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Cinco dicas para perceber e estimular o cérebro do seu filho

Cinco dicas para perceber e estimular o cérebro do seu filho

“Bebés Brilhantes” é um novo livro que pretende mostrar como estimular a inteligência antes dos 3 anos. Esta é a pré-publicação do capítulo “A verdade do cérebro: 5 dicas que os pais devem conhecer”.

Temos agora provas de que as experiências precoces são literalmente moldadoras do cérebro. Graças à última neurociência – combinada com a pesquisa relacionada em pediatria, psicologia e desenvolvimento infantil –, possuímos agora uma clarificação acerca do que as crianças muito jovens precisam mais e de quando. Este novo trabalho confirma a antiga sabedoria: os cuidados básicos que a maioria dos pais carinhosos vulgarmente dispensa são afinal os mais importantes. Poderá ajudar a estruturar um cérebro saudável se:

  • Passar tempo só com o seu filho a amá-lo.
  • Brincar com ele.
  • Responder rápida e previsivelmente ao seu filho.
  • Tocar e fizer festas ao seu filho.
  • Fornecer rotinas que estabeleçam padrões de resposta carinhosa.
  • Falar com ele.
  • Ler e cantar para o seu filho.

Parece fácil, não parece? Na verdade, é como o bê-á-bá: a atenção, a ligação e a comunicação são três portas de acesso comprovadas para um brilhante início. Só recentemente os investigadores foram capazes de mostrar a razão pela qual são estes comportamentos regulares os determinantes de um desenvolvimento normal. Felizmente, há coisas que os pais e qualquer adulto que cuide de crianças podem fazer – um conhecimento que espero que o deixe menos stressado, culpado ou confuso sobre o seu papel no desenvolvimento do bebé.

Antes de lhe mostrar como pode influenciar a aprendizagem precoce do seu filho, será útil conhecer algumas das impressionantes principais descobertas acerca do desenvolvimento cerebral que conduziram ao foco nesses três aspetos: atenção, ligação e comunicação.

No exterior, é evidente, o seu bebé muda quase impercetivelmente dia após dia. Se conseguisse olhar para dentro do seu cérebro, contudo, veria esse crescimento ocorrer a um ritmo miraculoso. E a acontecer mais depressa, e mais cedo, do que alguém, dentro ou fora da comunidade científica, previamente imaginara. Só durante o primeiro mês de vida, as conexões entre os cem mil milhões de células cerebrais presentes ao nascimento aumentam 20 vezes, criando mais de um trilião de linhas de comunicação que ajudam o bebé a dar sentido ao seu mundo. Números destes são na realidade demasiado grandes para poderem ser compreendidos. Mas não precisa de saber nada de neurobiologia para perceber que um trilião de qualquer coisa representa uma enorme quantidade de energia a ser posta em funcionamento dentro daquela pequenina cabeça. Imagine que uma parte do corpo mais visível, como os pés, crescia ao ritmo alucinante do cérebro – atingindo 75 por cento do tamanho adulto aos dois anos e meio. Pode ter a certeza de que todos prestaríamos mais atenção aos pés!

“No exterior, é evidente, o seu bebé muda quase impercetivelmente dia após dia. Se conseguisse olhar para dentro do seu cérebro, contudo, veria esse crescimento ocorrer a um ritmo miraculoso. E a acontecer mais depressa, e mais cedo, do que alguém, dentro ou fora da comunidade científica, previamente imaginara.”

Apenas nos últimos dez ou 15 anos, as tecnologias de imagem como a TEP (tomografia por emissão de positrões) e a IRMf (imagem por ressonância magnética funcional) permitiram que víssemos o que acontece dentro de um cérebro em crescimento e a funcionar. Estas tecnologias produzem “instantâneos da ação” que ilustram graficamente as áreas do cérebro que mudam em resposta a diferentes tipos de estimulação e uso. Este trabalho, realizado sobretudo em adultos até muito recentemente, forneceu-nos uma nova dimensão da compreensão sobre como o cérebro opera e influenciou de modo espetacular o nosso pensamento acerca do que as crianças muito pequenas provavelmente precisarão para florescer e quando.

Dica nº1: a inteligência pode ser moldada após o nascimento

Dantes pensava-se que a biologia era o destino, que o QI já nascia assim, não se fazia. Claro que alguns miúdos pareciam mais espertos do que outros logo desde que nasciam. Mas sabemos agora que a soma da capacidade intelectual do bebé não é fixada à nascença. Uma criança nasce com um nível de QI que poderá variar até 20 ou 30 pontos no máximo. Embora os genes e a saúde física preparem o cenário para alguns dos futuros comportamentos da criança, o QI de uma criança e a sua capacidade para funcionar bem dependem também das experiências ambientais a que estiver exposta numa base consistente.

Pense no desenvolvimento de um cérebro saudável como uma dança entre a biologia (aquilo com que a criança nasceu) e o cuidado precoce (o que acontece após o nascimento). Os dois aspetos estão de tal modo interconetados que os cientistas examinam agora fatores ambientais que poderão impedir ou facilitar a forma como os genes operam. Pensávamos que os genes funcionavam de forma estática – se tivessem um gene para determinada coisa, exibiam esse traço (a cor dos olhos, por exemplo). Contudo, alguns genes poderão estar dormentes; o facto de se “ligarem” ou não depende da experiência. Esta é uma nova descoberta espetacular! As primeiras experiências consistentes do bebé poderão na realidade protegê-lo contra a ligação de certos genes envolvidos em traços indesejáveis, como a hiperatividade, a compulsividade e o comportamento agressivo.

Um exemplo espantoso do poder das experiências da vida para alterar o “destino” inscrito nos nossos genes é passível de ser observado nos macacos resos. Os que nascem com uma variação particular de um gene tornam -se extremamente agressivos quando são crescidos, se tiverem um fraco vínculo com as mães durante a infância, ao passo que outros macacos com a mesma variação genética não se tornam agressivos quando desenvolvem uma relação segura com a mãe. Apesar de os macacos em cada uma das situações terem a mesma versão do gene, possuem níveis muito diferentes do químico que é produzido pelo gene. Isto indica que as experiências nos primeiros anos podem mudar a forma como certos genes funcionam.

Além disso, como as macacas perpetuam a imitação do mesmo tipo de relações de apego com os bebés que elas próprias experimentaram, é possível que as tendências comportamentais que desde há muito se acreditava serem transmitidas através dos genes de cada um (como a agressividade) possam, em vez disso, ser adquiridas através da aprendizagem social. Stephen Suomi, doutorado em medicina, diretor do Laboratório de Etologia Comparada no Instituto Nacional dos Cuidados Infantis e do Desenvolvimento Humano, chama a isto o “efeito de almofada da boa maternidade”. Falem-me do poder da experiência! Ainda não sabemos com certeza se este tipo de investigação animal é diretamente aplicável ao comportamento humano, mas novas descobertas como esta sublinham princípios neurobiológicos básicos que provavelmente se aplicarão também a nós.

“Sabemos agora que a soma da capacidade intelectual do bebé não é fixada à nascença. Uma criança nasce com um nível de QI que poderá variar até 20 ou 30 pontos no máximo. Embora os genes e a saúde física preparem o cenário para alguns dos futuros comportamentos da criança, o QI de uma criança e a sua capacidade para funcionar bem dependem também das experiências ambientais a que estiver exposta numa base consistente.”

O que isto significa para o seu filho: o debate clássico entre natureza e educação e qual delas moldará a inteligência e a personalidade está terminado na essência. As duas estão interligadas. Uma criança poderá crescer inteligente, independentemente dos níveis de inteligência dos pais, e uma criança que nasceu inteligente poderá manter ou exceder essa inteligência, dependendo das experiências da vida.

Dica nº 2: a maioria da estruturação básica do cérebro ocorre nos primeiros anos

Qualquer pessoa que passe bastante tempo com crianças muito novas – pais, professores do jardim infantil e da pré-primária, cuidadores infantis – perceberá que este estádio é verdadeiramente espantoso. Muitos de nós, que estamos envolvidos na educação, sentimos que devemos prestar maior atenção aos miúdos nos primeiros anos, embora poucos consigam explicar porquê. Em resultado disso – e também porque a comunidade científica não conseguia ver o cérebro da mesma forma que via e media outras partes do corpo através de radiografias, ultrassons, análises sanguíneas… –, a ênfase no desenvolvimento precoce continuava a ser uma ideia vaga. Agora, evidentemente, compreendemos a razão pela qual merece uma atenção primordial!

Quando o seu bebé nasceu, a maioria dos principais órgãos estava formada, embora em miniatura. O coração, por exemplo, já tinha as mesmas partes e os mesmos princípios operativos em funcionamento para poder bater mais de dois mil milhões de vezes durante um período de vida. Os pulmões, o fígado, os rins – todos estavam prontos e a funcionar, pois a sua estrutura essencial fora formada antes do nascimento e crescera depois a um ritmo contínuo, junto com o resto do corpo.

O mesmo não acontece com o cérebro. Este inicia a vida fora do útero notavelmente incompleto – apenas cerca de um quarto do seu eventual tamanho adulto. Contudo, antes do segundo aniversário do seu filho, terá saltado para três quartos do tamanho adulto e aos cinco anos terá quase o peso e o volume adultos (90 por cento).

“Quando o seu bebé nasceu, a maioria dos principais órgãos estava formada, embora em miniatura. O mesmo não acontece com o cérebro. Este inicia a vida fora do útero notavelmente incompleto – apenas cerca de um quarto do seu eventual tamanho adulto.”

Isto não significa que 90 por cento da informação que uma pessoa venha a obter sejam aprendidos nos primeiros cinco anos – longe disso! Significa que, nesses primeiros anos, a forma como a informação flui através das estruturas do cérebro e é processada está em grande parte estabelecida. Estas vias e estruturas serão usadas e voltadas a usar à medida que a aprendizagem prossegue.

Parte do tremendo crescimento nos primeiros anos deve-se ao desdobramento dos genes, mas parte dele é resultado das primeiras experiências. Os ambientes do bebé começam a exercer influências nas células dentro do cérebro, desde o início. Apesar de a maioria das células cerebrais (neurónios) ser produzida antes do nascimento, estas estão fracamente ligadas. Grande parte das conexões entre os neurónios, chamadas sinapses, tem de ser criada depois. Consoante o cérebro amadurece, cada neurónio envia múltiplas ramificações para comunicar com outros neurónios. Há duas formas de ligar estas “linhas ramificadas” – algumas enviam informação (axónios) e outras recebem informação (dendrites). Pensa-se que a maior parte do crescimento do cérebro durante os primeiros anos se deve ao crescimento das dendrites, as linhas que captam a informação. Estas sinapses funcionam como linhas telefónicas entre células, permitindo que enviem mensagens umas às outras. O padrão individual de conexões de cada um forma a base de todo o movimento, pensamentos, memórias e sentimentos.

O cérebro do recém-nascido lembra uma rede de comunicações numa cidade onde as principais linhas existem em cada bairro, sendo, no entanto, necessários tempo e experiências para criar conexões específicas de casa para casa. Cada cérebro começa a fazer as suas associações particulares, com fios que crescem conforme são necessários.

O que isto significa para o seu filho: a aprendizagem começa muito antes da pré-primária. A cada hora de vigília de cada dia, são formadas novas conexões neuronais e modificadas através das interações físicas e verbais que o bebé estabelece com os pais, com os irmãos e com outros cuidadores. Chora e pegam nele e é estabelecida uma nova ligação: quando faço isto, acontece aquilo. Sempre que lhe batem nas costas, o alimentam, ou o levam para outro local, são feitas novas conexões. O cérebro evolui em resposta à experiência e ao ambiente. Na realidade, formar, refinar e eliminar conexões neuronais é a principal tarefa do desenvolvimento cerebral precoce. É o processo mágico que suporta todo o tipo de aprendizagem.

A rede de fios particular que o seu filho desenvolverá é especificamente dele. Mais ninguém no planeta – nem sequer um gémeo idêntico – poderá replicar a exata combinação desta marca da hereditariedade e da experiência.

Dica nº 3: o modo como o cérebro cresce pode ser influenciado pela forma como é usado

As crianças podem nascer numa espantosa série de situações de vida. Poderão ser embrulhadas em mantas de pelo de urso no frio ártico ou transportadas em faixas, pele contra pele, através de florestas tropicais. Poderão ouvir uma de centenas de línguas, com os seus inúmeros dialetos. Essas línguas nativas poderão ser expressadas aos berros, com dureza, por bêbedos, ou em vozes suaves, embaladoras e amistosas. Um bebé poderá ser propositadamente protegido das cruéis realidades da vida, ou atirado para “nadar ou ir ao fundo”, num bairro de pedintes. Desde o princípio, o cérebro começa a adaptar-se ao lugar e ao espaço onde aterrou.

Não existe um modelo único e específico para o crescimento do cérebro que cubra aquilo que será necessário para sobreviver em todos os ambientes possíveis. O cérebro começa apenas com um mandato geral: “Faz crescer as tuas conexões conforme for necessário.” Os cérebros são constituídos de forma a mudar para poderem ficar vivos! A sobrevivência depende da contínua adaptação a novas informações e condições mutáveis. Este instinto é inconsciente, mas poderoso. A rápida velocidade com que um jovem cérebro se adapta permite que o bebé ganhe a máxima vantagem no interior do clima, da cultura ou do sistema familiar em que lhe calhou nascer.

Durante o desenvolvimento inicial, serão formadas mais conexões do que as necessárias – biliões a mais! O cérebro de uma criança de dois anos normal, por exemplo, tem quase o dobro do número de conexões do vosso cérebro. As rotinas como comer, tomar banho e brincar fortalecem sinapses particulares, ao passo que as conexões que não são reforçadas pela repetição acabam por definhar. Este processo natural chama-se desbaste neuronal.

“Durante o desenvolvimento inicial, serão formadas mais conexões do que as necessárias – biliões a mais! O cérebro de uma criança de dois anos normal, por exemplo, tem quase o dobro do número de conexões do vosso cérebro.”

Dado que estamos condicionados para acreditar que mais é melhor, muitas pessoas partem do princípio de que construir sinapses é que interessa. Afinal de contas, ninguém gosta de pensar em “perder” alguma coisa! Mas o desbaste neuronal é um puro truque de sobrevivência humana que permite que um bebé se adapte a muitos possíveis cenários e condições diferentes. As conexões que são frequentemente usadas mantêm-se e são fortalecidas através do uso continuado. A um nível celular, este uso repetido de vias permite à energia que viaja entre os neurónios fluir com maior rapidez e eficácia, libertando assim energia de modo a conceder à pessoa que se especialize nessas ideias sons e conceitos com que trabalha mais frequentemente.

Ajuda imaginar as vias no cérebro como uma rede de estradas. Antes de começar o desbaste neuronal, quando precisamos de ir do local A para o local B, existem muitos percursos diferentes por pequenas estradas que podemos tomar para chegar lá. Com a experiência, aprendemos qual o percurso mais fácil e mais rápido e fazemo-lo com maior frequência, deixando de usar as outras estradas, mais pequenas e menos eficazes, para ir de A a B. A estrada que usamos mais vai-se alargando com o tempo e transformando-se numa estrada maior, acabando eventualmente como uma super-autoestrada, tornando a viagem de A para B rápida e fácil.

O número de conexões sinápticas atinge o pico nos primeiros anos de vida. Depois, estabiliza na primeira infância, sendo em seguida desbastado em cerca de 40 por cento no final da infância e na adolescência. Para vos dar uma ideia da atividade que ocorre, apenas entre os quatro e os dez anos, cerca de um bilião de sinapses são perdidas só na área do processamento visual do cérebro. Como é possível que tantas capacidades sejam desenvolvidas durante esse período, quando tantas conexões estão a ser perdidas? Tal deve-se ao facto de, enquanto o desbaste neuronal ocorre febrilmente, o mesmo se passa com outro processo chamado mielinização. Esta acelera e torna mais eficaz a comunicação entre as células cerebrais nas conexões que restam. A mielina é uma substância gordurosa que cresce para rodear a fibra nervosa, permitindo que os impulsos elétricos que viajam ao longo da fibra, quando as células cerebrais comunicam, fluam mais fácil e rapidamente. A mielinização ocorre em diferentes alturas em diferentes partes do cérebro e parece coincidir com o surgimento da melhoria de várias aptidões físicas e capacidades cognitivas. Por outras palavras, o cérebro está desenhado para aprender mais facilmente em determinados pontos do tempo. A mielinização é mais rápida durante os dois primeiros anos de vida – quando o cérebro processa uma grande quantidade de informação nova: linguagem, temperaturas, cores, sons, odores, texturas, causa e efeito, o que é um rosto, etc. –, mas prossegue durante a vida adulta, com a máxima velocidade de processamento neuronal a ser atingida durante os dez e os 20 anos.

As imagens [em baixo] mostram fatias do cérebro que foram aumentadas de modo a revelar os neurónios individuais e as conexões entre neurónios. A imagem da esquerda apresenta alguns dos neurónios presentes ao nascimento. Reparem que existem poucas ligações entre eles.

A do centro mostra a explosão da atividade neuronal na altura em que a criança tem seis anos. Não admira que os miúdos da primeira classe sejam tão ativos e difíceis de sossegar! No seu mundo, tudo está ligado a todas as coisas.

O cérebro de uma criança de seis anos está animado de conexões neuronais. Reparem no emaranhado de árvores neuronais, cheias de dendrites cerradas. A aprendizagem é quase sem esforço, embora os traços como o autocontrolo tenham de esperar que as vias inibidoras sejam mais tarde esculpidas no interior desta massa de ligações excessivas. (…)

Cerca dos 14 anos (à direita), o cérebro começou a desbastar as conexões raramente usadas e que não formaram circuitos permanentes. (Se tiver um jovem adolescente, poderá brincar com ele, mostrando-lhe aqui a prova viva de que está a perder a cabeça!) Um exemplo do tipo de conhecimento que se perde: quando andavam na quarta classe, era importante saber o nome da rapariga que se sentava ao seu lado na sala. Agora, anos mais tarde, saíram da terra natal e deixaram de ter necessidade de saber o nome da rapariga. Esse tipo de informação pode ser desbastado sem qualquer “custo” para o cérebro.

O que isto significa para o seu filho: as conexões que são formadas e as conexões que acabam por ser retidas são moldadas pelas experiências iniciais de cada um. Como pai, tem o poder de influenciar alguns dos tipos de “estradas” que são construídas e as que serão mais frequentemente percorridas no cérebro do seu bebé. Fatores essenciais: repetição, rotina e reforço positivo.

Dica nº 4: a estruturação inicial do cérebro é resistente à mudança

Eis mais provas de que os recém-nascidos e a primeira infância merecem atenção especial: essas estruturas cerebrais que se estabelecem mais cedo fornecem uma espécie de “molde organizacional”, que influencia o futuro crescimento e desenvolvimento. As primeiras partes do cérebro a serem organizadas são as que menor probabilidade têm de mudar. Por exemplo, os sistemas cerebrais iniciais a serem estruturados, pré-natalmente e durante os primeiros meses, são os que regulam a tensão arterial, o ritmo cardíaco e a temperatura corporal. É óbvio que ninguém deseja que esses sistemas biológicos vitais variem radicalmente de um momento para o outro.

As estruturas cerebrais envolvidas no processamento das emoções são também estabelecidas muito cedo. É crucial conhecer este facto porque estas estruturas ajudam a preparar a reatividade emocional, a capacidade de escolher apropriadamente as reações emocionais em relação à situação presente. Embora o sistema emocional seja mais adaptável do que as regiões cerebrais que sustentam as funções corporais vitais, não deixa de ser bastante resistente à mudança.

O que isto significa para o seu filho: esta noção de que quanto mais cedo é estabelecido um sistema, mais resistente se torna à mudança constitui ao mesmo tempo uma boa e uma má notícia. A boa notícia: os efeitos de ter um forte começo emocional provavelmente persistirão, o que traz repercussões positivas para a grande parte do desenvolvimento cerebral que se segue. Se uma criança tiver um forte começo emocional, provavelmente será resistente e capaz de enfrentar mais tarde os fatores stressantes da vida. Todos os sistemas que processam a informação necessária para estabelecer uma base estável, para toda a vida, do melhor tipo para a aprendizagem, florescem num ambiente previsível, fornecido por pais que:

  • Criam experiências interessantes.
  • Asseguram uma forte sensação de segurança.
  • Pegam e tocam ternamente o seu filho com frequência.
  • Partilham coisas interessantes que podem ser vistas e ouvidas.

A má notícia, contudo, é que o contrário é também verdade: se as crianças viverem em ambientes caóticos, desatentos e abusivos, os seus efeitos serão da mesma forma resistentes à mudança.

Dica nº 5: nunca é tarde!

Se tiver um filho já perto dos três anos ou mais velho, quero que pare agora para o encorajar: “Respire fundo!” Por vezes, vejo pais que, depois de saberem como os primeiros anos são cruciais, ficam nervosos e lamentam todas as coisas que receiam não ter feito “bem”. (Talvez devesse ter lido mais ao meu bebé… Eu sabia que devia ter insistido para que a Rachel tivesse aulas de música… Quem me dera não ter permitido que a minha irmã ficasse a fazer de babysitter todos os dias, só porque precisava do dinheiro depois do divórcio…) Quaisquer que sejam os remorsos, livre-se deles. Uma das minhas citações preferidas é de Maya Angelou, que sintetiza uma importante lição: Fiz o que sabia. E quando sabia mais, fazia melhor. Cada um faz o melhor que pode com a informação que tem, e as probabilidades são de que o bebé esteja a florescer. Não é toda a pequena escolha que determina se o seu filho irá desabrochar, mas o padrão geral de amor, segurança e estimulação que lhe fornece.

“A ciência torna claro que o cérebro do bebé não para de crescer e de aprender aos três anos. Nunca é ‘tarde demais’ para influenciar as ligações do cérebro. Nunca é tarde demais para melhorar a qualidade de vida de uma criança. Não é tarde demais aos três ou aos cinco anos; não é tarde demais aos 14. Nunca é tarde demais.”

A ciência torna claro que o cérebro do bebé não para de crescer e de aprender aos três anos. Nunca é “tarde demais” para influenciar as ligações do cérebro. Nunca é tarde demais para melhorar a qualidade de vida de uma criança. Não é tarde demais aos três ou aos cinco anos; não é tarde demais aos 14. Nunca é tarde demais.

O cérebro possui uma notável capacidade, durante toda a vida, para se reorganizar em resposta à informação que recebe do meio ambiente. Os investigadores chamam -lhe plasticidade neuronal e ocorre em todas as idades. A plasticidade neuronal consiste em vários processos diferentes que os investigadores só agora começam a compreender, envolvendo ao mesmo tempo aumentos no número de conexões entre os neurónios e mudanças físicas na forma e estrutura dessas conexões. Pensa-se que, ao longo da vida, a plasticidade neuronal está subjacente a todo o tipo de aprendizagem e memória e explica como o cérebro recupera várias funções quando ocorre um dano traumático.

Quanto mais velhos somos, porém, mais tempo esta “religação” em resposta à experiência poderá demorar; um começo que não seja o ideal na primeira infância poderá significar uma jornada pela vida cheia de problemas não antecipados, ou dispendiosos conselhos e terapias profissionais. Muitos tipos de intervenção são por vezes bem-sucedidas, desde o recondicionamento do cérebro de uma criança disléxica que a ajude a ler melhor até à terapia física de irregularidades psicomotoras. Mas exigem tempo, esforço e dinheiro.

O que isto significa para o seu filho: terá mais de uma estreita oportunidade de três anos para “conseguir ou quebrar” as hipóteses de sucesso do seu filho na vida (ou na entrada para Harvard). Uma criança de qualquer idade beneficiará da atenção/ligação/comunicação. O principal valor da atenção inicial a estes aspetos essenciais nos primeiros três anos é a prevenção. Se tiver a sorte de começar com uma criança normal e saudável, as coisas básicas que fizer para evitar alguns dos percalços da vida poderão ter poderosas repercussões. Como dizia muito bem numa recente campanha mediática californiana acerca da importância dos primeiros anos para o desenvolvimento precoce do cérebro: “As vossas escolhas… moldam as hipóteses deles.” A coisa mais importante que um pai pode fornecer é uma relação carinhosa e estável que conduza a interações frequentes, significativas e recetivas com o seu bebé ou criança pequena. A prevenção faz poupar tempo, dinheiro e desgostos – e não é difícil de conseguir.

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