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Nutrição nos primeiros estágios da vida – a base para a saúde e o bem-estar ao longo dos anos

Nutrição nos primeiros estágios da vida – a base para a saúde e o bem-estar ao longo dos anos

A nutrição nos primeiros estágios de vida representa uma oportunidade única de causar um impacto positivo no futuro da saúde de cada bebê. A nutrição é a base para o desenvolvimento saudável, crescimento, aprendizagem e desempenho durante os primeiros anos de vida.

Por isso, além de nos focarmos no bebê após o nascimento, o atual entendimento da nutrição nos primeiros estágios de vida também abrange o período pré-natal. Assim, para nos beneficiarmos plenamente da nutrição sob medida durante os “primeiros 1000 dias”, devemos começar desde o início da gravidez.

Nutrição durante a Gravidez – Comer por dois?

A resposta a esta velha questão é tanto “não” quanto “sim”. Por um lado, as mulheres grávidas devem evitar a ingestão excessiva de calorias, que resultam em ganho de peso, para prevenir complicações e melhorar as condições da gravidez. Por outro lado, elas devem certificar-se de que estão atendendo ao aumento da demanda por nutrientes essenciais, principalmente aquelas mulheres que já estão comprometidas nutricionalmente.

Há um consenso global entre a comunidade médica de que a ingestão em níveis suficientes de ácido docosahexaenóico (DHA), originado do ômega 3, é de extrema importância durante a gravidez. As sociedades de pediatria e nutrição, em todo o mundo, estão gradualmente introduzindo os níveis de ingestão adequados. Esse é o primeiro passo para a nutrição eficaz e saudável de um bebê.

Leite materno – O “superalimento” universal para os bebês

O leite materno é o alimento ideal para os bebês. É por isso que a Organização Mundial de Saúde recomenda o aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses e, após esse prazo, amamentação pelo máximo de tempo possível. O leite materno atende às necessidades dos bebês, fornecendo nutrientes adequados às diferentes fase de desenvolvimento. Uma mãe que amamenta gera cerca de 800 ml de leite/dia, em média. Isto leva a um aumento das necessidades de energia, e de macro e micronutrientes.

Um aumento das necessidades de energia e proteínas é mais fácil de ser suprido com a ingestão diária de alimentos, enquanto os nutrientes essenciais, tais como vitamina D, ácido fólico, ferro, zinco, iodo, cálcio e ácido graxo, e ômega-3 DHA podem exigir um esforço adicional. Formuladores que customizam suplementos para as mulheres que amamentam têm uma responsabilidade importante de atender às necessidades vitais da mãe e da criança. Esta responsabilidade é estendida ao escolher os fornecedores de ingredientes, dando preferência àqueles que garantem uma qualidade consistente.

Fórmulas Infantis – A melhor escolha caso não seja possível amamentar

As fórmulas infantis são a escolha certa quando a mãe não pode ou opta por não amamentar o seu bebê. Estas fórmulas possuem uma composição semelhante a do leite materno, podendo ser utilizada para a alimentação exclusiva ou em combinação com leite materno. Para refletir as variações no leite humano durante o período de lactação, existem dois tipos: fórmulas iniciais (desde o nascimento até 6 meses) e fórmulas de transição (a partir de 6 – 12 meses de idade). As principais diferenças entre as fórmulas iniciais e de transição estão relacionadas ao tipo e quantidades de proteínas e carboidratos.

Um fator importante sobre a nutrição infantil é a segurança. É fundamental evitar a contaminação da fórmula durante o processamento e manuseio. Avanços em embalagens e aplicação, como os formatos prontos para consumo e porções individuais, são passos importantes para tornar os produtos mais seguros. Por isso, deve-se garantir que os fornecedores de ingredientes para as fórmulas sejam os mais recomendados e com níveis de qualidade excelentes. Essa escolha tem um impacto muito grande quando falamos de uma nutrição segura e eficaz.

Leite de crescimento (Growing-up milk) – Elaborado para preencher a lacuna nutricional

Em uma fase mais avançada da primeira infância, o leite de crescimento é uma importante fonte de nutrientes para as crianças pequenas. Novamente, há dois tipos de produtos: leite para crianças entre 12 e 36 meses e o leite pré-escolar (para crianças de 3 anos ou mais).

Nos países desenvolvidos, a necessidade do leite de crescimento é algumas vezes debatida. Crianças menores que 1 ano de idade seriam capazes de consumir alimentos normais e várias recomendações nutricionais são estabelecidas para planos alimentares específicos por idade. No entanto, é difícil cobrir as necessidades nutricionais das crianças através de uma dieta equilibrada, composta exclusivamente de alimentos naturais e não fortificados, o que reflete os desafios ao introduzir os alimentos da família.

O leite de vaca, por outro lado, não é a melhor opção para compensar a deficiência de micronutrientes, pois possui níveis muito elevados de proteína. O alto consumo de proteínas durante a infância deve ser evitado, uma vez que pode levar a um risco aumentado de sobrepeso e obesidade na infância e na vida adulta.

Recentemente, um painel de especialistas concluiu que o leite de crescimento é uma fonte importante de nutrientes, não só para as crianças em risco de desnutrição protéico-energética. Ele também compensa deficiências nutricionais que podem ocorrer na fase de transição da nutrição infantil para a nutrição familiar ou como consequência do estilo de vida agitado ou escolhas alimentares inadequadas na família.

Quais nutrientes demandam atenção especial durante a Nutrição nos Primeiros Estágios de Vida?

DHA – Food for thought (alimento para o raciocínio)

O ácido docosahexaenóico (DHA), originado do ômega 3, é um componente integral da membrana celular e, como tal, está envolvido na funcionalidade de células normais, especialmente na retina e no cérebro. Há provas convincentes de estudos em humanos de que o DHA aumenta significativamente o desenvolvimento da acuidade visual.

A primeira infância é a fase fundamental do desenvolvimento do cérebro: um salto de crescimento especial ocorre a partir do último trimestre da gravidez até os 2 anos de idade. Com a idade de 5 anos, a massa cerebral terá aumentado cerca de 3,5 vezes em relação ao nascimento e em torno de 90% da arquitetura cerebral já está estabelecida. Sendo baixa a formação natural de DHA, o fornecimento nutricional adequado é essencial para assegurar condições ótimas para o desenvolvimento estrutural do cérebro, crescimento dos neurônios e diferenciação.

Além desses benefícios comprovados no desenvolvimento estrutural do cérebro, o DHA parece ter um impacto direto sobre as funções cognitivas. Estudos recentes trazem evidências de que a suplementação com DHA em crianças melhora significativamente o desempenho cognitivo na aprendizagem, memória e velocidade de processamento da informação em crianças. Estes são fatores importantes em uma ampla gama de competências como raciocínio e resolução de problemas.

Considerando que a ingestão de DHA de um bebê ou de uma criança é geralmente baixa, a suplementação adequada de DHA (através do leite de crescimento) pode contribuir significativamente no alcance das metas de desenvolvimento da criança. Escolher um fornecedor com expertise na produção de um DHA com baixo sabor residual, ajuda a garantir formulações mais saborosas.

Vitamina D – Argumentos fortes para ossos fortes

Artigos publicados nos últimos anos discutem as implicações da insuficiência de vitamina D em uma infinidade de plataformas de saúde. A vitamina D nos primeiros estágios de vida é mais relevante para a prevenção de raquitismo e para garantir funções imunes normais e, portanto, apoiar o crescimento e desenvolvimento normal.

Apesar da consciência generalizada, a situação do suprimento real em mulheres grávidas, bebês e crianças é alarmante e já foi identificado que a alta prevalência de insuficiência de vitamina D em mulheres grávidas e crianças está em todas as partes do mundo. Assim, a prevalência de raquitismo está aumentando. Um grupo mundial de especialistas publicou recentemente as Recomendações Consensuais sobre a Prevenção e Gestão do Raquitismo. Os especialistas defendem a suplementação de vitamina D para todas as mulheres grávidas (600 U.I/dia) e bebês (400 U.I/dia), independente do modo de alimentação.

Para onde vamos?

Muitos estudos lançam luz sobre conexões potenciais entre a saúde de adultos e o estado nutricional durante os primeiros 1000 dias de vida. Por exemplo, sabemos hoje que a saúde e o estado nutricional das mães durante o período pré-natal, e mesmo na fase preconcepção, está ligado ao risco de obesidade e desenvolvimento de diabetes tipo 2.

Alimentar a mãe e o bebê é – e continuará sendo – o principal tema da Nutrição nos Primeiros Estágios de Vida. Novas perspectivas animadoras na área da epigenética e programação metabólica irão abrir novas oportunidades para as estratégias nutricionais dos formuladores. Com as evidências científicas já estabelecidas, fica claro que o apoio nutricional, para a mãe e para o bebê, é fundamental para a saúde e o bem-estar ao longo da vida das crianças.

por, Marianne Heer, gerente de Marketing Científico de Nutrição Humana, BASF

segs

Nutrição nos primeiros estágios da vida – a base para a saúde e o bem-estar ao longo dos anos

Agência da ONU lança espaço virtual para troca de informações sobre alimentação e nutrição

Atualmente, a RedeNutri tem mais de 35 mil usuários

A Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS) lançou, em 29 de outubro, em Porto Alegre um espaço virtual (clique aqui) para a troca de informações e experiências sobre alimentação e nutrição.

Resultado de uma parceria entre OPAS/OMS, Ministério da Saúde e o Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição (da Universidade de Brasília), o portfólio da Rede de Alimentação e Nutrição do Sistema Único de Saúde (RedeNutri) foi apresentado durante o 24º Congresso Brasileiro de Nutrição (Cobran). O material faz parte da Biblioteca Virtual de Saúde, operada pelo Centro Latino Americano de Informação em Ciências da Saúde (Bireme).

Atualmente, a RedeNutri tem mais de 35 mil usuários, entre nutricionistas, estudantes, pesquisadores, professores, gestores e diversos outros profissionais do setor público e privado, além de organizações não governamentais.

A variedade de participantes tem qualificado debates e proposições da rede. Professores podem utilizar o espaço para indicar cursos on-line, exibir vídeos, analisar casos didáticos, enquanto os alunos têm acesso a diversas publicações recentes e gratuitas. Os gestores e outros profissionais também podem utilizar os recursos da RedeNutri para formação, atualização e educação permanente.

De acordo com a consultora de nutrição da Opas/OMS no Brasil, Alice Medeiros, a participação é aberta, sendo necessário apenas um cadastro on-line. “Todos os participantes podem contribuir com a rede, compartilhando suas ideias por meio de textos, notícias, vídeos, relatos de experiências, fóruns, entre outras atividades. Uma equipe de moderação busca garantir que o debate seja sempre respeitoso, democrático e ético”, explicou Alice.

Acesse abaixo as publicações apresentadas pela Opas/OMS durante o 24º Congresso Brasileiro de Nutrição:

equipe eCycle

Fonte: ONUBr

Nutrição nos primeiros estágios da vida – a base para a saúde e o bem-estar ao longo dos anos

Chia, quinoa, goji berry: eles são mesmo ‘super alimentos’?

QuinoacopyrightTHINKSTOCK
A quinoa perde algumas propriedades ao ser lavada antes doc consumo

Da perda de peso até a prevenção do câncer, a lista de efeitos associados aos chamados “super alimentos” em blogs e artigos na internet é impressionante.

Mas será que esses resultados são baseados na realidade? É justamente isso que um artigo na revista New Scientist, especializada em ciências, tenta responder na edição desta semana.

O termo “super alimento” é usado para descrever produtos muito ricos em nutrientes e considerados especialmente benéficos para a saúde. Não se trata, no entanto, de uma definição científica, mas de uma nomenclatura mais bem empregada para fins comerciais.

Em 2007, a União Europeia proibiu o uso do termo em embalagens de alimentos, a não ser que houvesse uma referência a uma propriedade específica fundamentada em estudos de qualidade.

Independentemente disso, a paixão pelos super alimentos segue ganhando adeptos.

Segundo a New Scientist, em uma pesquisa recente feita no Reino Unido com mil pessoas, 61% admitiram ter comprado produtos por considerá-los como “super alimentos”. A publicação britânica decidiu, portanto, investigar que tipo de prova científica existe sobre os benefícios de alguns dos mais populares.

Uma dica? “Os super alimentos são um truque mercadológico”, disse à revista a nutricionista Duane Mellor, da Universidade de Canberra, na Austrália.

A BBC Brasil preparou uma seleção de alguns dos super alimentos investigados pela New Scientist.

Goji BerrycopyrightTHINKSTOCK
Há poucos estudos sobre os benefícios reais das goji berries

1. GOJI BERRY

Os frutos vêm de uma planta originária da China, onde são utilizadas na medicina tradicional, que considera que eles fortalecem o sistema imunológico, estimulam a libido e protegem contra doenças cardiovasculares e câncer.

A New Scientist ressalta, no entanto, que não podemos esquecer que a medicina chinesa também valoriza o pó dos chifres de rinocerontes.

A verdade é que há poucos estudos sobre as propriedades das goji berries. A maioria das pesquisas existentes se baseiam apenas em um dos componentes dos frutos, os chamados Polissacarídeos do Lycium barbarum (PLB).

“Mas há razões para ser cético”, diz a revista britânica. “Poucos estudos definem exatamente o que são os PLB e não há pesquisas mostrando os efeitos em seres humanos”.

Outra afirmação em torno da goji berry é a de que elas contêm altos níveis de zeaxantina, um pigmento relacionado à prevenção de doenças degenerativas da visão associadas à velhice.

“Outros alimentos têm o mesmo efeito e são mais baratos. Se quer consumir zeaxantina, pode encontrá-la no espinafre, repolho ou pimentões amarelos”, disse Catherine Collins, nutricionista do Hospital St. George, em Londres.

Sobre a vitamina C, as goji berries contêm níveis mais elevados que os mirtilos, mas é possível obter a mesma quantidade em limões ou morangos.

Veredito: simplesmente um fruto.

 

QuinoacopyrightAFP
Ainda não se sabe muito sobre as propriedades da quinoa

2. QUINOA

Alguns estudos já mostraram que substituir cereais por quinoa pode ajudar a reduzir o colesterol e ajudar na perda de peso.

Mas, segundo a New Scientist, o número de participantes nesses estudos é tão reduzido que não é possível extrair conclusões sólidas.

Uma das pesquisas, por exemplo, foi conduzida pelo departamento de nutrição da Universidade de São Paulo com apenas 35 mulheres.

Os benefícios da quinoa citados acima são atribuídos a substâncias chamadas saponinas, que atuariam na alteração da permeabilidade do intestino.

Mas ao lavar a quinoa antes do consumo, como se costuma fazer, as saponinas são eliminadas, junto com seus benefícios.

O nutricionista Thomas Simnadis, da Universidade e Wollongong, na Austrália, disse à New Scientist que não sabemos muito sobre as propriedades da quinoa.

Veredito: coma se você gosta, mas não pelos benefícios para a saúde.

 

MirtilocopyrightTHINKSTOCK
As provas são ‘promissoras’ sobre os benefícios do consumo de mirtilos.

3. MIRTILOS

Os mirtilos são frequentemente apreciados pela capacidade de reduzir o risco de doenças cardiovasculares.

Um estudo do departamento de nutrição da Universidade de East Anglia de 2012, feito com 93 mil mulheres, mostrou que as participantes que consumiram três ou mais porções de mirtilos e frutas por semana corriam 32% menos riscos de sofrer um ataque cardíaco do que aquelas que ingeriram essas frutas apenas uma vez ao mês.

Segundo a New Scientist, as “provas são promissoras”.

Esses benefícios podem ser atribuídos a compostos chamados de antocianinas, da família dos flavonóides.

De acordo com Gordon McDougall, do Instituto James Hutton, em Dundee, no Reino Unido, apenas uma proporção pequena destes compostos entra na corrente sanguínea.

Não se sabe se são outras substâncias, produtos da decomposição de antocianinas que carregam os benefícios ou se antocianinas atuam melhor no escossistema de micróbios no nosso intestino.

Veredito: super, mas não melhor que outras frutas.

 

ChocolatecopyrightTHINKSTOCK
O chocolate amargo têm propriedades benéficas, mas quase sempre é misturado a muito açúcar e gordura

4. CHOCOLATE AMARGO

O benefício potencial mais citado do chocolate se relaciona aos chamados flavonóis, compostos encontrados no cacau.

Estudos em colônias celulares e em roedores já mostraram que os flavonóis do cacau aumentam a produção de ácido nítrico, um precursor do óxido nítrico, que regula a pressão sanguínea.

Mas a New Scientist ressalta que os estudos em humanos encontraram resultados contraditórios.

Uma revisão de vários estudos realizada em 2012 por cientistas australianos concluiu que o chocolate rico em flavonóis, o mais escuro e amargo, pode reduzir ligeiramente a pressão, pelo menos no curto prazo.

Mas é necessário realizar mais estudos para determinar se esse impacto é duradouro.

E os efeitos promissores devem ser equilibrados com o fato de que a maiorira dos fabricantes mistura o cacau a grandes quantidades de açúcares e gorduras.

Veredito: tudo bem consumir ocasionalmente, mas não se justifica ingeri-lo em grandes quantidades pelos potenciais benefícios.

Sementes de chia
A semente de chia é uma fonte de ômega 3.

5. SEMENTES DE CHIA

Os maias usavam as sementes de chia para fazer desde farinha até chá. É um dos super alimentos que mais está na moda e é possível afirmar que é uma grande fonte de ômega 3, os ácidos graxos que, acredita-se, reduzem o risco de doenças cardiovasculares e depressão.

Cada cem gramas de sementes de chia contêm aproximadamente 17 gramas de ômega 3. Uma porção de salmão do Atlântico, por exemplo, carrega cerca de 2,2 gramas da substância.

Mas diferentemente do salmão, ao ácidos graxos das sementes de chia estão em forma de ácido alfalinolênico (ALA) que o organismo conv erte em outros ácidos: o ácido icosapentaenóico (EPA) e o ácido docosahexaenóico (DHA) para obter benefícios cardiovasculares.

E esta conversão tem uma eficiência de apenas 10%, portanto a quantidade de EPA e DHA para cada 100 gramas de chia é de 1,7 grama – menor que o caso do salmão.

Para obter ácidos graxos ômega 3, recomenda-se moer as sementes.

Veredito: boas, mas alguns pescados são mais ricos em ácidos graxos ômega 3.

Nutrição nos primeiros estágios da vida – a base para a saúde e o bem-estar ao longo dos anos

A maratona para pôr fim à má nutrição no mundo

Como corredor entusiasmado que sou, estou muito animado de estar no Rio de Janeiro esta semana para o início dos Jogos Olímpicos de 2016. Mas não estou aqui para aproveitar o clima que lembra o do Carnaval ou para torcer para o meu país, a Etiópia.

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Na verdade, estou participando de outro grande evento que acontece no Rio. Na véspera da Cerimônia de Abertura, líderes globais se reuniram na Casa Brasil para o evento Nutrição para o Crescimento (Nutrition for Growth – N4G) – um momento chave e uma oportunidade importante para ajudar a resolver um problema do tamanho de uma Olimpíada: a má-nutrição infantil.

Estou particularmente empolgado em participar de um evento organizado pelo governo do Brasil, pois este é um país que melhorou significativamente seus indicadores de segurança alimentar e nutrição nas últimas décadas. A experiência brasileira mostra que compromissos políticos de longo prazo podem se transformar em resultados reais.

Os índices de atraso no crescimento infantil foram reduzidos de 19% para 7% entre 1989 e 2007, enquanto a taxa de aleitamento materno exclusivo entre bebês abaixo dos seis meses de vida pulou de 2% em 1986 para 39% em 2006.

Com todos os países alinhados em torno de metas globais ambiciosas – incluindo o objetivo de acabar com todas as formas de má-nutrição até 2030 – o que podemos aprender com o Brasil para alcançar resultados globais?

O recém-lançado Relatório Mundial sobre Nutrição 2016 detalha bem o compromisso político do Brasil em nutrição, mas há algumas razões específicas para o sucesso do país nesta área. Elas incluem o aumento de renda das famílias mais pobres, pressões de movimentos sociais da sociedade civil para acabar com a fome, mecanismos para coordenar planos e atividades de diferentes departamentos de governo, o uso de dados e de evidência científica para direcionar esforços e a criação de uma legislação que protege a população contra o marketing dos substitutos do leite materno.

Muitos países do mundo agora têm planos para melhorar seus indicadores de nutrição – e alguns deles inclusive se espelham na experiência brasileira. Mas ainda estamos muito longe de atingirmos nossas metas coletivas.

Mais de metade das seis milhões de mortes anuais entre crianças com menos de cinco anos de idade são causadas por uma alimentação deficiente; uma em cada quatro crianças com menos de cinco anos no mundo apresenta atraso de crescimento – o que tem implicações para seu desenvolvimento psicológico e cognitivo – e uma em cada nove pessoas no mundo ainda passa fome.

Sabemos que investir em nutrição dá resultado. Cada dólar investido em programas que já se provaram efetivos gera 16 dólares de retorno financeiro. Mesmo assim, ainda se gasta pouco nesta área.

No evento Nutrição para o Crescimento (Nutrition for Growth), que acontece hoje no Rio de Janeiro, o Brasil será o anfitrião e receberá representantes de governos, organizações internacionais e da sociedade civil.

Esse encontro serve como o ponto de partida para uma segunda fase da iniciativa Nutrição para o Crescimento, na qual serão firmados novos e sólidos compromissos políticos e financeiros em nutrição e que culminará com uma cúpula global a ser realizada em 2017.

Um maior investimento em nutrição é urgentemente necessário se quisermos ampliar as ações para alcançar os objetivos estabelecidos no combate à fome e efetivamente conseguir avanços capazes de salvar vidas e melhorar economias.

A organização que eu represento, a Visão Mundial, fez um compromisso financeiro na primeira edição do Nutrição para o Crescimento, em Londres em 2013, evento que foi organizado pelos governos do Reino Unido e Brasil.

Na ocasião, nos comprometemos a gastar quase 1,2 bilhões de dólares em intervenções específicas na área de nutrição, como suplementações de micronutrientes, programas de amamentação e políticas de combate à subnutrição severa. Essas ações também englobam componentes de nutrição em nossos programas de agricultura e de desenvolvimento econômico.

Nossas experiências ao redor do mundo alimentam a nossa convicção de que nós podemos e temos o dever de trabalhar por um mundo livre da fome e da má nutrição.

Estamos investindo em programas como o “Clube de Nutrição” no Vietnã, que conecta famílias a oportunidades relacionadas a nutrição, saúde, agricultura e meios de subsistência. Até agora o programa já foi estendido para 1.250 vilas em áreas rurais e montanhosas de 12 províncias.

Estamos ajudando a melhorar indicadores nutricionais em alguns dos lugares de mais difícil acesso do mundo. Em 2015, a Visão Mundial trabalhou com ministérios da Saúde de 12 países, incluindo Afeganistão e Paquistão, para tratar mais de 150 mil crianças com menos de cinco anos que corriam risco de morte por subnutrição severa. Durante o mesmo período, levamos programas de alimentação suplementar a cerca de 60 mil grávidas e mulheres em período de aleitamento em sete países.

Além disso, estamos preparando a próxima geração do movimento social no Brasil com o objetivo de empoderar crianças e jovens. No Brasil, isso significa apoiar uma iniciativa chamada MJPOP (Monitoramento Jovem de Políticas Públicas) que prepara jovens para liderar processos políticos em suas comunidades. Eles são treinados para identificar problemas e trabalhar junto com moradores locais.

O objetivo é avaliar a disponibilidade e qualidade dos serviços e preparar um plano de ação em conjunto com o governo e outros atores sociais. O trabalho do MJPOP, que reúne mais de mil adolescentes e jovens de 30 cidades no país, já gerou impactos nas áreas de saúde e nutrição, educação, proteção infantil e saneamento básico.

A multidão presente no Rio esta semana nos mostra que milhares de pessoas são necessárias para realizar um evento como as Olimpíadas. Os Jogos Olímpicos seriam um fracasso se, por exemplo, os atletas, ou responsáveis pela construção dos estádios, ou ainda membros do governo municipal se recusassem a colaborar. A mesma coisa vale para o esforço de pôr um fim à fome e à má nutrição.

Eu espero e rezo para que, sob a liderança do Brasil, os governos e outros atores envolvidos aproveitem a oportunidade de ouro do evento Nutrição para o Crescimento e a cúpula global que acontecerá em 2017 para dar passos largos nesta maratona tão necessária para acabar com a má nutrição e construir um mundo livre da fome.

* Dr. Mesfin Teklu é o Vice Presidente de Saúde e Nutrição da Visão Mundial Internacional. Ele tem mais de 20 anos de experiência nas áreas de saúde pública, nutrição e assistência humanitária.

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