidamente e o cansaço mental que se sente ao longo do dia depois de uma, duas, três ou mais noites mal dormidas não são apenas um resultado do sono que se tem e que vai aumentado.

Diz um recente estudo da Universidade Politécnica de Marche, em Itália, que estas e outras consequências da privação do sono (como o cansaço físico, irritação e apetite desmedido) são causadas pelo simples facto de o cérebro se comer a si mesmo quando as horas de sono necessárias não são garantidas.

A investigação, publicada na revista Journal of Neuroscience, teve por base a análise do cérebro de ratos de laboratório, que foram divididos em quatro grupos conforme o tipo de sono que tinham: sono regular, acordar espontâneo, privação de sono e privação crônica de sono.

A análise cerebral teve como objetivo medir as sinapses e ainda o processo celular no córtex frontal, tendo sido os astrócitos o tipo de células mais analisado e aquele que se mostrou mais determinante neste processo ‘canibal’ do cérebro. Na prática, quanto menos forem as horas de sono, maior é a tendência para estas células começarem a ser ‘engolidas’ pelas sinapses (zonas do cérebro ativas e que se localizam entre uma terminação nervosa e outros neurônios).

Diz o estudo que foi possível verificar que quanto maior é a privação do sono, maior é a atividade das sinapses. O mesmo foi possível verificar no que diz respeito às microgliócitos… o que não é bom sinal.

“Nós mostrámos pela primeira vez que parte das sinapses estão literalmente a comer os astrócitos por causa da falta de sono, disse ao New Scientist um dos autores do estudo, o médico italiano Michele Bellesi.

Este processo mostrou ser mais intenso nos casos de privação de sono crônica (isto é, quando uma pessoa está mais do que cinco dias sem dormir), contudo, o próprio estudo diz que não se trata de uma consequência tão penosa para o cérebro como pode soar, até porque pode ser vista como um mecanismo de limpeza dos “detritos” mais velhos do cérebro.

Contudo, os cientistas italianos destacam que a privação do sono é verdadeiramente penosa para a saúde, especialmente para a saúde mental, uma vez que o aumento da atividade dos microgliócitos pode desencadear uma série de problemas cognitivos, sendo conhecida a sua ligação com o aparecimento de Alzheimer, por exemplo.

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Sons da natureza relaxam ajustando cérebro e corpo

O ruído suave de um riacho ou o som do vento nas árvores podem mudar fisicamente nossa mente e nossos sistemas corporais, ajudando-nos a relaxar.

Curiosamente, a intensidade das alterações na atividade do sistema nervoso se mostrou dependente do estado basal de cada participante.
[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]

Sensações tranquilizadoras

O ruído suave de um riacho ou o som do vento nas árvores podem mudar fisicamente nossa mente e nossos sistemas corporais, ajudando-nos a relaxar.

Isto não é exatamente uma novidade, mas agora os cientistas estão se dedicando a descobrir como essas sensações tão sutis alteram nossa fisiologia.

“Todos estamos familiarizados com o sentimento de relaxamento e ‘desligamento’ que vem com uma caminhada no campo, e agora temos evidências do cérebro e do corpo que nos ajudam a entender esse efeito. Elas vieram de uma emocionante colaboração entre artistas e cientistas, que produziu resultados que podem ter um impacto no mundo real, particularmente para pessoas que estão enfrentando altos níveis de estresse,” conta a professora Cassandra Gould van Praag, da Universidade de Sussex (Reino Unido).

Focos da atenção

A equipe documentou como ouvir sons naturais afeta os sistemas corporais que controlam o mecanismo “luta ou fugir” do cérebro e as partes do sistema nervoso autônomo responsáveis pela digestão e pelo repouso.

Para isso, os participantes ouviam sons de ambientes naturais e artificiais enquanto sua atividade cerebral era medida em um aparelho de ressonância magnética e a atividade do sistema nervoso autônomo era monitorada através de pequenas mudanças na frequência cardíaca. Também foram realizados testes cognitivos paralelos.

Os resultados mostraram que a atividade na rede de modo padrão do cérebro (uma coleção de áreas que ficam ativas quando estamos descansando) era diferente dependendo dos sons tocando em segundo plano.

Ao ouvir sons naturais, a conectividade cerebral refletia um foco de atenção dirigido para fora; ao ouvir sons artificiais, a conectividade cerebral refletia um foco de atenção direcionado para dentro, semelhante aos estados observados na ansiedade, no transtorno de estresse pós-traumático e na depressão.

Houve também um aumento na atividade do sistema nervoso digestivo (associada ao relaxamento do corpo) ao ouvir sons naturais em comparação com sons artificiais, e melhor desempenho em uma tarefa de monitoramento externo da atenção.

Estado de base

Curiosamente, a intensidade das alterações na atividade do sistema nervoso se mostrou dependente do estado basal de cada participante: Indivíduos que apresentavam maior estresse antes do início do experimento mostraram maior relaxamento corporal ao ouvir sons naturais, enquanto aqueles que já estavam mais relaxados apresentaram um ligeiro aumento no estresse ao ouvir os sons naturais em comparação com os sons artificiais.

Os resultados foram publicados na revista Nature Scientific Reports.

por, Redação do Diário da Saúde

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Esforço intelectual aumenta a sobrevida das células do cérebro

Usar profundamente o cérebro, especialmente durante a adolescência, ajuda as células do cérebro a sobreviver por mais tempo e também afeta positivamente a forma como o cérebro funcionará depois da puberdade.

A afirmação tem por base os resultados de uma recente estudo realizada pela equipe da cientista Tracey Shors, da Rutgers University (Universidade do Estado de New Jersey), nos Estados Unidos. Nesse estudo, realizado em ratos, constatou-se que as células recém-nascidas do cérebro de ratos jovens que aprenderam a realizar tarefas com êxito viveram muito mais tempo do que as do cérebro dos que não conseguiram realizar e dominar com sucesso as tarefas ensinadas a eles.

Nos ratos em que a aprendizagem não foi de nível adequado, três semanas depois que novas células cerebrais nasceram, quase metade deles já haviam morrido. Em contraste, nos ratos em que a aprendizagem foi adequada, a grande maioria dos neurônios ainda estavam vivos depois de três semanas.

Ao examinar o hipocampo (uma região do cérebro associada com os processos de aprendizagem) de ratos submetidos a uma tarefa para aprender a associar um som com uma resposta motora requerida, a equipe de cientistas descobriu que a grande maioria das novas células cerebrais, tingidas com um corante de contraste semanas antes, ainda estavam vivas nos ratos que haviam aprendido a tarefa, o que não ocorreu nos ratos que não haviam aprendido.

Não é que a aprendizagem produz mais células, é que o processo de aprendizagem mantém vivas por mais tempo as que já estão presentes no momento da experiência de aprendizagem com sucesso.

Como o processo de produção de novas células cerebrais é, em nível celular, semelhante em todos os animais, o que inclui o ser humano, Tracey Shors considera que é vital que, por todos os meios possíveis, as crianças iniciem a adolescência aprendendo já em grau ótimo desde o primeiro momento, pois isso terá um impacto positivo sobre o processo de aprendizagem.

Cientista Tracey Shors, da Rutgers University (Universidade do Estado de New Jersey), nos Estados Unidos.

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Encontradas as primeiras evidências de níveis mais altos de consciência

Um estudo conduzido por cientistas da Universidade de Sussex, no Reino Unido, encontrou evidências de um estado “superior” de consciência.

Uma equipa de neurocientistas britânicos observou evidências de um aumento contínuo na diversidade dos sinais neurais – uma medida da complexidade da atividade cerebral – em pessoas sob a influência de drogas psicadélicas, comparada com os períodos em que se encontravam acordadas e em estado normal.

A diversidade dos sinais cerebrais de uma pessoa fornece um índice matemático do seu nível de consciência. Por exemplo, com base nessa escala, as pessoas que estão acordadas têm uma atividade neural mais diversa do que as que estão adormecidas.

Estudos anteriores tenderam a concentrar-se nos estados de consciência mais baixos, como o sono, a anestesia ou o chamado estado “vegetativo”.

Segundo o portal Medical Xpress, este é no entanto o primeiro estudo a mostrar que a diversidade de sinais cerebrais é maior do que a linha de base, que é maior do que em alguém que está simplesmente “acordado e consciente”.

“Esta descoberta mostra que o cérebro sob o efeito de fármacos psicadélicos se comporta de forma muito diferente do normal”, explica o professor Anil Seth, co-diretor do Centro Sackler para a Ciência da Consciência da Universidade de Sussex.

“Durante o estado psicadélico, a atividade elétrica do cérebro é menos previsível e menos integrada do que durante a vigília consciente normal – tal como medida pela diversidade global do sinal”, explica Anil Seth, que realça que os resultados precisam de ser interpretados com atenção.

“Agora que esta escala mostrou a sua validade como uma medida do nível de consciência, podemos dizer que o estado psicadélico aparece como um nível de consciência mais elevado do que o normal – mas apenas no que diz respeito a esta medida matemática específica”, diz Seth.

A equipe de investigadores afirma que mais pesquisas são agora necessárias, usando modelos mais sofisticados e variados, para confirmar os resultados, mas que os resultados obtidos são “cautelosamente animadores”.

Psicadélicos e campos magnéticos cerebrais

Para o estudo, a equipe de investigadores, formada por Anil Seth, Michael Schartner e Adam Barrett, reanalisou dados que haviam sido recolhidos anteriormente pelo Imperial College de Londres e pela Universidade de Cardiff, nos quais voluntários saudáveis receberam uma de três drogas conhecidas por induzir um estado psicadélico.

As três drogas utilizadas no estudo foram a psilocibina, presente em cogumelos alucinógenos, a cetamina e o LSD.

Usando técnicas padrão de recolha de imagens cerebrais, os investigadores mediram os minúsculos campos magnéticos produzidos no cérebro e descobriram que, sob o efeito destas três drogas, a medida de nível de consciência – a diversidade do sinal neural – era claramente maior.

Isso não significa que o estado psicadélico seja um estado “melhor” ou mais desejável de consciência, destacam os cientistas.

Em vez disso, a pesquisa mostra que o estado psicadélico do cérebro é distintivo e pode ser relacionado com outras mudanças globais no nível consciente – por exemplo, sono ou anestesia – pela aplicação de uma medida matemática simples da diversidade de sinais.

“O facto de mudanças semelhantes na diversidade de sinal terem sido encontradas com as três drogas, apesar de a sua farmacologia ser bastante diferente, é muito impressionante e tranquilizador que os resultados sejam robustos e repetitivos”, comentou o investigador Suresh Muthukumaraswamy, da Universidade de Auckland, coautor dos estudos.

Estas descobertas podem ajudar em discussões sobre o uso médico cuidadosamente controlado destas drogas – por exemplo, no tratamento da depressão grave.

“A investigação rigorosa sobre fármacos psicadélicos está a receber cada vez mais atenção, especialmente pelo potencial terapêutico que estas drogas podem ter quando usadas de forma sensata e sob supervisão médica”, explica Robin Cahart-Harris, investigador do Imperial College de Londres.

“As descobertas do presente estudo ajudam-nos a compreender o que acontece no cérebro das pessoas quando experimentam uma expansão da sua consciência sob o efeito de fármacos psicadélicos”, afirma Cahart-Harris. Segundo o cientista, “as pessoas relatam experimentar mais discernimento e compreensão sob o efeito dessas substâncias”.

“E quando isso ocorre num contexto terapêutico, pode trazer resultados positivos. As descobertas atuais podem ajudar-nos a entender como isso pode acontecer”, conclui.

O estudo foi publicado na Scientific Reports esta quarta-feira, dia 19 de abril – por incrível coincidência, precisamente 74 anos depois de Albert Hoffman, que sintetizou o LSD pela primeira vez em 1938, ter realizado a sua primeira “auto-experiência” para descobrir os efeitos psicológicos do fármaco.

Por HS

Ligação de neurônios no cérebro pode chegar até 11 dimensões

Nossos raquíticos cérebros humanos são péssimos em pensar sobre o futuro

Nossos futuros eus são estranhos para nós.

Essa não é nenhuma metáfora poética, mas sim um fato neurológico. Estudos de imagens por ressonância magnética funcional sugerem que quando você imagina a si mesmo no futuro, seu cérebro faz algo esquisito: ele para de agir como se você estivesse pensando em si mesmo. Em vez disso, ele começa a agir como se você estivesse pensando em uma pessoa completamente diferente.

Funciona da seguinte maneira: normalmente, quando você pensa em si mesmo, uma região do cérebro conhecida como o córtex pré-frontal medial (CPMF) “acende”. Quando você pensa em outras pessoas, ele desliga. E se você sentir que não tem nada em comum com as pessoas em quem está pensando? O CPMF se ativa ainda menos.

Mais de 100 estudos de imagens cerebrais relataram esse efeito. (Eis uma meta-análise útil: enquanto alguns estudos de imagens por ressonância magnética funcional foram questionados recentemente por erros estatísticos e falsos positivos, essa descoberta em especial é robusta.) Mas existe uma importante exceção a essa regra: quanto mais tempo você passa tentando imaginar sua própria vida, menos ativação você mostra no CPMF. Em outras palavras, seu cérebro age como se seu futuro eu fosse alguém que você não conhece muito bem, e, sinceramente, alguém com quem você não se importa.

Esse comportamento cerebral defeituoso pode fazer com que fique mais difícil para nós realizarmos ações que beneficiem nossos futuros eus tanto como indivíduos quanto como uma sociedade. Estudos mostram que quanto mais seu cérebro trata seu futuro eu como um estranho, menos autocontrole você exibe hoje, e menor é a probabilidade de você fazer escolhas pró-sociais, escolhas que provavelmente ajudarão o mundo a longo prazo. Você tem menos capacidade de resistir a tentações, procrastina mais, se exercita menos, guarda menos dinheiro para sua aposentadoria, desiste mais rápido diante de uma frustração ou de uma dor temporária, e menor é a probabilidade de você se importar com ou tentar evitar problemas de longo prazo como as mudanças climáticas.

Isso faz sentido. Como um pesquisador da UCLA, Hal Hirschfield colocou: “Por que você guardaria dinheiro para seu futuro eu quando, para seu cérebro, a impressão que se tem é de que você está dando seu dinheiro para um completo estranho?”

Nosso atual clima politico nos Estados Unidos reflete esse mesmo viés cognitivo contra o futuro. Recentemente, o presidente Trump assinou uma ordem executiva que desfaz um amplo leque de regulações pensadas para mitigar mudanças climáticas de longo prazo, favorecendo políticas que oferecem benefícios econômicos de curto prazo. E o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, foi notícia recentemente quando disse publicamente que não estava “nem um pouco preocupado” com a possibilidade de que a automação pudesse eliminar milhões ou até mesmo dezenas de milhões de empregos americanos no futuro.

“Não está nem mesmo entre nossas prioridades”, ele disse, acrescentando que isso não acontecerá em menos de “50 ou 100 anos ou até mais”.

Mas, como Daniel Gross escreveu na “Slate”, ele está errado. Provavelmente não levará cinco décadas até que robôs e a inteligência artificial reduzam de forma significativa o número de empregos disponíveis aos americanos. Uma pesquisa econômica realizada recentemente pelo MIT sugere que 670 mil empregos na indústria já foram perdidos para a automação nos Estados Unidos.

Mas mesmo que levasse 50 anos para esse furacão atingir a força de trabalho, será que estamos realmente confortáveis com nossos líderes empurrando o problema para nossos futuros eus? De acordo com o último censo, quase 180 milhões de americanos vivos hoje devem esperar estar vivos ainda daqui a 50 anos. Não estamos minimamente interessados em pensar em que tipo de mundo estaremos, ou que queremos ajudar a fazer ou evitar, quando chegar essa hora?

Infelizmente, nos Estados Unidos pensar em nosso futuro distante não é um hábito que a maior parte das pessoas adquira ou pratique com muita frequência. Sou diretora de pesquisas no Instituto para o Futuro, uma ONG com sede em Palo Alto, na Califórnia, onde acabamos de completar a primeira grande pesquisa sobre pensamento futuro nos Estados Unidos.

Nela, 2.818 pessoas refletiram sobre com que frequência elas imaginam algo que possa acontecer ou algo que elas possam pessoalmente fazer em diferentes pontos do futuro. (Os respondentes tinham no mínimo 18 anos, há uma margem de erro de 2% para mais ou para menos e um nível de confiança de 95%)

A pesquisa revelou que 53% dos americanos dizem que eles raramente ou nunca pensam sobre o “futuro distante”, ou algo que possa acontecer daqui a 30 anos. Vinte e um por cento relatam imaginar esse futuro menos de uma vez por ano, ao passo que o maior grupo de respondentes, 32%, dizem que isso nunca passa pela cabeça deles.

Da mesma maneira, 36% dos americanos dizem que eles raramente ou nunca pensam sobre algo que possam estar fazendo daqui a 10 anos. O maior grupo de respondentes, 19%, pensa nesse futuro de 10 anos menos de uma vez por ano, ao passo que outros 17% dizem nunca pensar nisso.

Felizmente, pensar em um futuro de 5 anos é um pouco mais comum do que pensar em um futuro de 10 e 30 anos. Somente 27% dos respondentes raramente ou nunca pensam sobre suas vidas daqui a cinco anos. A resposta mais comum para “Com que frequência você pensa em algo que você possa estar fazendo ou que possa acontecer daqui a cinco anos?” era uma ou duas vezes por mês.

Mas, em comparação com a frequência com que pensamos sobre nossos amigos próximos ou família —uma ocorrência quase diária— nós raramente pensamos em nossos futuros eus.

A pesquisa sugere que, quanto mais velho você fica, menos você pensa no futuro— 75% dos idosos raramente ou nunca pensam 30 anos à frente, ao passo que 51% raramente ou nunca pensam 10 anos à frente. Uma resposta comum, é claro, foi: “Não espero estar vivo até lá, então não penso a respeito”.

Mas pesquisas neurológicas anteriores também mostraram que imaginar o futuro simplesmente se torna mais difícil à medida que envelhecemos. Nós perdemos massa cinzenta e conectividade em regiões associadas ao estímulo mental do futuro.

Os dados mostraram que ter filhos ou netos não aumentava a frequência do pensamento no futuro. Contudo, um acontecimento na vida tinha esse feito: algo que lembrasse a pessoa de sua mortalidade, como um diagnóstico médico de uma doença potencialmente terminal, uma experiência de quase-morte ou algum outro evento traumático. Isso foi associado nos dados da pesquisa a um aumento estatisticamente significativo em pensamentos semanais sobre o futuro para os períodos de 5 e 10 anos (mas não no de 30 anos).

Isso faz sentido. Resvalos com a mortalidade muitas vezes são associados, na literatura da psicologia, a um esforço renovado de se levar uma vida significativa e deixar um legado positivo para trás. Pensar, planejar e contribuir para nossos futuros compartilhados a longo prazo pode ser uma parte essencial para se fundar as bases para ambos.

Mesmo sem um resvalo com a morte, algumas pessoas têm uma mentalidade muito voltada para o futuro. Dezessete por cento dos americanos afirmam pensar sobre o mundo daqui a 30 anos pelo menos uma vez por semana. Quase um terço, ou 29%, pensam sobre o futuro daqui a 10 anos pelo menos uma vez por semana. E uma porcentagem ligeiramente maior (35%) pensa sobre o futuro daqui a 5 anos pelo menos uma vez por semana.

O fato de que algumas pessoas pensam regularmente sobre o futuro se alinha com algo que pesquisadores já haviam descoberto anteriormente: as pessoas têm diferentes limiares para quando elas veem um futuro eu como um estranho. Para algumas pessoas, seus CPMF desligam quando elas pensam sobre um futuro eu daqui a um ano; para outras, a mudança não acontece até que o “futuro você” esteja 5, 10 ou 15 anos adiante. Não está claro, a partir dos dados presentes, se pensar sobre o futuro regularmente pode mudar o comportamento do cérebro ou se as pessoas que possuem um limiar mais alto só gostem naturalmente de pensar mais no futuro, porque elas já se relacionam melhor com seus futuros eus.

De qualquer forma, isso nos deixa com uma espécie de “lacuna do futuro” nos Estados Unidos.

Algumas pessoas se conectam regularmente com seus futuros eus, mas a maioria não. E isso importa, para além das ligações entre o pensamento no futuro e um maior autocontrole e comportamento pró-social. Pensar sobre o futuro em 5, 10 e 30 anos é essencial para ser um cidadão engajado e um solucionador de problemas criativo.

A curiosidade sobre o que pode acontecer no futuro, a habilidade de imaginar como as coisas poderiam ser diferentes e a empatia pelos nossos futuros eus são coisas necessárias se quisermos criar uma mudança em nossas próprias vidas ou para o mundo ao nosso redor.

Se você é alguém que raramente pensa no futuro, esse é um hábito surpreendentemente fácil de se adotar. No curso que leciono no programa de estudos continuados da Universidade de Stanford, “Como Pensar Como um Futurista”, eu digo aos alunos: façam uma lista de coisas nas quais vocês têm interesse, coisas como comida, viagens, carros, a cidade onde vocês moram, sapatos, cachorros, música, imóveis.

Então, pelo menos uma vez por semana, faça uma pesquisa no Google por “o futuro de” uma das coisas em sua lista. Leiam um artigo, ouçam a um podcast, assistam a um vídeo, e tirem algumas ideias específicas sobre como poderá ser o futuro de algo de que você goste.

Ninguém pode prever o futuro, mas há muitas pessoas por aí falando sobre como o futuro poderia ser, com novas tecnologias, novas políticas, novas culturas. E quando você consegue imaginar detalhes concretos de um futuro possível, é mais fácil preencher a lacuna do futuro e se inserir nesse futuro. O seu futuro eu se torna menos estranho, e passa a ser alguém em nome de quem você pode trabalhar ativamente para criar um mundo melhor e uma vida melhor.

*Este artigo é parte do Future Tense, uma colaboração entre a Universidade do Estado do Arizona, o New America e a “Slate”. O Future Tense explora as formas como as tecnologias emergentes afetam a sociedade, as políticas e a cultura

Tradutor: UOL

Ligação de neurônios no cérebro pode chegar até 11 dimensões

“Cuidar do cérebro devia ser uma prioridade dos mais novos”

Já escovou os dentes hoje? E cuidou do cérebro também? Álvaro Bilbao, autor do livro “Cuide do Seu Cérebro”, garante que, seguindo alguns passos, é possível ter uma mente ágil em qualquer idade

Exercitar o cérebro é preciso. E melhor do que fazer quebra-cabeças é ir caminhar.

Cuidar do cérebro é mais importante do que cuidar da pele — a indústria da beleza que nos perdoe — e devia ser um hábito tão comum como escovar os dentes depois de cada refeição. A mensagem, talvez um pouco atípica, é do psicólogo espanhol Álvaro Bilbao, conhecido pelo livro “O Cérebro da Criança Explicado aos Pais”, mas agora o foco é outro. Sobretudo desde que foi lançado em Portugal, terça-feira passada, o livro “Cuide do Seu Cérebro… E Melhore a Sua Vida”, do mesmo autor.

“Cuidar do cérebro não devia ser uma prioridade das pessoas mais velhas, mas sim das mais novas, por vários motivos. As pessoas que cuidam dos seus cérebros desde jovens têm menor risco de ter doenças quando são mais velhas”, diz Álvaro Bilbao em entrevista exclusiva ao Observador.

No livro em destaque, o neuropsicólogo e psicoterapeuta apresenta seis áreas-chave a que devemos prestar atenção, pela saúde do nosso cérebro: desde a boa alimentação às devidas horas de sono, passando ainda pelo exercício físico. Já os exercícios mentais, como quebra-cabeças ou “sudokus”, são bons, mas nada bate “sair à rua, caminhar, falar com pessoas e comprar peixe e verduras”.

Recordemos os leitores: porque é que o cérebro é tão especial?
O cérebro é um órgão muito especial por dois motivos. Em primeiro lugar, é um órgão que não pode ser transplantado e não pode ser tratado, como acontece com os pulmões. É um órgão que temos desde que nascemos, com os mesmos neurónios. Em segundo lugar, é no cérebro que residem as nossas emoções, a nossa inteligência e a nossa capacidade para tomar decisões. É a parte do corpo que nos distingue, à nossa natureza e à nossa maneira de ser. É o que faz com que cada um de nós seja a pessoa que é.

No livro escreve que a longevidade que temos vindo a adquirir é, ao mesmo tempo, uma oportunidade e um desafio para o cérebro. Porquê?
Sabemos que o nosso cérebro está programado para viver uma série de anos. Cada vez mais vivemos mais anos e isso é uma oportunidade no sentido em que podemos aprender mais coisas e podemos desfrutar da vida durante mais tempo, coisa que antes não acontecia, numa altura em que ter 60 ou 70 anos era sermos anciães. No entanto, também é um desafio porque, a cada cinco anos que ficamos mais velhos, a cada cinco velas a mais que colocamos no nosso bolo de aniversário, duplicam as probabilidades de termos algumas doenças, pelo que é muito importante que sejamos responsáveis pelo nosso próprio cérebro. Ele é um órgão do qual temos de cuidar com muito carinho, com muito mimo, porque se não tomamos bem conta dele, estes anos a mais podem ser anos com pouca qualidade de vida. Se, ao contrário, cuidarmos bem dele, esses mesmos anos podem vir a ser anos de muita desfrute.

É no cuidado do cérebro que está a possibilidade de desfrutar da sua memória, da sua alegria ou do seu bem-estar físico, agora e durante mais tempo. A importância do cuidado do cérebro é tal que alguns países iniciaram campanhas nacionais de saúde cerebral ou planos estratégicos para prevenir o Alzheimer e a demência entre a terceira-idade.
(“Cuide do Seu Cérebro”, pág. 17)

A que tipo de perigos está, então, o cérebro sujeito?
Cuidar do cérebro não devia ser uma prioridade das pessoas mais velhas, mas sim das mais novas, por vários motivos. Em primeiro lugar, as pessoas que cuidam dos seus cérebros desde jovens têm menor risco de ter doenças quando são mais velhas, mas também porque se cuidamos do nosso cérebro enquanto somos jovens, desfrutamos de uma melhor memória, concentração e humor durante a vida. O principal inimigo que as pessoas jovens têm hoje em dia é o stress e a pressa. Sabemos que quando vivemos em stress, com demasiadas exigências e pressas, isso diminui a nossa capacidade de nos sentirmos bem e, além disso, erramos mais vezes na hora de pensar. As pessoas acreditam que quanto mais stress, melhor pensam sobre as coisas. O stress, as preocupações que vivemos quando temos 30 ou 40 anos, aumentam a nossa probabilidade de virmos a sofrer de doenças como o AVC e o Alzheimer. Entre as primeiras causas de morte nos países ocidentais, no ano passado, estava o AVC, os enfartes cerebrais. O curioso é que 80% dos enfartes cerebrais podem ser prevenidos se tivermos em conta algumas normas de saúde cerebral. É um tema que preocupa muitas pessoas, porque são muitas as que tiveram um pai ou um avô que morreu na sequência de um AVC. E também sabemos, no caso do Alzheimer, que uma boa saúde cerebral e bons cuidados podem atrasar a doença e, em alguns casos, esse atraso pode evitar que a doença apareça — pode atrasar durante tantos anos que morremos antes que alguma coisa aconteça. Cuidar do cérebro enquanto jovens ajuda a prevenir doenças relacionadas com a memória, e não só.

Entre os pacientes que têm um AVC encontramos pessoas de todas as classes sociais, profissões e idades. Abundam as que fumam e têm um elevado nível de stress, excesso de peso, colesterol ou açúcar no sangue. De facto, se tiver dois destes fatores de risco antes dos 40, a probabilidade de ter um AVC antes dos 80 anos é de 50 por cento.
(“Cuide do seu cérebro”, pág. 23)

Mas à partida pode parecer estranha a ideia de cuidarmos do nosso cérebro. As pessoas estão conscientes de que este é um ritual tão importante como escovar os dentes todos os dias?
Não, a verdade é que as pessoas não se preocupam com o cérebro porque este parece um órgão que resiste a tudo e que nos serve durante a vida toda. O cérebro cuida-se através da alimentação e do exercício físico, o que, por sua vez, ajuda a promover a descontração e a concentração. O cérebro cuida-se também através do sono. A verdade é que até há poucos anos os cientistas não sabiam como é que se cuidava de um cérebro. Sabíamos como cuidar dos dentes e da pele, mas sabíamos muito pouco sobre isso em relação ao cérebro.

Álvaro Bilbao é doutorado em Psicologia, é ainda neuropsicólogo e psicoterapeuta. © Divulgação

A “reserva cognitiva”, tal como escreve no livro, é uma das formas de cuidar do cérebro. Em que consiste e como é que esta pode ser trabalhada?
A reserva cognitiva é a acumulação de conexões neurológicas que fazem com que o nosso cérebro pense melhor, além de o protegerem do envelhecimento. O exemplo que dou sempre é o seguinte: imaginemos que temos dinheiro guardado no banco, se tivermos muito dinheiro — e aqui o dinheiro são os neurónios no nosso cérebro, as muitas conexões que criámos à base de estudos e de aprendizagens —, quando temos um problema económico podemos utilizar esse dinheiro para não passarmos mal, para não passarmos fome e para não termos de dormir na rua. Da mesma maneira, quando aprendemos muitas coisas, vamos guardando essa informação na forma de conexões neuronais, pelo que o nosso cérebro fica maior (à semelhança da nossa conta bancária). Essa reserva cognitiva permite-nos pensar mais rápido e de uma maneira mais eficiente. As muitas conexões que criamos podem ajudar-nos a proteger ou a atrasar certas doenças.

Sermos pessoas mais educadas, no sentido da cultura, é uma solução?
Sim, aprendermos mais coisas é uma solução. Há muitos anos que sabemos que ter mais níveis de estudos, como por exemplo ter passado pela universidade, é algo que nos protege face ao envelhecimento cerebral, mas hoje em dia também sabemos que outro tipo de atividades podem ajudar a construir a reserva cognitiva, como falar vários idiomas, ler livros e aprender coisas novas ou viajar. Não é preciso ser-se um académico ou ter estudos universitários, o mais importante é que sejamos pessoas curiosas, que estejamos sempre dispostas a aprender coisas novas.

E estamos sempre a tempo disso?
Sim, durante toda a vida podemos criar novas conexões neurológicas. Todos os dias criamos novas conexões, portanto qualquer pessoa, em qualquer idade, pode aumentar a sua reserva cognitiva.

E o que devemos e podemos comer para promover a saúde mental?
Essa é outra área muito importante. A nutrição “neurossaudável” compreende os alimentos que pensamos serem os mais saudáveis para o cérebro. Nesse sentido sabemos que 60% do cérebro é composto por matéria gorda e, por isso, é muito importante introduzir gorduras “neurossaudáveis”, que não sejam saturadas ou hidrogenadas. O melhor são as gorduras do tipo ómega 3, que estão contidas em frutos secos ou no peixe azul. Também é muito importante ter os níveis de energia estáveis, para que tenhamos um estado mental equilibrado durante todo o dia. Para estarmos concentrados durante um largo período de tempo convém introduzir hidratos de carbono complexos em vez de açúcares refinados. As vitaminas e os minerais também são muito importantes — nesse sentido, as frutas e as verduras são essenciais (graças às vitaminas e aos minerais construímos, por exemplo, os neurotransmissores que são a principal fonte de bem-estar emocional). É ainda importante reduzir as proteínas que vêm acompanhadas de gorduras pouco saudáveis, como as carnes vermelhas, sendo preferível consumir proteínas provenientes do pescado e de carnes com pouca gordura ou de carnes brancas.

Há algo que não possamos comer ou beber?
Sim, sabemos que há certos alimentos que são prejudiciais ao cérebro e, nesse sentido, tudo o que são alimentos com grandes quantidades de açúcar podem favorecer a aparição de diabetes, mas também fazem com que o cérebro funcione de uma forma mais irregular. Dito isto, os doces são muito prejudiciais, bem como os alimentos com muita gordura (ou com gorduras de má qualidade, incluindo gordura animal ou saturada). Eu defendo que as pessoas podem comer um pouco de tudo, mas sempre com moderação. Sabemos que um copo de vinho pode contribuir para favorecer a circulação do sangue, mas também sabemos que muito álcool pode ser prejudicial e pode contribuir para o aparecimento de cancro. O mesmo para o café e para o chocolate, que têm antioxidantes, mas não convém ingeri-los em grandes quantidades. Outros alimentos prejudiciais são aqueles que têm corantes ou conservantes. É sempre melhor comer produtos frescos.

Outro tópico mencionado no livro é a questão do sono. Há pouco tempo entrevistámos Arianna Huffington, fundadora do jornal Huffington Post e autora do livro “A Revolução do Sono”. Ao Observador, Huffington disse que a “a privação de sono é uma epidemia global”. Concorda?
Totalmente. Sabemos que o sono é um dos fatores de proteção do cérebro, um dos mais importantes — o exercício físico é ainda mais importante. Mas o sono é, muito provavelmente, o fator onde mais nos descuidamos. Desde que apareceu a luz elétrica, no século XIX, temos vindo a roubar horas ao sono, de tal maneira que o ser humano dorme cada vez menos horas (e as crianças também). Estamos a ver adolescentes de 16 anos que, em vez de dormirem nove ou 10 horas todos os dias, estão a dormir cinco ou seis. Isto é muito prejudicial para o cérebro porque, quando dormimos, ocorrem duas coisas muito importantes. A primeira coisa é que armazenamos informação na memória de longo prazo — o ato de dormir é uma forma de armazenar informação, pelo que se quisermos ter uma boa memória, é fundamental dormir muito. Outra coisa é que, quando dormimos, o nosso cérebro ativa o nosso sistema imunológico, que tem como missão reparar o cérebro e eliminar todas as toxinas que se acumularam durante o dia — devido à poluição, aos corantes e aos conservantes na comida –, mas também elimina as substâncias que produzem o próprio stress. O ato de dormir tem a função de reparação.

Socializar é uma atividade essencial na proteção do cérebro face à passagem do tempo, bem como no atraso do aparecimento de doenças neurodegenerativas como o Alzheimer. Sabemos que as pessoas mais longevas do mundo vivem rodeadas de seres queridos e costumam proceder de comunidades onde a relação entre os seus membros é próxima.
(“Cuide do seu cérebro”, pág. 147)

Escreve ainda que a relação com outras pessoas é também fundamental para cuidar do cérebro.
Sim, sabemos que as sociedades no sul da Europa têm um fator de proteção face ao envelhecimento cerebral, que são as relações sociais. Quando estamos a conversar com outras pessoas, quando nos sentimos unidos à nossa família, aos nossos amigos e aos companheiros de trabalho, isso reduz os níveis de stress e os níveis de ansiedade, e permite-nos exercitar a mente. Quando conversamos com outras pessoas estamos a realizar uma ação cerebral muito complexa.

Outra ideia interessante no livro é o facto de existirem diferenças entre o cérebro masculino e feminino. Isso pode ajudar a explicar o motivo por que, por vezes, homens e mulheres não se entendem?
Os cérebros do homem e da mulher não são assim tão diferentes, mas ao nível científico há diferenças claras, apesar de não serem assim tão grandes. Sabemos que as mulheres têm mais 200 milhões de neurónios na área da linguagem, isso implica que as mulheres têm mais vocabulário e melhor memória verbal. As mulheres também têm tendência a comunicar mais com os dois hemisférios [direito e esquerdo], de tal maneira que podem relacionar mais vezes o mundo racional com o emocional. É por isso que, quando uma mulher tem um problema, muitas vezes tende a ligar a uma amiga, à mãe ou à irmã, uma vez que as mulheres tendem a resolver os problemas em sociedade, de uma maneira mais social. Já os homens quando têm um problema, racionalizam as coisas de forma solitária. Quando uma mulher tem um problema e o conta ao marido, o marido pensa e dá uma solução, e a mulher sente-se sozinha porque acha que o marido não a escutou. Mais, as mulheres vivem em média mais cinco anos do que os homens e isso faz com que o seu cérebro seja mais vulnerável a algumas doenças.

Que tipo de perguntas ouve mais vezes?
Muitas pessoas perguntam que tipo de exercícios podem fazer para cuidar do cérebro. Perguntam sempre pelos “sudokus” e pelos quebra-cabeças. Na verdade sabemos que estes exercícios não são os mais importantes para o cérebro. Sabemos, sim, que fazer exercício é muito importante, provavelmente o mais importante que podemos fazer: quando caminhamos estamos a oxigenar o cérebro e estamos a fortalecer a relação entre o cérebro e o coração. Em vez dos quebra-cabeças, o melhor é sair à rua, caminhar, falar com pessoas e comprar peixe e verduras. Os exercícios mentais que ajudam o cérebro, que ajudam a criar uma reserva cognitiva, são aqueles que são interessantes, difíceis e novos.

Ligação de neurônios no cérebro pode chegar até 11 dimensões

Cinco dicas para perceber e estimular o cérebro do seu filho

“Bebés Brilhantes” é um novo livro que pretende mostrar como estimular a inteligência antes dos 3 anos. Esta é a pré-publicação do capítulo “A verdade do cérebro: 5 dicas que os pais devem conhecer”.

Temos agora provas de que as experiências precoces são literalmente moldadoras do cérebro. Graças à última neurociência – combinada com a pesquisa relacionada em pediatria, psicologia e desenvolvimento infantil –, possuímos agora uma clarificação acerca do que as crianças muito jovens precisam mais e de quando. Este novo trabalho confirma a antiga sabedoria: os cuidados básicos que a maioria dos pais carinhosos vulgarmente dispensa são afinal os mais importantes. Poderá ajudar a estruturar um cérebro saudável se:

  • Passar tempo só com o seu filho a amá-lo.
  • Brincar com ele.
  • Responder rápida e previsivelmente ao seu filho.
  • Tocar e fizer festas ao seu filho.
  • Fornecer rotinas que estabeleçam padrões de resposta carinhosa.
  • Falar com ele.
  • Ler e cantar para o seu filho.

Parece fácil, não parece? Na verdade, é como o bê-á-bá: a atenção, a ligação e a comunicação são três portas de acesso comprovadas para um brilhante início. Só recentemente os investigadores foram capazes de mostrar a razão pela qual são estes comportamentos regulares os determinantes de um desenvolvimento normal. Felizmente, há coisas que os pais e qualquer adulto que cuide de crianças podem fazer – um conhecimento que espero que o deixe menos stressado, culpado ou confuso sobre o seu papel no desenvolvimento do bebé.

Antes de lhe mostrar como pode influenciar a aprendizagem precoce do seu filho, será útil conhecer algumas das impressionantes principais descobertas acerca do desenvolvimento cerebral que conduziram ao foco nesses três aspetos: atenção, ligação e comunicação.

No exterior, é evidente, o seu bebé muda quase impercetivelmente dia após dia. Se conseguisse olhar para dentro do seu cérebro, contudo, veria esse crescimento ocorrer a um ritmo miraculoso. E a acontecer mais depressa, e mais cedo, do que alguém, dentro ou fora da comunidade científica, previamente imaginara. Só durante o primeiro mês de vida, as conexões entre os cem mil milhões de células cerebrais presentes ao nascimento aumentam 20 vezes, criando mais de um trilião de linhas de comunicação que ajudam o bebé a dar sentido ao seu mundo. Números destes são na realidade demasiado grandes para poderem ser compreendidos. Mas não precisa de saber nada de neurobiologia para perceber que um trilião de qualquer coisa representa uma enorme quantidade de energia a ser posta em funcionamento dentro daquela pequenina cabeça. Imagine que uma parte do corpo mais visível, como os pés, crescia ao ritmo alucinante do cérebro – atingindo 75 por cento do tamanho adulto aos dois anos e meio. Pode ter a certeza de que todos prestaríamos mais atenção aos pés!

“No exterior, é evidente, o seu bebé muda quase impercetivelmente dia após dia. Se conseguisse olhar para dentro do seu cérebro, contudo, veria esse crescimento ocorrer a um ritmo miraculoso. E a acontecer mais depressa, e mais cedo, do que alguém, dentro ou fora da comunidade científica, previamente imaginara.”

Apenas nos últimos dez ou 15 anos, as tecnologias de imagem como a TEP (tomografia por emissão de positrões) e a IRMf (imagem por ressonância magnética funcional) permitiram que víssemos o que acontece dentro de um cérebro em crescimento e a funcionar. Estas tecnologias produzem “instantâneos da ação” que ilustram graficamente as áreas do cérebro que mudam em resposta a diferentes tipos de estimulação e uso. Este trabalho, realizado sobretudo em adultos até muito recentemente, forneceu-nos uma nova dimensão da compreensão sobre como o cérebro opera e influenciou de modo espetacular o nosso pensamento acerca do que as crianças muito pequenas provavelmente precisarão para florescer e quando.

Dica nº1: a inteligência pode ser moldada após o nascimento

Dantes pensava-se que a biologia era o destino, que o QI já nascia assim, não se fazia. Claro que alguns miúdos pareciam mais espertos do que outros logo desde que nasciam. Mas sabemos agora que a soma da capacidade intelectual do bebé não é fixada à nascença. Uma criança nasce com um nível de QI que poderá variar até 20 ou 30 pontos no máximo. Embora os genes e a saúde física preparem o cenário para alguns dos futuros comportamentos da criança, o QI de uma criança e a sua capacidade para funcionar bem dependem também das experiências ambientais a que estiver exposta numa base consistente.

Pense no desenvolvimento de um cérebro saudável como uma dança entre a biologia (aquilo com que a criança nasceu) e o cuidado precoce (o que acontece após o nascimento). Os dois aspetos estão de tal modo interconetados que os cientistas examinam agora fatores ambientais que poderão impedir ou facilitar a forma como os genes operam. Pensávamos que os genes funcionavam de forma estática – se tivessem um gene para determinada coisa, exibiam esse traço (a cor dos olhos, por exemplo). Contudo, alguns genes poderão estar dormentes; o facto de se “ligarem” ou não depende da experiência. Esta é uma nova descoberta espetacular! As primeiras experiências consistentes do bebé poderão na realidade protegê-lo contra a ligação de certos genes envolvidos em traços indesejáveis, como a hiperatividade, a compulsividade e o comportamento agressivo.

Um exemplo espantoso do poder das experiências da vida para alterar o “destino” inscrito nos nossos genes é passível de ser observado nos macacos resos. Os que nascem com uma variação particular de um gene tornam -se extremamente agressivos quando são crescidos, se tiverem um fraco vínculo com as mães durante a infância, ao passo que outros macacos com a mesma variação genética não se tornam agressivos quando desenvolvem uma relação segura com a mãe. Apesar de os macacos em cada uma das situações terem a mesma versão do gene, possuem níveis muito diferentes do químico que é produzido pelo gene. Isto indica que as experiências nos primeiros anos podem mudar a forma como certos genes funcionam.

Além disso, como as macacas perpetuam a imitação do mesmo tipo de relações de apego com os bebés que elas próprias experimentaram, é possível que as tendências comportamentais que desde há muito se acreditava serem transmitidas através dos genes de cada um (como a agressividade) possam, em vez disso, ser adquiridas através da aprendizagem social. Stephen Suomi, doutorado em medicina, diretor do Laboratório de Etologia Comparada no Instituto Nacional dos Cuidados Infantis e do Desenvolvimento Humano, chama a isto o “efeito de almofada da boa maternidade”. Falem-me do poder da experiência! Ainda não sabemos com certeza se este tipo de investigação animal é diretamente aplicável ao comportamento humano, mas novas descobertas como esta sublinham princípios neurobiológicos básicos que provavelmente se aplicarão também a nós.

“Sabemos agora que a soma da capacidade intelectual do bebé não é fixada à nascença. Uma criança nasce com um nível de QI que poderá variar até 20 ou 30 pontos no máximo. Embora os genes e a saúde física preparem o cenário para alguns dos futuros comportamentos da criança, o QI de uma criança e a sua capacidade para funcionar bem dependem também das experiências ambientais a que estiver exposta numa base consistente.”

O que isto significa para o seu filho: o debate clássico entre natureza e educação e qual delas moldará a inteligência e a personalidade está terminado na essência. As duas estão interligadas. Uma criança poderá crescer inteligente, independentemente dos níveis de inteligência dos pais, e uma criança que nasceu inteligente poderá manter ou exceder essa inteligência, dependendo das experiências da vida.

Dica nº 2: a maioria da estruturação básica do cérebro ocorre nos primeiros anos

Qualquer pessoa que passe bastante tempo com crianças muito novas – pais, professores do jardim infantil e da pré-primária, cuidadores infantis – perceberá que este estádio é verdadeiramente espantoso. Muitos de nós, que estamos envolvidos na educação, sentimos que devemos prestar maior atenção aos miúdos nos primeiros anos, embora poucos consigam explicar porquê. Em resultado disso – e também porque a comunidade científica não conseguia ver o cérebro da mesma forma que via e media outras partes do corpo através de radiografias, ultrassons, análises sanguíneas… –, a ênfase no desenvolvimento precoce continuava a ser uma ideia vaga. Agora, evidentemente, compreendemos a razão pela qual merece uma atenção primordial!

Quando o seu bebé nasceu, a maioria dos principais órgãos estava formada, embora em miniatura. O coração, por exemplo, já tinha as mesmas partes e os mesmos princípios operativos em funcionamento para poder bater mais de dois mil milhões de vezes durante um período de vida. Os pulmões, o fígado, os rins – todos estavam prontos e a funcionar, pois a sua estrutura essencial fora formada antes do nascimento e crescera depois a um ritmo contínuo, junto com o resto do corpo.

O mesmo não acontece com o cérebro. Este inicia a vida fora do útero notavelmente incompleto – apenas cerca de um quarto do seu eventual tamanho adulto. Contudo, antes do segundo aniversário do seu filho, terá saltado para três quartos do tamanho adulto e aos cinco anos terá quase o peso e o volume adultos (90 por cento).

“Quando o seu bebé nasceu, a maioria dos principais órgãos estava formada, embora em miniatura. O mesmo não acontece com o cérebro. Este inicia a vida fora do útero notavelmente incompleto – apenas cerca de um quarto do seu eventual tamanho adulto.”

Isto não significa que 90 por cento da informação que uma pessoa venha a obter sejam aprendidos nos primeiros cinco anos – longe disso! Significa que, nesses primeiros anos, a forma como a informação flui através das estruturas do cérebro e é processada está em grande parte estabelecida. Estas vias e estruturas serão usadas e voltadas a usar à medida que a aprendizagem prossegue.

Parte do tremendo crescimento nos primeiros anos deve-se ao desdobramento dos genes, mas parte dele é resultado das primeiras experiências. Os ambientes do bebé começam a exercer influências nas células dentro do cérebro, desde o início. Apesar de a maioria das células cerebrais (neurónios) ser produzida antes do nascimento, estas estão fracamente ligadas. Grande parte das conexões entre os neurónios, chamadas sinapses, tem de ser criada depois. Consoante o cérebro amadurece, cada neurónio envia múltiplas ramificações para comunicar com outros neurónios. Há duas formas de ligar estas “linhas ramificadas” – algumas enviam informação (axónios) e outras recebem informação (dendrites). Pensa-se que a maior parte do crescimento do cérebro durante os primeiros anos se deve ao crescimento das dendrites, as linhas que captam a informação. Estas sinapses funcionam como linhas telefónicas entre células, permitindo que enviem mensagens umas às outras. O padrão individual de conexões de cada um forma a base de todo o movimento, pensamentos, memórias e sentimentos.

O cérebro do recém-nascido lembra uma rede de comunicações numa cidade onde as principais linhas existem em cada bairro, sendo, no entanto, necessários tempo e experiências para criar conexões específicas de casa para casa. Cada cérebro começa a fazer as suas associações particulares, com fios que crescem conforme são necessários.

O que isto significa para o seu filho: a aprendizagem começa muito antes da pré-primária. A cada hora de vigília de cada dia, são formadas novas conexões neuronais e modificadas através das interações físicas e verbais que o bebé estabelece com os pais, com os irmãos e com outros cuidadores. Chora e pegam nele e é estabelecida uma nova ligação: quando faço isto, acontece aquilo. Sempre que lhe batem nas costas, o alimentam, ou o levam para outro local, são feitas novas conexões. O cérebro evolui em resposta à experiência e ao ambiente. Na realidade, formar, refinar e eliminar conexões neuronais é a principal tarefa do desenvolvimento cerebral precoce. É o processo mágico que suporta todo o tipo de aprendizagem.

A rede de fios particular que o seu filho desenvolverá é especificamente dele. Mais ninguém no planeta – nem sequer um gémeo idêntico – poderá replicar a exata combinação desta marca da hereditariedade e da experiência.

Dica nº 3: o modo como o cérebro cresce pode ser influenciado pela forma como é usado

As crianças podem nascer numa espantosa série de situações de vida. Poderão ser embrulhadas em mantas de pelo de urso no frio ártico ou transportadas em faixas, pele contra pele, através de florestas tropicais. Poderão ouvir uma de centenas de línguas, com os seus inúmeros dialetos. Essas línguas nativas poderão ser expressadas aos berros, com dureza, por bêbedos, ou em vozes suaves, embaladoras e amistosas. Um bebé poderá ser propositadamente protegido das cruéis realidades da vida, ou atirado para “nadar ou ir ao fundo”, num bairro de pedintes. Desde o princípio, o cérebro começa a adaptar-se ao lugar e ao espaço onde aterrou.

Não existe um modelo único e específico para o crescimento do cérebro que cubra aquilo que será necessário para sobreviver em todos os ambientes possíveis. O cérebro começa apenas com um mandato geral: “Faz crescer as tuas conexões conforme for necessário.” Os cérebros são constituídos de forma a mudar para poderem ficar vivos! A sobrevivência depende da contínua adaptação a novas informações e condições mutáveis. Este instinto é inconsciente, mas poderoso. A rápida velocidade com que um jovem cérebro se adapta permite que o bebé ganhe a máxima vantagem no interior do clima, da cultura ou do sistema familiar em que lhe calhou nascer.

Durante o desenvolvimento inicial, serão formadas mais conexões do que as necessárias – biliões a mais! O cérebro de uma criança de dois anos normal, por exemplo, tem quase o dobro do número de conexões do vosso cérebro. As rotinas como comer, tomar banho e brincar fortalecem sinapses particulares, ao passo que as conexões que não são reforçadas pela repetição acabam por definhar. Este processo natural chama-se desbaste neuronal.

“Durante o desenvolvimento inicial, serão formadas mais conexões do que as necessárias – biliões a mais! O cérebro de uma criança de dois anos normal, por exemplo, tem quase o dobro do número de conexões do vosso cérebro.”

Dado que estamos condicionados para acreditar que mais é melhor, muitas pessoas partem do princípio de que construir sinapses é que interessa. Afinal de contas, ninguém gosta de pensar em “perder” alguma coisa! Mas o desbaste neuronal é um puro truque de sobrevivência humana que permite que um bebé se adapte a muitos possíveis cenários e condições diferentes. As conexões que são frequentemente usadas mantêm-se e são fortalecidas através do uso continuado. A um nível celular, este uso repetido de vias permite à energia que viaja entre os neurónios fluir com maior rapidez e eficácia, libertando assim energia de modo a conceder à pessoa que se especialize nessas ideias sons e conceitos com que trabalha mais frequentemente.

Ajuda imaginar as vias no cérebro como uma rede de estradas. Antes de começar o desbaste neuronal, quando precisamos de ir do local A para o local B, existem muitos percursos diferentes por pequenas estradas que podemos tomar para chegar lá. Com a experiência, aprendemos qual o percurso mais fácil e mais rápido e fazemo-lo com maior frequência, deixando de usar as outras estradas, mais pequenas e menos eficazes, para ir de A a B. A estrada que usamos mais vai-se alargando com o tempo e transformando-se numa estrada maior, acabando eventualmente como uma super-autoestrada, tornando a viagem de A para B rápida e fácil.

O número de conexões sinápticas atinge o pico nos primeiros anos de vida. Depois, estabiliza na primeira infância, sendo em seguida desbastado em cerca de 40 por cento no final da infância e na adolescência. Para vos dar uma ideia da atividade que ocorre, apenas entre os quatro e os dez anos, cerca de um bilião de sinapses são perdidas só na área do processamento visual do cérebro. Como é possível que tantas capacidades sejam desenvolvidas durante esse período, quando tantas conexões estão a ser perdidas? Tal deve-se ao facto de, enquanto o desbaste neuronal ocorre febrilmente, o mesmo se passa com outro processo chamado mielinização. Esta acelera e torna mais eficaz a comunicação entre as células cerebrais nas conexões que restam. A mielina é uma substância gordurosa que cresce para rodear a fibra nervosa, permitindo que os impulsos elétricos que viajam ao longo da fibra, quando as células cerebrais comunicam, fluam mais fácil e rapidamente. A mielinização ocorre em diferentes alturas em diferentes partes do cérebro e parece coincidir com o surgimento da melhoria de várias aptidões físicas e capacidades cognitivas. Por outras palavras, o cérebro está desenhado para aprender mais facilmente em determinados pontos do tempo. A mielinização é mais rápida durante os dois primeiros anos de vida – quando o cérebro processa uma grande quantidade de informação nova: linguagem, temperaturas, cores, sons, odores, texturas, causa e efeito, o que é um rosto, etc. –, mas prossegue durante a vida adulta, com a máxima velocidade de processamento neuronal a ser atingida durante os dez e os 20 anos.

As imagens [em baixo] mostram fatias do cérebro que foram aumentadas de modo a revelar os neurónios individuais e as conexões entre neurónios. A imagem da esquerda apresenta alguns dos neurónios presentes ao nascimento. Reparem que existem poucas ligações entre eles.

A do centro mostra a explosão da atividade neuronal na altura em que a criança tem seis anos. Não admira que os miúdos da primeira classe sejam tão ativos e difíceis de sossegar! No seu mundo, tudo está ligado a todas as coisas.

O cérebro de uma criança de seis anos está animado de conexões neuronais. Reparem no emaranhado de árvores neuronais, cheias de dendrites cerradas. A aprendizagem é quase sem esforço, embora os traços como o autocontrolo tenham de esperar que as vias inibidoras sejam mais tarde esculpidas no interior desta massa de ligações excessivas. (…)

Cerca dos 14 anos (à direita), o cérebro começou a desbastar as conexões raramente usadas e que não formaram circuitos permanentes. (Se tiver um jovem adolescente, poderá brincar com ele, mostrando-lhe aqui a prova viva de que está a perder a cabeça!) Um exemplo do tipo de conhecimento que se perde: quando andavam na quarta classe, era importante saber o nome da rapariga que se sentava ao seu lado na sala. Agora, anos mais tarde, saíram da terra natal e deixaram de ter necessidade de saber o nome da rapariga. Esse tipo de informação pode ser desbastado sem qualquer “custo” para o cérebro.

O que isto significa para o seu filho: as conexões que são formadas e as conexões que acabam por ser retidas são moldadas pelas experiências iniciais de cada um. Como pai, tem o poder de influenciar alguns dos tipos de “estradas” que são construídas e as que serão mais frequentemente percorridas no cérebro do seu bebé. Fatores essenciais: repetição, rotina e reforço positivo.

Dica nº 4: a estruturação inicial do cérebro é resistente à mudança

Eis mais provas de que os recém-nascidos e a primeira infância merecem atenção especial: essas estruturas cerebrais que se estabelecem mais cedo fornecem uma espécie de “molde organizacional”, que influencia o futuro crescimento e desenvolvimento. As primeiras partes do cérebro a serem organizadas são as que menor probabilidade têm de mudar. Por exemplo, os sistemas cerebrais iniciais a serem estruturados, pré-natalmente e durante os primeiros meses, são os que regulam a tensão arterial, o ritmo cardíaco e a temperatura corporal. É óbvio que ninguém deseja que esses sistemas biológicos vitais variem radicalmente de um momento para o outro.

As estruturas cerebrais envolvidas no processamento das emoções são também estabelecidas muito cedo. É crucial conhecer este facto porque estas estruturas ajudam a preparar a reatividade emocional, a capacidade de escolher apropriadamente as reações emocionais em relação à situação presente. Embora o sistema emocional seja mais adaptável do que as regiões cerebrais que sustentam as funções corporais vitais, não deixa de ser bastante resistente à mudança.

O que isto significa para o seu filho: esta noção de que quanto mais cedo é estabelecido um sistema, mais resistente se torna à mudança constitui ao mesmo tempo uma boa e uma má notícia. A boa notícia: os efeitos de ter um forte começo emocional provavelmente persistirão, o que traz repercussões positivas para a grande parte do desenvolvimento cerebral que se segue. Se uma criança tiver um forte começo emocional, provavelmente será resistente e capaz de enfrentar mais tarde os fatores stressantes da vida. Todos os sistemas que processam a informação necessária para estabelecer uma base estável, para toda a vida, do melhor tipo para a aprendizagem, florescem num ambiente previsível, fornecido por pais que:

  • Criam experiências interessantes.
  • Asseguram uma forte sensação de segurança.
  • Pegam e tocam ternamente o seu filho com frequência.
  • Partilham coisas interessantes que podem ser vistas e ouvidas.

A má notícia, contudo, é que o contrário é também verdade: se as crianças viverem em ambientes caóticos, desatentos e abusivos, os seus efeitos serão da mesma forma resistentes à mudança.

Dica nº 5: nunca é tarde!

Se tiver um filho já perto dos três anos ou mais velho, quero que pare agora para o encorajar: “Respire fundo!” Por vezes, vejo pais que, depois de saberem como os primeiros anos são cruciais, ficam nervosos e lamentam todas as coisas que receiam não ter feito “bem”. (Talvez devesse ter lido mais ao meu bebé… Eu sabia que devia ter insistido para que a Rachel tivesse aulas de música… Quem me dera não ter permitido que a minha irmã ficasse a fazer de babysitter todos os dias, só porque precisava do dinheiro depois do divórcio…) Quaisquer que sejam os remorsos, livre-se deles. Uma das minhas citações preferidas é de Maya Angelou, que sintetiza uma importante lição: Fiz o que sabia. E quando sabia mais, fazia melhor. Cada um faz o melhor que pode com a informação que tem, e as probabilidades são de que o bebé esteja a florescer. Não é toda a pequena escolha que determina se o seu filho irá desabrochar, mas o padrão geral de amor, segurança e estimulação que lhe fornece.

“A ciência torna claro que o cérebro do bebé não para de crescer e de aprender aos três anos. Nunca é ‘tarde demais’ para influenciar as ligações do cérebro. Nunca é tarde demais para melhorar a qualidade de vida de uma criança. Não é tarde demais aos três ou aos cinco anos; não é tarde demais aos 14. Nunca é tarde demais.”

A ciência torna claro que o cérebro do bebé não para de crescer e de aprender aos três anos. Nunca é “tarde demais” para influenciar as ligações do cérebro. Nunca é tarde demais para melhorar a qualidade de vida de uma criança. Não é tarde demais aos três ou aos cinco anos; não é tarde demais aos 14. Nunca é tarde demais.

O cérebro possui uma notável capacidade, durante toda a vida, para se reorganizar em resposta à informação que recebe do meio ambiente. Os investigadores chamam -lhe plasticidade neuronal e ocorre em todas as idades. A plasticidade neuronal consiste em vários processos diferentes que os investigadores só agora começam a compreender, envolvendo ao mesmo tempo aumentos no número de conexões entre os neurónios e mudanças físicas na forma e estrutura dessas conexões. Pensa-se que, ao longo da vida, a plasticidade neuronal está subjacente a todo o tipo de aprendizagem e memória e explica como o cérebro recupera várias funções quando ocorre um dano traumático.

Quanto mais velhos somos, porém, mais tempo esta “religação” em resposta à experiência poderá demorar; um começo que não seja o ideal na primeira infância poderá significar uma jornada pela vida cheia de problemas não antecipados, ou dispendiosos conselhos e terapias profissionais. Muitos tipos de intervenção são por vezes bem-sucedidas, desde o recondicionamento do cérebro de uma criança disléxica que a ajude a ler melhor até à terapia física de irregularidades psicomotoras. Mas exigem tempo, esforço e dinheiro.

O que isto significa para o seu filho: terá mais de uma estreita oportunidade de três anos para “conseguir ou quebrar” as hipóteses de sucesso do seu filho na vida (ou na entrada para Harvard). Uma criança de qualquer idade beneficiará da atenção/ligação/comunicação. O principal valor da atenção inicial a estes aspetos essenciais nos primeiros três anos é a prevenção. Se tiver a sorte de começar com uma criança normal e saudável, as coisas básicas que fizer para evitar alguns dos percalços da vida poderão ter poderosas repercussões. Como dizia muito bem numa recente campanha mediática californiana acerca da importância dos primeiros anos para o desenvolvimento precoce do cérebro: “As vossas escolhas… moldam as hipóteses deles.” A coisa mais importante que um pai pode fornecer é uma relação carinhosa e estável que conduza a interações frequentes, significativas e recetivas com o seu bebé ou criança pequena. A prevenção faz poupar tempo, dinheiro e desgostos – e não é difícil de conseguir.

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