src="https://cdnjs.cloudflare.com/ajax/libs/reading-time/2.0.0/readingTime.min.js
Alguns dias sem se exercitar já afetam o cérebro

Alguns dias sem se exercitar já afetam o cérebro

Ficar um pouco mais de uma semana sem se movimentar reduz o fluxo sanguíneo na cabeça

cérebro e exercício

Foto: Alex Silva

É normal, durante um período atribulado no trabalho, que a primeira coisa eliminada da rotina seja a atividade física. Ora, quem nunca abandonou a academia por uma semaninha pelo menos? Pois saiba que pausas assim já são capazes de trazer consequências para o cérebro. A descoberta vem da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. Para o trabalho, foram recrutadas pessoas superativas entre 50 e 80 anos, todas com um histórico de 15 anos de práticas físicas, sendo no mínimo quatro horas de exercícios intensos por semana.  Para ter ideia, essa turma corria o equivalente a 10 quilômetros por dia.

 

Os cientistas mediram a velocidade do fluxo sanguíneo no cérebro dos voluntários enquanto eles ainda estavam seguindo sua rotina normal de treinos e também depois de 10 dias sem nenhuma atividade física. Descobriu-se, então, que esse tempo “de molho” fez o fluxo sanguíneo diminuir significativamente em oito regiões da massa cinzenta, incluindo áreas do hipocampo. E é aí que mora o perigo. Essas regiões do cérebro tem um importante papel no processamento da aprendizagem e da memória – tanto é que são os primeiros locais a encolher entre pessoas com Alzheimer. Segundo os autores, os dados reforçam: quanto menos exercícios físicos, maior o risco de declínio cognitivo.

POR THIAGO CASTRO

Alguns dias sem se exercitar já afetam o cérebro

A Ciência diz que você vai ser muito mais feliz se sua mente vaguear menos

Nossas mentes são uma máquina errante. Um estudo descobriu que quase metade dos nossos pensamentos não estão relacionados com o que estamos fazendo. Esse fato levanta questões: “Como esta atividade cerebral afeta nossa felicidade?” E “Faz-nos mais felizes (ou não)?”

Muitas pesquisas sobre os fatores que contribuem para a felicidade focam em fatores como renda, gênero, educação e casamento, mas como o psicólogo de Harvard Matt Killingsworth mencionou em Greater Good, “Fatores como estes não parecem ter efeitos particularmente fortes.”

Parece, de acordo com Killingsworth, que os aspectos fugazes de nossas vidas, como o que estamos fazendo, com quem estamos, e o que estamos pensando, têm uma grande influência sobre a nossa felicidade. E, no entanto, estes são os fatores que mais difíceis para os cientistas para estudarem. Isso levou Killingsworth e Daniel T.Gilbert a testarem a influência que esses fatores têm sobre a felicidade.

A pesquisa

a ciência2O Segredo – Jovem

O estudo de Harvard intitulado “A Wandering Mind is an Unhappy Mind” (Uma Mente Vagante é uma Mente Infeliz”, fez uso de uma técnica não convencional conhecida como experiência de amostragem – onde as pessoas foram interrompidas em vários intervalos durante o dia. Esta técnica é extremamente poderosa. Ela permite que você encontre grandes padrões de pensamento e comportamento humano, desenvolva um retrato de alguém, e encontre correlações distintas entre pensamentos, ações e felicidade.

Os psicólogos desenvolveram um aplicativo para iPhone para provarem pensamentos, sentimentos e ações em curso. Em intervalos ao longo do dia, as pessoas recebiam um breve questionário sobre a sua experiência naquele momento, pouco antes do sinal.

Perguntaram como elas se sentiam (em uma escala de muito mal a muito bem), o que estavam fazendo (22 atividades, incluindo assistir televisão e comer foram eram as opções) e se estavam pensando em outra coisa. Elas podiam responder sim ou não a esta última pergunta. Se respondessem que estavam pensando em outra coisa, perguntavam se os sentimentos eram neutros, desagradáveis ou agradável.

Um grupo diverso – com idades entre 18 a 80 anos, representando uma ampla gama de renda, níveis de escolaridade e status conjugal e nacionalidades – de 15.000 pessoas fez parte da amostra. Isto permitiu que os pesquisadores reunissem mais de 650 000 relatórios em tempo real.

Nossa mente vagueia ao redor Infelicidade

O estudo constatou que em 47% das vezes, as pessoas estavam pensando em outra coisa que não a sua atividade atual. Isto variou entre as 22 atividades – de 65% na atividade tomar banho, 50% quando se trabalha, 40% durante exercícios, e 10% durante relações íntimas. Nossas mentes trabalham uma quantidade considerável de tempo, mesmo quando estamos descansando e seguindo as instruções de não pensarmos em nada, em particular.

De acordo com a psicologia, se a sua mente vagueia muitas vezes, há uma chance de 85% de você estar inconscientemente infeliz com sua vida. Este estudo apoia esta afirmação. Verificou-se que as pessoas eram significativamente menos felizes quando suas mentes estavam vagando, do que quando não estavam, e o tamanho do efeito é considerável. Nas palavras de Killingsworth:

“… A frequência com a qual a mente de uma pessoa divaga, e no que ela pensa quando isso acontece, mostra muito mais a felicidade dessa pessoa do que a quantidade de dinheiro que ela tem, por exemplo.”

Isto é válido para todas as 22 atividades. Isto pode ser explicado pelo fato de que quando nossas mentes vagam, muitas vezes pensamos sobre coisas negativas e desagradáveis – nossas preocupações, ansiedades, e até mesmo os nossos arrependimentos. Estes, por sua vez, têm um grande impacto sobre a nossa felicidade.

Como a presença mental afeta a felicidade

Os dados do estudo Grupo Harvard também apontam para o fato de que nossa felicidade não é determinada pela forma como gastamos o nosso dia. Pelo contrário, tem a ver com o estar presente.

Presença Mental, onde se combinam nossos pensamentos e ações específicas, é uma preditora maciça de nossa felicidade, e deve ser cultivada para uma vida mais feliz. No entanto, como disse Killingsworth, “A lição aqui não é que devemos parar de deixar nossa mente vaguear, afinal, a nossa capacidade de revisitar o passado e imaginar o futuro é extremamente útil, e algum grau de divagação mental é provavelmente inevitável. ”

O sugerido é cultivarmos maneiras de reduzir esses passeios da mente (por exemplo, com a prática de meditação), pois esta última análise vai melhorar a qualidade de sua vida, te ajudar de forma mais eficaz a lidar com momentos ruins, alcançar uma maior apreciação dos bons momentos e tornar-se mais feliz.

___

Traduzido pela equipe de O SegredoFonte: Life Hack

Alguns dias sem se exercitar já afetam o cérebro

Tipos de humor que podem indicar problemas mentais

O comportamento humano é tão rico em sinais e indicações do que se passa entre nossas duas orelhas que até no senso de humor de um indivíduo é possível constatar desequilíbrios psicológicos. Confira seis situações e seus possíveis problemas:

1. Achar graça na dor alheia

dor-alheia

 

Este item na verdade não aborda um transtorno mental, mas sim uma reação estranha que a maioria das pessoas tem. Quantas vezes você já riu da desgraça alheia? Você se sentiu um monstro por ter feito isso? Calma, isso é normal.

Em 1961, o psicólogo Stanley Milgram da Universidade de Yale fez um estudo muito diferente: ele convenceu os participantes da pesquisa que eles estavam dando choques cada vez mais fortes em outras pessoas. Sempre que eles apertavam o “botão da dor”, muitos voluntários acabavam caindo na risada. “Eram risadas que pareciam fora de lugar, até bizarras”, diz ele.

Ao estudar essas risadas, ele percebeu que elas não eram por alegria, mas sim por nervosismo. Inconscientemente, os participantes riam para tentar convencer a si mesmos e àqueles ao seu redor de que a situação era melhor do que realmente era.

2. Falta de senso de humor

bom-senso

O humor é subjetivo. Para uma piada ser engraçada para você, ela deve entrar em ressonância com seus valores e crenças pessoais. Isso quer dizer que se você vive em uma situação de constante mentira sobre seus valores e crenças, nada mais vai parecer engraçado. Isso se aplica a pessoas desiludidas com a vida.

Um estudo conduzido por Robert Lynch, um antropólogo e comediante stand-up, avaliou as reações a piadas de um grupo de alunos universitários. Para saber se as reações eram sinceras, um sistema de código de ação facial foi utilizado.

Assim, Robert confirmou sua hipótese de que aqueles mais desiludidos com a vida davam menos risadas genuínas. Isso não quer dizer que essas pessoas não sorriam ou riam, mas sim que elas não eram sinceras.

3. Rir apenas dos outros e nunca de si mesmo

 

rindo-dos-outros

Quem sofre de transtorno de personalidade narcisista pode apreciar apenas um tipo muito específico de humor: aquele que não se aplica à ele. Isso quer dizer que ele não ri de si mesmo, se leva muito à sério. A mínima observação que não seja positiva sobre esta pessoa resulta em uma reação exagerada.

Um fato curioso sobre esse transtorno é que estudos confirmam que aqueles haters que frequentam as seções de comentários dos sites geralmente são narcisistas, mas também podem ser psicopatas e sádicos.

4. Senso de humor negro

 

humor-negro

Psicólogos notam que workaholics perdem gradualmente a habilidade de apreciar ou criar humor. O senso de humor dessas pessoas se restringe à humor negro ou depreciativo, que subconscientemente pode ter como função afastar assuntos não relacionados ao trabalho dos temas de conversa.

Casamentos de workaholics tendem a terminar em divórcio, e filhos de workaholics são mais propensos a ter depressão quando adultos.

Em estágios avançados de vício pelo trabalho, as pessoas podem perder completamente a habilidade de curtir qualquer tipo de humor. Eles viram grandes reclamões.

5. Dificuldade em captar sarcasmo

 

sarcasmo

Processar sarcasmo não é tão simples quanto parece. É preciso analisar o contexto, o tom de voz e a linguagem corporal do interlocutor. Crianças pequenas, por exemplo, têm mais dificuldade em captar o sarcasmo.

Pesquisadores da Universidade da Califórnia em São Francisco descobriram que pessoas com demência frontotemporal têm dificuldade em detectar sarcasmo. Outras condições como autismo, lesões cerebrais, esquizofrenia e até derrames podem estar por trás de uma dificuldade em entender este tipo de linguagem.

6. Obsessão por trocadilhos

 

trocadilho

Por cinco anos um paciente – chamado de “Derek” pela comunidade médica – mostrou uma obsessão tão grande por trocadilhos que até chegava a acordar sua esposa durante a noite para dividir sua nova criação genial.

Incomoda com esta mudança estranha de comportamento, ela o convenceu a ir a um médico. Eles descobriram que dois derrames danificaram os lobos frontais de Derek.

Alguns dias sem se exercitar já afetam o cérebro

Nossa maluquez: conheça cinco transtornos modernos

Ficar sem celular, buscar corpo perfeito, invejar diversão alheia, trabalhar à exaustão e jogos virtuais estão entre as manias

POR NATASHA MAZZACARO

Neurótico moderno – André Mello / Agência O Globo

A Revista O GLOBO adverte: a leitura desta reportagem pode provocar coceira, bolinhas vermelhas e ziquizira. Se persistirem os sintomas, os conselhos de um médico, uma benzedeira ou um amigo podem vir a calhar. Porque sim, temos mais conforto, estamos mais conectados e podemos sair por aí nos divertindo ao caçar pokémons no meio da rua. Mas, por outro lado, estamos sofrendo, sem nem perceber, as consequências e as cobranças de uma vida ligada a 220 volts.

E nem pense que este texto é sobre depressão, ansiedade, estresse ou síndrome do pânico. Estamos falando de transtornos muito mais esquisitos, frutos do século XXI, como vigorexia, nomofobia, fomo, burn out e Google effect, por exemplo.

Agora, um aviso: se você é do tipo hipocondríaco, que acha que sofre de tudo o que lê, saiba que corre um sério risco de se tornar também cibercondríaco — aquele indivíduo mais que proativo, que não espera um diagnóstico. Ele procura a mazela no Google. E, convenhamos, se este enfermo em questão não for médico, nada bom pode sair disso. Para estes, realmente, desaconselhamos as páginas a seguir.

1

Jogos, cibercondria e Google effect

A internet e os seus

Prozacs virtuais

O que fisga o seu cérebro – André Mello / Agência O Globo

Há seis anos, a Coreia do Sul tentou instaurar a chamada Lei da Cinderela, espécie de toque de recolher para adolescentes, proibindo da meia-noite às 6h os jogos virtuais. Estava formado o pandemônio: crianças abriram o berreiro, adolescentes fizeram “esquemas hacker” para dar suas tecladelas por meio de servidores ocidentais, companhias ameaçaram bloquear todas as contas, e os pais processaram o governo em nome da tão prezada liberdade de jogar. Mas por que um país que tem o videogame tão enraizado na cultural nacional — por lá, partidas são exibidas em canais abertos, em horário nobre, fazendo de alguns jogadores ídolos da pátria — queria tomar um atitude tão impopular? Bom, cerca de 90% dos sul-coreanos têm internet banda larga, o que, consequentemente, criou um problema de saúde pública. Não é um caso isolado. Na mesma época, na China, havia dez milhões de viciados em internet e 400 centros de reabilitação.
Depois de oito minutos jogando, o cérebro começa a fabricar doses consideráveis de dopamina – André Mello / Agência O Globo
O psicólogo Cristiano Nabuco, que coordena o Núcleo de Dependências Tecnológicas da USP, ajuda a entender. Ao nos conectarmos, nosso cérebro reage de forma semelhante ao de alguém que consome algum tipo de droga. Sabe-se que, depois de oito minutos, uma dose considerável de dopamina — neurotransmissor ligado à sensação de prazer — começa a ser liberada. Este é o aspecto bioquímico. Mas há ainda o psicológico.

— À medida que você se envolve, buscando essa sensação renovada de euforia, você se anestesia dos aspectos negativos do seu entorno. É um Prozac virtual. A pessoa consegue ser alguém que não pode ser na vida real, então se isola. É um mundo paralelo, movido a doses de dopamina na veia de oito em oito minutos. Tenho paciente que fica 60 horas sem sair do computador.

Por esses motivos, o jornalista de tecnologia Carlos Alberto Teixeira, do GLOBO, preferiu passar longe da onda do Pokémon Go. Há alguns anos, ele já havia sido fisgado pela Ingress, um outro jogo de realidade aumentada. Depois de sair do trabalho, resolveu jogar algumas horas antes de ir para casa. Não deu outra, cansado, chocou o carro contra outro veículo, numa batida bem real.

— Foi aí que eu percebi que estava viciado. Você comeca a ver coisas. Quando vi, estava andando de Niterói até a Cidade Nova, no Rio, para jogar. Teve briga, assalto e até morte por atropelamento por causa do Ingress — lembra.

Quer mais? Dos problemas desta geração internet, ainda há o sleep texting (sonâmbulo que responde mensagens e até faz compras pela internet), o cibercondríaco e o Google effect, que deixa o nosso cérebro mais “preguiçoso”. Confiamos que iremos achar qualquer coisa na internet, então não retemos mais as informações.

— A consolidação da memória acontece à noite, quando o organismo desacelera, liberando melatonina. Quando você fica no computador até tarde, as células dos olhos mandam informação de que ainda há luz. Por isso, seu corpo não consegue entrar no sono profundo, o REM, em que se consolida tudo o que você aprendeu.

2

NOMOFOBIA

ALICES NO PAÍS DO

WHATSAPP

Você, provavelmente, já ouviu falar do médico russo Ivan Pavlov — cujos cachorros, acostumados a ouvir uma sineta ao ser alimentados, começavam a salivar toda vez que ouviam o barulhinho, estando o prato cheio ou não. Pois bem, cem anos depois dessa experiência, pode-se afirmar que os nossos celulares viraram grandes bifes suculentos, enquanto nós, seres humanos modernos, viramos cães insaciavelmente gulosos. Basta ouvir um “pim” vindo do aparelho para interromper o que estamos fazendo e checar nossos telefones, como totós esperando por um biscoitinho. Trata-se de um reflexo condicionado, explica o psicopedagogo Eugênio Cunha, mestre em Tecnologia da Informação e Comunicação.

A falta de celular provoca até síndrome do toque fantasma – André Mello / Agência O Globo

— É um sistema de recompensa. Ficamos o tempo todo checando o celular, na esperança de um novo compartilhamento, de uma mensagem, de um post. O cérebro recebe uma gratificação química e vivemos nessa expectativa. Vira vício.

E este vício já tem nome e desdobramento: nomofobia ou medo de ficar sem celular. Traduz-se por aquele indivíduo que entra em pânico ao perceber que o telefone vai ficar sem bateria, crédito ou sinal. Isso porque o homem moderno criou uma relação de dependência com o dito-cujo: seja para pagar contas, checar o trânsito, ver o horário do cinema, tirar uma foto ou até, quem diria, telefonar. Sem este dispositivo, nos sentimos, mais ou menos, quando a luz acabava e não sabíamos o que fazer. Pois bem, o nomofóbico sente tudo isso, mas em outro nível, expresso por um terror irracional.

— Ninguém quer voltar para o mundo analógico, mas nem todos estão preparados para a dependência digital. Existe até a Síndrome do Toque Fantasma. Não tem gente que perde a perna e relata sentir dor naquele membro? Da mesma forma, algumas pessoas sentem o celular vibrando e só então se dão conta de que não estão com o aparelho ligado ou por perto. Gera uma obsessão — diz o professor.

No Brasil, não há pesquisas para mensurar o tamanho do problema. Mas nos Estados Unidos, sim. Que rufem os tambores: segundo o Pew Research Center, 55% dos americanos usam o celular no carro; 35%, no cinema; 33%, num encontro romântico; 19%, na igreja; 12%, no chuveiro (!); e, pasmem, 9% sacam o celular enquanto fazem sexo.

O ator Álamo Facó está longe de ser nomofóbico — para provar, há que se registrar que ele só atendeu à ligação para esta entrevista na quarta tentativa. Há alguns anos, porém, uma certa dependência chegou a incomodá-lo.

— Estava no meio da terapia quando chequei o telefone pela terceira vez — conta rindo, sem neura. — Percebi que estava indo longe demais quando sonhei que vivia no mundo do WhatsApp. Hoje, desligo o wi-fi da casa inteira antes de ir para a cama.

 

3

VIGOREXIA

BARBIES E KENS

HUMANOS

Se o Narciso da mitologia grega vivesse nos dias de hoje, provavelmente não teria definhado, apaixonado pela própria imagem refletida na lagoa de Eco. Em 2016, o rapaz teria se olhado no espelho e pensado: “Não gostei. Este abdome poderia estar mais durinho.” Não que o Narciso contemporâneo estivesse mais feio. O problema é que ele se veria de forma diferente. Diversas pesquisas feitas mundo afora apontam que, não importa o sexo, todos se veem de uma maneira que não corresponde à realidade.

Segundo a antropóloga Mirian Goldenberg, homens tendem a se enxergar menores (tórax, perna, pênis), enquanto as mulheres se veem maiores – André Mello / Agência O Globo

E há até um certo padrão nisso. A antropóloga e professora da UFRJ Mirian Goldenberg explica que os homens tendem a se enxergar menores (tórax, perna, pênis), enquanto as mulheres se veem maiores.

— De certa forma, isso é até positivo. Se você observar as pessoas que são muito seguras, autoconfiantes, elas também são desagradáveis no convívio. Uma certa dose de insegurança faz até bem. O problema é quando vira patológico e dificulta as relações, te impedindo de viver plenamente — diz ela.

Esta patologia em questão se chama vigorexia ou dismorfia corporal. Encaixam-se nesta definição tanto as pessoas que fazem dezenas de cirurgias plásticas (a ponto de o paciente ficar deformado), como as Barbies e Kens humanos que surgem vez por outra, quanto aquelas pessoas aficionadas por músculos que fazem uso de subterfúgios pouco ortodoxos para ficar fortonas.

O psicólogo Thiago Amaro Machado, do Hospital Albert Einstein, frisa que os padrões mudam de tempos em tempos e de país para país. Nos anos 1950, as mulheres tinham que ter quadris largos; nos 1990, peitos grandes. Enquanto na Argentina as moças são magérrimas (há muito mais casos de anorexia entre nossas hermanas), no Brasil, os jovens saem à procura de músculos definidos. Segundo o psicólogo João Oliveira, malhadores desenfreados também entram nesse quesito.

— Tenho uma paciente que, se ficar sem fazer atividade física, tem taquicardia. Quando viaja, acorda às 4h para se exercitar. Ela chegou a ser atropelada enquanto andava de bicicleta. Seu corpo criou uma dependência de endorfina — enumera o psicólogo.

Mirian argumenta que a paciente em questão não tem culpa no cartório. É um padrão importado de fora, somado a inúmeras facilidades. O Brasil é, por exemplo, o primeiro em cirurgias plásticas, venda de tintura loura para cabelo e remédio para emagrecer.

— Há 20 anos, perguntávamos: “Por que você vai fazer cirurgia?” Hoje, é: “Por que você não faz cirurgia?” O que ajuda muito é pensar que todo mundo sofre pelas mesmas coisas. Quando você descobre isso, é libertador. Você começa a rir do seu “fracasso” — diz a antropóloga.

4

BURN OUT

MACONHA

EMBURRECE MENOS

Imagine que, após um longo dia de trabalho, seus neurônios resolvam cruzar os braços, entrar em greve e dizer: “Chega, não aguentamos mais.” É quase isso que acontece na síndrome de burn out, nome utilizado pelos especialistas para denominar o esgotamento (físico e/ou mental), provocado, na grande maioria das vezes, por excesso ou más condições de trabalho. Pois bem, no Brasil, ocorrem tantos piquetes cerebrais que estamos virando praticamente a França nessa seara neurossindical.

Burn out tem taxas recorde no Brasil – André Mello / Agência O Globo

A psicóloga Ana Maria Rossi, presidente do International Stress Management Association (Isma-BR), que faz pesquisas sobre o tema desde 2005, diz que o Brasil é um dos campeões em casos de burn out. Segundo a pesquisadora, 72% dos brasileiros economicamente ativos estão estressados (na Inglaterra, são 70%). Deste bolo, 32% apresentam algum nível de esgotamento, contra 24% dos Estados Unidos. E a situação fica ainda mais preocupante quando se sabe que o índice subiu 2% de 2014 para cá.

— Acho que este número é tão grande porque nunca houve uma situação de tanta incerteza, de condições tão ruins de trabalho, de demissões em massa, como agora. Observamos um aumento de casos de depressão e de crises de pânico provocadas por estresse — diz Ana Maria.

O quadro sintomático se caracteriza por exaustão, ceticismo (insensibilidade com outros) e ineficácia (produtividade baixa). Por isso, pessoas que sofrem da síndrome tendem a trabalhar cinco horas a mais por semana — elas precisam refazer a mesma tarefa várias vezes.

E convenhamos, estressados ou não, já está bem difícil de se concentrar. Uma pesquisa da Universidade de Harvard provou que se você está escrevendo, falando ao telefone e olhando WhatsApp, ou seja, fazendo três tarefas ao mesmo tempo (quem nunca?), seu quociente de inteligência (QI) baixa de cinco a sete pontos. Só para se ter uma ideia, fumar maconha faz o QI descer quatro pontos. Ou seja…

— Ficamos burrinhos — conclui com uma risada a psicanalista Sofia Bauer. — Tenho duas premissas. A primeira é a de que menos é mais. Nossa cultura é a do “no pain no gain” (sem dor, sem ganho), mas não é bem assim que funciona. É melhor trabalhar menos tempo, mas mais focado. E a segunda é a meditação. Outro estudo de Harvard descobriu que ela aumenta a atividade do córtex pré-frontal esquerdo, responsável pela concentração. Cinco minutos bastam — prega.

Então, se os seus neurônios estiverem organizando um motim, lembre-se das dicas: desligue alertas de Facebook e WhatsApp (você leva dez minutos para voltar a se concentrar) e faça pausas de dez minutos a cada duas horas.

Sinto informar, caro leitor, que você foi ludibriado. A grama do vizinho é, certas vezes, realmente mais bonita. Mas digamos que ele só mostre a parte da frente do jardim, com suas florzinhas e abelhinhas saltitantes? E a de trás é um vasto terreno infértil, cheio de entulhos de 1916? Esta metáfora primaveril se aplica como uma luva de jardineiro às redes sociais.

Fomo é o “famoso medo de ficar de fora”, tão presente nas redes sociais – André Mello / Agência O Globo

Somos bombardeados o tempo todo com o jantar do fulano no Instagram, a viagem do beltrano no Facebook, a festa do sicrano do Snapchat. E você em casa, de pijama…

O que não pensamos é quando fulano, beltrano e sicrano vestem seus respectivos pijamas para ficar no sofá. Afinal de contas, como lembra a psicóloga Ana Maria de Albuquerque Lima, ninguém (ou quase ninguém — a cantora Miley Cyrus, por exemplo, posta fotos fazendo depilação e xixi) exibe na internet o seu lado entediante. Por isso, achamos que estamos sempre perdendo alguma coisa. É o que os especialistas definem como Fear of Missing Out (Fomo) ou medo de ficar de fora.

A antropóloga Mirian Goldenberg lembra que todas as pesquisas que medem o grau de felicidade das pessoas apontam dois quesitos fundamentais para a tristeza: comparação e falta de econhecimento. E adivinhe o que as redes sociais mais evidenciam?

— Há alguns anos, você se comparava com pouquíssimas pessoas: cunhada, prima, vizinho. Hoje, o que era distante se tornou próximo, e a ideia de reconhecimento e de aprovação vem dos likes do Facebook — diz.

Mirian lembra de outra pesquisa relacionada à felicidade. Ofereceram R$ 15 mil a quem ganhava R$ 10 mil. Assim, estaria equiparado a quem tinha o salário mais alto. Para surpresa dos estudiosos, o candidato preferiria ganhar menos, R$ 11 mil, se a remuneração do restante fosse diminuída para R$ 10 mil. É um ganho subjetivo: o de ser superior.

Para Cristiano Nabuco, do Núcleo de Dependências Tecnológicas da USP, a opinião dos outros é o que importa. E obter aquele tão sonhado reconhecimento social gera um processo de estresse e de ansiedade:

— Isso explica por que quase 90% das fotos postadas nas redes sociais são retocadas. É como se o indivíduo tentasse calibrar o que tem de melhor para mostrar para os outros. Quanto maior o número de postagens, maior é a necessidade de aprovação. O cruel é que, às vezes, o sujeito erra na mão, provocando o efeito que justamente desejava evitar: vira um chato, e as pessoas passam a evitá-lo.

Depois disso, haja fertilizante para deixar a tal grama mais bonita…

Alguns dias sem se exercitar já afetam o cérebro

Beber álcool com moderação já não é recomendado, mas a indústria se defende

O consumo per capta de bebidas alcoólicas caiu na Austrália após o governo ter aconselhado as pessoas a beber menos em 2009

Durante décadas, produtores de cerveja, vinho e destilados foram ajudados pela noção, embutida em uma série de conselhos nutricionais de governos, de que um pouco de álcool pode gerar modestos benefícios para o coração e a saúde em geral.

Agora, essas recomendações estão mudando rapidamente em face de novas pesquisas que associam o consumo de álcool a possíveis riscos de câncer e que estão levando autoridades de saúde do mundo todo a rever suas posições.

A mudança está pressionando a indústria de bebidas alcóolicas em alguns de seus maiores mercados, incluindo Estados Unidos, Reino Unido e Rússia. E a resposta do setor está se mostrando tão dispendiosa e abrangente quanto a ameaça antevista, incluindo ataques aos defensores de pesquisas desfavoráveis a bebidas alcóolicas e colaborações com governos na formulação de políticas. As empresas de bebidas também estão financiando seus próprios estudos, como um projeto em que quatro firmas vão disponibilizar dezenas de milhões de dólares para custear um estudo rigoroso.

“Não podemos deixá-los ganhar força”, disse Jim McGreevy, presidente do Instituto da Cerveja, grupo que representa o setor nos Estados Unidos, durante uma conferência com executivos de cervejarias realizada em abril, referindo-se aos críticos do álcool.

Em janeiro, o Reino Unido alterou uma recomendação de 20 anos que dizia que beber moderadamente poderia beneficiar o coração, substituindo-a por outra que afirma que os benefícios são menores do que se acreditava antes. O governo britânico também publicou novas orientações informando que o álcool eleva o risco de certos tipos de câncer.

“Não há nível seguro para beber”, disse Sally Davies, a mais alta assessora do governo para políticas de saúde no Reino Unido, a uma rede de TV do país.

Também em janeiro, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA retirou de suas orientações o trecho que afirmava que beber moderadamente poderia reduzir o risco de doenças cardíacas em algumas pessoas. A porta-voz do departamento disse que são necessárias mais análises “para melhor entender as consequências para a saúde que podem ou não estar associadas ao consumo moderado de álcool”.

A ameaça à indústria de bebidas alcoólicas não é tão acentuada como a enfrentada pela de cigarros, cujo consumo caiu devido às rápidas mudanças de atitudes do público e às políticas dos governos, depois que foi determinado que fumar causa câncer de pulmão, doenças cardíacas e outros problemas.

Ainda assim, as recomendações de governos sobre álcool podem fazer a diferença. A cervejaria belgo-brasileira Anheuser-Busch InBev NV, por exemplo, agora inclui em sua declaração de riscos de negócios que a Organização Mundial de Saúde pretende reduzir em 10% o uso nocivo de bebidas alcoólicas.

O consumo per capta de bebidas alcoólicas caiu na Austrália após o governo ter aconselhado as pessoas a beber menos em 2009, recuando de 10,6 litros para 9,7 litros por ano. No Estado americano de Maryland, as vendas de destilados, vinho e cerveja diminuíram depois de um aumento de impostos, em 2011. Na Rússia, as vendas despencaram em mais de 20% num período de alguns anos diante de medidas do governo para reprimir o consumo, depois que um relatório da OMC divulgado em 2010 apontou o álcool como causador de vários problemas de saúde.

O quase consenso que beneficiou o setor até recentemente — de que beber moderadamente podia ser bom para a saúde — remonta a pesquisas feitas 40 anos atrás por um cardiologista da Califórnia chamado Arthur Klatsky, que investigou os efeitos do estilo de vida na saúde cardiovascular. Para sua surpresa, ele concluiu que quem bebia moderadamente tinha menos enfartes que os abstêmios e um risco estatisticamente menor de morrer de doenças coronárias.

Em 1995, o Departamento de Saúde dos EUA introduziu a orientação de que beber moderadamente estava associado com um risco menor de doenças coronárias em algumas pessoas. Agora, novas pesquisas estão subvertendo esse consenso.

Um dos primeiros sinais de mudança veio quando a OMS decidiu criar uma nova política de álcool, há quase dez anos. O foco foi “o fardo global das doenças” e a avaliação de um amplo leque de possíveis efeitos, inclusive indiretos, como taxas de acidentes e infecções.

O relatório da OMS divulgado em 2010 afirmou que “o uso prejudicial de álcool contribui significativamente” para algumas doenças, como diabetes, e sugeriu que os governos taxassem as bebidas para reduzir o consumo. Mais recentemente, autoridades de saúde têm se concentrado em estudos que associam o consumo moderado a um risco maior de certas formas de câncer.

Ao revisar suas orientações, o Reino Unido afirmou que a análise das pesquisas concluiu que “o risco de desenvolver uma série de doenças (como câncer de boca, garganta e mama) aumenta” com qualquer quantidade de bebida alcóolica consumida regularmente.

As novas recomendações do governo britânico não negam os benefícios do álcool para o coração, mas afirmam que eles “são menores e se aplicam a um grupo menor da população do que estimado anteriormente”, possivelmente reduzindo os riscos de morte apenas em mulheres com mais de 55 anos.

A fabricante britânica de destilados Diageo PLC, que está às voltas com um projeto de lei na Irlanda que pode restringir a propaganda de bebidas e estabelecer preços mínimos e alertas nos rótulos, financiou um grupo, o “Pare de beber sem controle”, que defende o consumo moderado de bebidas alcoólicas. O grupo se tornou foco de controvérsia depois que o envolvimento da Diageo foi divulgado. A lei irlandesa continua em discussão.

Na Escócia, a Diageo apoiou uma batalha jurídica liderada pela Associação do Uísque Escocês e por produtores europeus de vinho que querem impedir uma lei que fixa preços mínimos para bebidas alcoólicas. A lei aguarda uma decisão final da Justiça escocesa.

Já a AB InBev lançou, no ano passado, um programa cujo objetivo é abordar as preocupações levantadas pela OMS e reduzir o uso de álcool em 10% em seis cidades no período de dez anos. A AB InBev recentemente lançou a Budweiser sem álcool no Canadá e pretende que, no máximo até 2025, marcas sem ou com baixo teor de álcool respondam por 20% do volume total das bebidas que produz.

A AB InBev e a Diageo estão se unindo às rivais Heineken NV e Pernod Ricard SA na alocação de US$ 55,4 milhões para financiar o primeiro experimento aleatório de avaliação dos efeitos do álcool na saúde. O estudo será supervisionado pelo Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo dos EUA.

 

Por JUSTIN SCHECK e TRIPP MICKLE

(Colaborou Saabira Chaudhuri.)

google-site-verification: googlee73cd655be624699.html