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Quando nosso cérebro escolhe não sentir para não sofrer

Quando nosso cérebro escolhe não sentir para não sofrer

O sofrimento não é uma escolha pessoal; ninguém escolhe a dor ou o isolamento emocional por vontade própria. Infelizmente não existe nenhuma anestesia para não sofrer; as épocas escuras devem ser confrontadas com integridade, valentia e ilusões renovadas.

A vida nem sempre é fácil. Esta frase é dita a nós com muita frequência, e quem até o momento teve a sorte de não ser “tocado” pela adversidade não compreende ainda o realismo destas palavras.

Viver é confrontar provocações, construir um, dois, seis ou mais projetos, é permitir que a felicidade abrace nossas vidas, e aceitar que, de vez em quando, o sofrimento baterá na nossa porta para nos colocar à prova.

E não, nem todos assumimos esses golpes que a vida nos traz da mesma maneira. Há quem confronte melhor as decepções e quem, por outro lado, as interiorize permitindo que minem sua autoestima.

Nenhuma tristeza é vivida de igual maneira, assim como nenhuma depressão tem a mesma origem, nem é sentida igualmente por todas as pessoas.

Mas existe um sintoma muito comum que, de algum modo, todos teremos que experimentar alguma vez: a anedonia.

A anedonia é a incapacidade de sentir prazer e aproveitar as coisas boas. Nosso cérebro, por assim dizer, “decide se desconectar”. Não sentir para não sofrer, isolar-se, ficar anestesiado.

Pode ser que você já tenha sentido isso durante alguns dias, quando é consumido pela apatia e pelo desânimo, mas o que acontece quando isso se torna crônico? O que acontece quando deixamos de “sentir a vida” por completo de forma crônica?

Hoje queremos tratar desse assunto para oferecer a você informações que nos aprofundem no conhecimento deste aspecto tão importante.

A anedonia, quando perdemos o prazer de viver

Como indicamos no início, não existe nenhuma anestesia adequada para a dor da vida.Quando a anedonia aparece em nosso cérebro, como um mecanismo de defesa, ela não está nos causando nenhum bem. Pelo contrário.

Vamos começar esclarecendo alguns aspectos:

  • A anedonia não é uma doença, nem um transtorno: é um sintoma de algum processo emocional ou de algum tipo de doença.
  • Embora seja certo que, na grande maioria dos casos, ela está relacionada de forma íntima com a depressão, ela também pode se manifestar como resultado de uma esquizofrenia ou de demências como o Alzheimer.
  • Todos, em maior ou menor medida, experimentamos anedonia alguma vez: falta de interesse pelas relações sociais, pela comida, pela comunicação com os outros…
    O verdadeiro problema chega quando a anedonia levanta um muro a nossa volta e nos tira todas as nossas características de humanidade: não sentimos nada diante das expressões de carinho, não precisamos de ninguém do nosso lado e nenhum estímulo nos produz prazer, nem a comida, nem a música… nem nada.

Se escolhemos deixar de sentir para não sofrer, não estaremos nos protegendo de nada. Estaremos fechando as portas à vida, seremos almas que vão definhando aos poucos…

A anedonia a nível cerebral

Esta baixa receptividade frente aos estímulos exteriores tem seu claro reflexo em um cérebro deprimido.

É importante levarmos em conta que tipo de processos se desencadeia em nosso interior quando experimentamos a anedonia:

  • Se esse estado se tornar crônico e se prolongar no tempo, nossas estruturas cerebrais sofrem mudanças, e isso afeta nossos julgamentos, pensamentos e emoções.
  • O lóbulo frontal, relacionado com a tomada de decisões, se reduz.
  • Os gânglios basais, relacionados com o movimento, ficam afetados até o ponto em que até nos levantarmos da cama exige um grande esforço.
  • O hipocampo, relacionado com as emoções e a memória, também perde volume. É comum que tenhamos falhas de lembranças, que soframos sem defesa, que fiquemos obcecados por pensamentos negativos.

Frequentemente, a depressão é conhecida como a doença da tristeza. Mas na realidade, ela é uma coisa que vai mais além, ela é a prisão de um cérebro emocional que não encontra respostas para os vazios da vida, a decepção, a perda da ilusão.

Estratégias para enfrentar a anedonia e a depressão

A depressão não se “cura”, não se enfrenta de um dia para outro. Ela requer múltiplos enfoques, dependendo, como sempre, da realidade de cada pessoa.

Os medicamentos, as terapias, o apoio familiar e, acima de tudo, os recursos próprios que cada um possa usar são elementos fundamentais.

Além disso, queremos convidá-los a refletirem sobre os seguintes aspectos:

Não sentir para não sofrer não é um mecanismo adequado com o qual viver. Ele permitirá que você “sobreviva”, mas estando vazio/a por dentro. Não se permita ser um prisioneiro eterno do sofrimento.

Se há alguma coisa positiva que podemos tirar da anedonia, é que você deixou de lado a capacidade de sentir. Agora que está “anestesiado/a” em relação à dor, é o momento de se perguntar do que você PRECISA.

  • Precisa que a tranquilidade e a felicidade voltem para a sua vida? Volte a criar ilusões consigo mesmo.
  • Precisa deixar de ser prisioneiro do passado? Faça uma mudança rumo ao futuro.
  • Precisa deixar de sofrer? Atreva-se a viver de novo, abra as portas do seu coração, permita-se ser feliz outra vez.

Pense nestes aspectos durante alguns momentos e lembre-se sempre de que viver é SENTIR em toda sua intensidade. Seja no seu lado positivo ou no negativo.

Texto original em espanhol de Valeria Sabater.

Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa

Quando nosso cérebro escolhe não sentir para não sofrer

“Cuidar do cérebro devia ser uma prioridade dos mais novos”

Já escovou os dentes hoje? E cuidou do cérebro também? Álvaro Bilbao, autor do livro “Cuide do Seu Cérebro”, garante que, seguindo alguns passos, é possível ter uma mente ágil em qualquer idade

Exercitar o cérebro é preciso. E melhor do que fazer quebra-cabeças é ir caminhar.

Cuidar do cérebro é mais importante do que cuidar da pele — a indústria da beleza que nos perdoe — e devia ser um hábito tão comum como escovar os dentes depois de cada refeição. A mensagem, talvez um pouco atípica, é do psicólogo espanhol Álvaro Bilbao, conhecido pelo livro “O Cérebro da Criança Explicado aos Pais”, mas agora o foco é outro. Sobretudo desde que foi lançado em Portugal, terça-feira passada, o livro “Cuide do Seu Cérebro… E Melhore a Sua Vida”, do mesmo autor.

“Cuidar do cérebro não devia ser uma prioridade das pessoas mais velhas, mas sim das mais novas, por vários motivos. As pessoas que cuidam dos seus cérebros desde jovens têm menor risco de ter doenças quando são mais velhas”, diz Álvaro Bilbao em entrevista exclusiva ao Observador.

No livro em destaque, o neuropsicólogo e psicoterapeuta apresenta seis áreas-chave a que devemos prestar atenção, pela saúde do nosso cérebro: desde a boa alimentação às devidas horas de sono, passando ainda pelo exercício físico. Já os exercícios mentais, como quebra-cabeças ou “sudokus”, são bons, mas nada bate “sair à rua, caminhar, falar com pessoas e comprar peixe e verduras”.

Recordemos os leitores: porque é que o cérebro é tão especial?
O cérebro é um órgão muito especial por dois motivos. Em primeiro lugar, é um órgão que não pode ser transplantado e não pode ser tratado, como acontece com os pulmões. É um órgão que temos desde que nascemos, com os mesmos neurónios. Em segundo lugar, é no cérebro que residem as nossas emoções, a nossa inteligência e a nossa capacidade para tomar decisões. É a parte do corpo que nos distingue, à nossa natureza e à nossa maneira de ser. É o que faz com que cada um de nós seja a pessoa que é.

No livro escreve que a longevidade que temos vindo a adquirir é, ao mesmo tempo, uma oportunidade e um desafio para o cérebro. Porquê?
Sabemos que o nosso cérebro está programado para viver uma série de anos. Cada vez mais vivemos mais anos e isso é uma oportunidade no sentido em que podemos aprender mais coisas e podemos desfrutar da vida durante mais tempo, coisa que antes não acontecia, numa altura em que ter 60 ou 70 anos era sermos anciães. No entanto, também é um desafio porque, a cada cinco anos que ficamos mais velhos, a cada cinco velas a mais que colocamos no nosso bolo de aniversário, duplicam as probabilidades de termos algumas doenças, pelo que é muito importante que sejamos responsáveis pelo nosso próprio cérebro. Ele é um órgão do qual temos de cuidar com muito carinho, com muito mimo, porque se não tomamos bem conta dele, estes anos a mais podem ser anos com pouca qualidade de vida. Se, ao contrário, cuidarmos bem dele, esses mesmos anos podem vir a ser anos de muita desfrute.

É no cuidado do cérebro que está a possibilidade de desfrutar da sua memória, da sua alegria ou do seu bem-estar físico, agora e durante mais tempo. A importância do cuidado do cérebro é tal que alguns países iniciaram campanhas nacionais de saúde cerebral ou planos estratégicos para prevenir o Alzheimer e a demência entre a terceira-idade.
(“Cuide do Seu Cérebro”, pág. 17)

A que tipo de perigos está, então, o cérebro sujeito?
Cuidar do cérebro não devia ser uma prioridade das pessoas mais velhas, mas sim das mais novas, por vários motivos. Em primeiro lugar, as pessoas que cuidam dos seus cérebros desde jovens têm menor risco de ter doenças quando são mais velhas, mas também porque se cuidamos do nosso cérebro enquanto somos jovens, desfrutamos de uma melhor memória, concentração e humor durante a vida. O principal inimigo que as pessoas jovens têm hoje em dia é o stress e a pressa. Sabemos que quando vivemos em stress, com demasiadas exigências e pressas, isso diminui a nossa capacidade de nos sentirmos bem e, além disso, erramos mais vezes na hora de pensar. As pessoas acreditam que quanto mais stress, melhor pensam sobre as coisas. O stress, as preocupações que vivemos quando temos 30 ou 40 anos, aumentam a nossa probabilidade de virmos a sofrer de doenças como o AVC e o Alzheimer. Entre as primeiras causas de morte nos países ocidentais, no ano passado, estava o AVC, os enfartes cerebrais. O curioso é que 80% dos enfartes cerebrais podem ser prevenidos se tivermos em conta algumas normas de saúde cerebral. É um tema que preocupa muitas pessoas, porque são muitas as que tiveram um pai ou um avô que morreu na sequência de um AVC. E também sabemos, no caso do Alzheimer, que uma boa saúde cerebral e bons cuidados podem atrasar a doença e, em alguns casos, esse atraso pode evitar que a doença apareça — pode atrasar durante tantos anos que morremos antes que alguma coisa aconteça. Cuidar do cérebro enquanto jovens ajuda a prevenir doenças relacionadas com a memória, e não só.

Entre os pacientes que têm um AVC encontramos pessoas de todas as classes sociais, profissões e idades. Abundam as que fumam e têm um elevado nível de stress, excesso de peso, colesterol ou açúcar no sangue. De facto, se tiver dois destes fatores de risco antes dos 40, a probabilidade de ter um AVC antes dos 80 anos é de 50 por cento.
(“Cuide do seu cérebro”, pág. 23)

Mas à partida pode parecer estranha a ideia de cuidarmos do nosso cérebro. As pessoas estão conscientes de que este é um ritual tão importante como escovar os dentes todos os dias?
Não, a verdade é que as pessoas não se preocupam com o cérebro porque este parece um órgão que resiste a tudo e que nos serve durante a vida toda. O cérebro cuida-se através da alimentação e do exercício físico, o que, por sua vez, ajuda a promover a descontração e a concentração. O cérebro cuida-se também através do sono. A verdade é que até há poucos anos os cientistas não sabiam como é que se cuidava de um cérebro. Sabíamos como cuidar dos dentes e da pele, mas sabíamos muito pouco sobre isso em relação ao cérebro.

Álvaro Bilbao é doutorado em Psicologia, é ainda neuropsicólogo e psicoterapeuta. © Divulgação

A “reserva cognitiva”, tal como escreve no livro, é uma das formas de cuidar do cérebro. Em que consiste e como é que esta pode ser trabalhada?
A reserva cognitiva é a acumulação de conexões neurológicas que fazem com que o nosso cérebro pense melhor, além de o protegerem do envelhecimento. O exemplo que dou sempre é o seguinte: imaginemos que temos dinheiro guardado no banco, se tivermos muito dinheiro — e aqui o dinheiro são os neurónios no nosso cérebro, as muitas conexões que criámos à base de estudos e de aprendizagens —, quando temos um problema económico podemos utilizar esse dinheiro para não passarmos mal, para não passarmos fome e para não termos de dormir na rua. Da mesma maneira, quando aprendemos muitas coisas, vamos guardando essa informação na forma de conexões neuronais, pelo que o nosso cérebro fica maior (à semelhança da nossa conta bancária). Essa reserva cognitiva permite-nos pensar mais rápido e de uma maneira mais eficiente. As muitas conexões que criamos podem ajudar-nos a proteger ou a atrasar certas doenças.

Sermos pessoas mais educadas, no sentido da cultura, é uma solução?
Sim, aprendermos mais coisas é uma solução. Há muitos anos que sabemos que ter mais níveis de estudos, como por exemplo ter passado pela universidade, é algo que nos protege face ao envelhecimento cerebral, mas hoje em dia também sabemos que outro tipo de atividades podem ajudar a construir a reserva cognitiva, como falar vários idiomas, ler livros e aprender coisas novas ou viajar. Não é preciso ser-se um académico ou ter estudos universitários, o mais importante é que sejamos pessoas curiosas, que estejamos sempre dispostas a aprender coisas novas.

E estamos sempre a tempo disso?
Sim, durante toda a vida podemos criar novas conexões neurológicas. Todos os dias criamos novas conexões, portanto qualquer pessoa, em qualquer idade, pode aumentar a sua reserva cognitiva.

E o que devemos e podemos comer para promover a saúde mental?
Essa é outra área muito importante. A nutrição “neurossaudável” compreende os alimentos que pensamos serem os mais saudáveis para o cérebro. Nesse sentido sabemos que 60% do cérebro é composto por matéria gorda e, por isso, é muito importante introduzir gorduras “neurossaudáveis”, que não sejam saturadas ou hidrogenadas. O melhor são as gorduras do tipo ómega 3, que estão contidas em frutos secos ou no peixe azul. Também é muito importante ter os níveis de energia estáveis, para que tenhamos um estado mental equilibrado durante todo o dia. Para estarmos concentrados durante um largo período de tempo convém introduzir hidratos de carbono complexos em vez de açúcares refinados. As vitaminas e os minerais também são muito importantes — nesse sentido, as frutas e as verduras são essenciais (graças às vitaminas e aos minerais construímos, por exemplo, os neurotransmissores que são a principal fonte de bem-estar emocional). É ainda importante reduzir as proteínas que vêm acompanhadas de gorduras pouco saudáveis, como as carnes vermelhas, sendo preferível consumir proteínas provenientes do pescado e de carnes com pouca gordura ou de carnes brancas.

Há algo que não possamos comer ou beber?
Sim, sabemos que há certos alimentos que são prejudiciais ao cérebro e, nesse sentido, tudo o que são alimentos com grandes quantidades de açúcar podem favorecer a aparição de diabetes, mas também fazem com que o cérebro funcione de uma forma mais irregular. Dito isto, os doces são muito prejudiciais, bem como os alimentos com muita gordura (ou com gorduras de má qualidade, incluindo gordura animal ou saturada). Eu defendo que as pessoas podem comer um pouco de tudo, mas sempre com moderação. Sabemos que um copo de vinho pode contribuir para favorecer a circulação do sangue, mas também sabemos que muito álcool pode ser prejudicial e pode contribuir para o aparecimento de cancro. O mesmo para o café e para o chocolate, que têm antioxidantes, mas não convém ingeri-los em grandes quantidades. Outros alimentos prejudiciais são aqueles que têm corantes ou conservantes. É sempre melhor comer produtos frescos.

Outro tópico mencionado no livro é a questão do sono. Há pouco tempo entrevistámos Arianna Huffington, fundadora do jornal Huffington Post e autora do livro “A Revolução do Sono”. Ao Observador, Huffington disse que a “a privação de sono é uma epidemia global”. Concorda?
Totalmente. Sabemos que o sono é um dos fatores de proteção do cérebro, um dos mais importantes — o exercício físico é ainda mais importante. Mas o sono é, muito provavelmente, o fator onde mais nos descuidamos. Desde que apareceu a luz elétrica, no século XIX, temos vindo a roubar horas ao sono, de tal maneira que o ser humano dorme cada vez menos horas (e as crianças também). Estamos a ver adolescentes de 16 anos que, em vez de dormirem nove ou 10 horas todos os dias, estão a dormir cinco ou seis. Isto é muito prejudicial para o cérebro porque, quando dormimos, ocorrem duas coisas muito importantes. A primeira coisa é que armazenamos informação na memória de longo prazo — o ato de dormir é uma forma de armazenar informação, pelo que se quisermos ter uma boa memória, é fundamental dormir muito. Outra coisa é que, quando dormimos, o nosso cérebro ativa o nosso sistema imunológico, que tem como missão reparar o cérebro e eliminar todas as toxinas que se acumularam durante o dia — devido à poluição, aos corantes e aos conservantes na comida –, mas também elimina as substâncias que produzem o próprio stress. O ato de dormir tem a função de reparação.

Socializar é uma atividade essencial na proteção do cérebro face à passagem do tempo, bem como no atraso do aparecimento de doenças neurodegenerativas como o Alzheimer. Sabemos que as pessoas mais longevas do mundo vivem rodeadas de seres queridos e costumam proceder de comunidades onde a relação entre os seus membros é próxima.
(“Cuide do seu cérebro”, pág. 147)

Escreve ainda que a relação com outras pessoas é também fundamental para cuidar do cérebro.
Sim, sabemos que as sociedades no sul da Europa têm um fator de proteção face ao envelhecimento cerebral, que são as relações sociais. Quando estamos a conversar com outras pessoas, quando nos sentimos unidos à nossa família, aos nossos amigos e aos companheiros de trabalho, isso reduz os níveis de stress e os níveis de ansiedade, e permite-nos exercitar a mente. Quando conversamos com outras pessoas estamos a realizar uma ação cerebral muito complexa.

Outra ideia interessante no livro é o facto de existirem diferenças entre o cérebro masculino e feminino. Isso pode ajudar a explicar o motivo por que, por vezes, homens e mulheres não se entendem?
Os cérebros do homem e da mulher não são assim tão diferentes, mas ao nível científico há diferenças claras, apesar de não serem assim tão grandes. Sabemos que as mulheres têm mais 200 milhões de neurónios na área da linguagem, isso implica que as mulheres têm mais vocabulário e melhor memória verbal. As mulheres também têm tendência a comunicar mais com os dois hemisférios [direito e esquerdo], de tal maneira que podem relacionar mais vezes o mundo racional com o emocional. É por isso que, quando uma mulher tem um problema, muitas vezes tende a ligar a uma amiga, à mãe ou à irmã, uma vez que as mulheres tendem a resolver os problemas em sociedade, de uma maneira mais social. Já os homens quando têm um problema, racionalizam as coisas de forma solitária. Quando uma mulher tem um problema e o conta ao marido, o marido pensa e dá uma solução, e a mulher sente-se sozinha porque acha que o marido não a escutou. Mais, as mulheres vivem em média mais cinco anos do que os homens e isso faz com que o seu cérebro seja mais vulnerável a algumas doenças.

Que tipo de perguntas ouve mais vezes?
Muitas pessoas perguntam que tipo de exercícios podem fazer para cuidar do cérebro. Perguntam sempre pelos “sudokus” e pelos quebra-cabeças. Na verdade sabemos que estes exercícios não são os mais importantes para o cérebro. Sabemos, sim, que fazer exercício é muito importante, provavelmente o mais importante que podemos fazer: quando caminhamos estamos a oxigenar o cérebro e estamos a fortalecer a relação entre o cérebro e o coração. Em vez dos quebra-cabeças, o melhor é sair à rua, caminhar, falar com pessoas e comprar peixe e verduras. Os exercícios mentais que ajudam o cérebro, que ajudam a criar uma reserva cognitiva, são aqueles que são interessantes, difíceis e novos.

Quando nosso cérebro escolhe não sentir para não sofrer

Cinco dicas para perceber e estimular o cérebro do seu filho

“Bebés Brilhantes” é um novo livro que pretende mostrar como estimular a inteligência antes dos 3 anos. Esta é a pré-publicação do capítulo “A verdade do cérebro: 5 dicas que os pais devem conhecer”.

Temos agora provas de que as experiências precoces são literalmente moldadoras do cérebro. Graças à última neurociência – combinada com a pesquisa relacionada em pediatria, psicologia e desenvolvimento infantil –, possuímos agora uma clarificação acerca do que as crianças muito jovens precisam mais e de quando. Este novo trabalho confirma a antiga sabedoria: os cuidados básicos que a maioria dos pais carinhosos vulgarmente dispensa são afinal os mais importantes. Poderá ajudar a estruturar um cérebro saudável se:

  • Passar tempo só com o seu filho a amá-lo.
  • Brincar com ele.
  • Responder rápida e previsivelmente ao seu filho.
  • Tocar e fizer festas ao seu filho.
  • Fornecer rotinas que estabeleçam padrões de resposta carinhosa.
  • Falar com ele.
  • Ler e cantar para o seu filho.

Parece fácil, não parece? Na verdade, é como o bê-á-bá: a atenção, a ligação e a comunicação são três portas de acesso comprovadas para um brilhante início. Só recentemente os investigadores foram capazes de mostrar a razão pela qual são estes comportamentos regulares os determinantes de um desenvolvimento normal. Felizmente, há coisas que os pais e qualquer adulto que cuide de crianças podem fazer – um conhecimento que espero que o deixe menos stressado, culpado ou confuso sobre o seu papel no desenvolvimento do bebé.

Antes de lhe mostrar como pode influenciar a aprendizagem precoce do seu filho, será útil conhecer algumas das impressionantes principais descobertas acerca do desenvolvimento cerebral que conduziram ao foco nesses três aspetos: atenção, ligação e comunicação.

No exterior, é evidente, o seu bebé muda quase impercetivelmente dia após dia. Se conseguisse olhar para dentro do seu cérebro, contudo, veria esse crescimento ocorrer a um ritmo miraculoso. E a acontecer mais depressa, e mais cedo, do que alguém, dentro ou fora da comunidade científica, previamente imaginara. Só durante o primeiro mês de vida, as conexões entre os cem mil milhões de células cerebrais presentes ao nascimento aumentam 20 vezes, criando mais de um trilião de linhas de comunicação que ajudam o bebé a dar sentido ao seu mundo. Números destes são na realidade demasiado grandes para poderem ser compreendidos. Mas não precisa de saber nada de neurobiologia para perceber que um trilião de qualquer coisa representa uma enorme quantidade de energia a ser posta em funcionamento dentro daquela pequenina cabeça. Imagine que uma parte do corpo mais visível, como os pés, crescia ao ritmo alucinante do cérebro – atingindo 75 por cento do tamanho adulto aos dois anos e meio. Pode ter a certeza de que todos prestaríamos mais atenção aos pés!

“No exterior, é evidente, o seu bebé muda quase impercetivelmente dia após dia. Se conseguisse olhar para dentro do seu cérebro, contudo, veria esse crescimento ocorrer a um ritmo miraculoso. E a acontecer mais depressa, e mais cedo, do que alguém, dentro ou fora da comunidade científica, previamente imaginara.”

Apenas nos últimos dez ou 15 anos, as tecnologias de imagem como a TEP (tomografia por emissão de positrões) e a IRMf (imagem por ressonância magnética funcional) permitiram que víssemos o que acontece dentro de um cérebro em crescimento e a funcionar. Estas tecnologias produzem “instantâneos da ação” que ilustram graficamente as áreas do cérebro que mudam em resposta a diferentes tipos de estimulação e uso. Este trabalho, realizado sobretudo em adultos até muito recentemente, forneceu-nos uma nova dimensão da compreensão sobre como o cérebro opera e influenciou de modo espetacular o nosso pensamento acerca do que as crianças muito pequenas provavelmente precisarão para florescer e quando.

Dica nº1: a inteligência pode ser moldada após o nascimento

Dantes pensava-se que a biologia era o destino, que o QI já nascia assim, não se fazia. Claro que alguns miúdos pareciam mais espertos do que outros logo desde que nasciam. Mas sabemos agora que a soma da capacidade intelectual do bebé não é fixada à nascença. Uma criança nasce com um nível de QI que poderá variar até 20 ou 30 pontos no máximo. Embora os genes e a saúde física preparem o cenário para alguns dos futuros comportamentos da criança, o QI de uma criança e a sua capacidade para funcionar bem dependem também das experiências ambientais a que estiver exposta numa base consistente.

Pense no desenvolvimento de um cérebro saudável como uma dança entre a biologia (aquilo com que a criança nasceu) e o cuidado precoce (o que acontece após o nascimento). Os dois aspetos estão de tal modo interconetados que os cientistas examinam agora fatores ambientais que poderão impedir ou facilitar a forma como os genes operam. Pensávamos que os genes funcionavam de forma estática – se tivessem um gene para determinada coisa, exibiam esse traço (a cor dos olhos, por exemplo). Contudo, alguns genes poderão estar dormentes; o facto de se “ligarem” ou não depende da experiência. Esta é uma nova descoberta espetacular! As primeiras experiências consistentes do bebé poderão na realidade protegê-lo contra a ligação de certos genes envolvidos em traços indesejáveis, como a hiperatividade, a compulsividade e o comportamento agressivo.

Um exemplo espantoso do poder das experiências da vida para alterar o “destino” inscrito nos nossos genes é passível de ser observado nos macacos resos. Os que nascem com uma variação particular de um gene tornam -se extremamente agressivos quando são crescidos, se tiverem um fraco vínculo com as mães durante a infância, ao passo que outros macacos com a mesma variação genética não se tornam agressivos quando desenvolvem uma relação segura com a mãe. Apesar de os macacos em cada uma das situações terem a mesma versão do gene, possuem níveis muito diferentes do químico que é produzido pelo gene. Isto indica que as experiências nos primeiros anos podem mudar a forma como certos genes funcionam.

Além disso, como as macacas perpetuam a imitação do mesmo tipo de relações de apego com os bebés que elas próprias experimentaram, é possível que as tendências comportamentais que desde há muito se acreditava serem transmitidas através dos genes de cada um (como a agressividade) possam, em vez disso, ser adquiridas através da aprendizagem social. Stephen Suomi, doutorado em medicina, diretor do Laboratório de Etologia Comparada no Instituto Nacional dos Cuidados Infantis e do Desenvolvimento Humano, chama a isto o “efeito de almofada da boa maternidade”. Falem-me do poder da experiência! Ainda não sabemos com certeza se este tipo de investigação animal é diretamente aplicável ao comportamento humano, mas novas descobertas como esta sublinham princípios neurobiológicos básicos que provavelmente se aplicarão também a nós.

“Sabemos agora que a soma da capacidade intelectual do bebé não é fixada à nascença. Uma criança nasce com um nível de QI que poderá variar até 20 ou 30 pontos no máximo. Embora os genes e a saúde física preparem o cenário para alguns dos futuros comportamentos da criança, o QI de uma criança e a sua capacidade para funcionar bem dependem também das experiências ambientais a que estiver exposta numa base consistente.”

O que isto significa para o seu filho: o debate clássico entre natureza e educação e qual delas moldará a inteligência e a personalidade está terminado na essência. As duas estão interligadas. Uma criança poderá crescer inteligente, independentemente dos níveis de inteligência dos pais, e uma criança que nasceu inteligente poderá manter ou exceder essa inteligência, dependendo das experiências da vida.

Dica nº 2: a maioria da estruturação básica do cérebro ocorre nos primeiros anos

Qualquer pessoa que passe bastante tempo com crianças muito novas – pais, professores do jardim infantil e da pré-primária, cuidadores infantis – perceberá que este estádio é verdadeiramente espantoso. Muitos de nós, que estamos envolvidos na educação, sentimos que devemos prestar maior atenção aos miúdos nos primeiros anos, embora poucos consigam explicar porquê. Em resultado disso – e também porque a comunidade científica não conseguia ver o cérebro da mesma forma que via e media outras partes do corpo através de radiografias, ultrassons, análises sanguíneas… –, a ênfase no desenvolvimento precoce continuava a ser uma ideia vaga. Agora, evidentemente, compreendemos a razão pela qual merece uma atenção primordial!

Quando o seu bebé nasceu, a maioria dos principais órgãos estava formada, embora em miniatura. O coração, por exemplo, já tinha as mesmas partes e os mesmos princípios operativos em funcionamento para poder bater mais de dois mil milhões de vezes durante um período de vida. Os pulmões, o fígado, os rins – todos estavam prontos e a funcionar, pois a sua estrutura essencial fora formada antes do nascimento e crescera depois a um ritmo contínuo, junto com o resto do corpo.

O mesmo não acontece com o cérebro. Este inicia a vida fora do útero notavelmente incompleto – apenas cerca de um quarto do seu eventual tamanho adulto. Contudo, antes do segundo aniversário do seu filho, terá saltado para três quartos do tamanho adulto e aos cinco anos terá quase o peso e o volume adultos (90 por cento).

“Quando o seu bebé nasceu, a maioria dos principais órgãos estava formada, embora em miniatura. O mesmo não acontece com o cérebro. Este inicia a vida fora do útero notavelmente incompleto – apenas cerca de um quarto do seu eventual tamanho adulto.”

Isto não significa que 90 por cento da informação que uma pessoa venha a obter sejam aprendidos nos primeiros cinco anos – longe disso! Significa que, nesses primeiros anos, a forma como a informação flui através das estruturas do cérebro e é processada está em grande parte estabelecida. Estas vias e estruturas serão usadas e voltadas a usar à medida que a aprendizagem prossegue.

Parte do tremendo crescimento nos primeiros anos deve-se ao desdobramento dos genes, mas parte dele é resultado das primeiras experiências. Os ambientes do bebé começam a exercer influências nas células dentro do cérebro, desde o início. Apesar de a maioria das células cerebrais (neurónios) ser produzida antes do nascimento, estas estão fracamente ligadas. Grande parte das conexões entre os neurónios, chamadas sinapses, tem de ser criada depois. Consoante o cérebro amadurece, cada neurónio envia múltiplas ramificações para comunicar com outros neurónios. Há duas formas de ligar estas “linhas ramificadas” – algumas enviam informação (axónios) e outras recebem informação (dendrites). Pensa-se que a maior parte do crescimento do cérebro durante os primeiros anos se deve ao crescimento das dendrites, as linhas que captam a informação. Estas sinapses funcionam como linhas telefónicas entre células, permitindo que enviem mensagens umas às outras. O padrão individual de conexões de cada um forma a base de todo o movimento, pensamentos, memórias e sentimentos.

O cérebro do recém-nascido lembra uma rede de comunicações numa cidade onde as principais linhas existem em cada bairro, sendo, no entanto, necessários tempo e experiências para criar conexões específicas de casa para casa. Cada cérebro começa a fazer as suas associações particulares, com fios que crescem conforme são necessários.

O que isto significa para o seu filho: a aprendizagem começa muito antes da pré-primária. A cada hora de vigília de cada dia, são formadas novas conexões neuronais e modificadas através das interações físicas e verbais que o bebé estabelece com os pais, com os irmãos e com outros cuidadores. Chora e pegam nele e é estabelecida uma nova ligação: quando faço isto, acontece aquilo. Sempre que lhe batem nas costas, o alimentam, ou o levam para outro local, são feitas novas conexões. O cérebro evolui em resposta à experiência e ao ambiente. Na realidade, formar, refinar e eliminar conexões neuronais é a principal tarefa do desenvolvimento cerebral precoce. É o processo mágico que suporta todo o tipo de aprendizagem.

A rede de fios particular que o seu filho desenvolverá é especificamente dele. Mais ninguém no planeta – nem sequer um gémeo idêntico – poderá replicar a exata combinação desta marca da hereditariedade e da experiência.

Dica nº 3: o modo como o cérebro cresce pode ser influenciado pela forma como é usado

As crianças podem nascer numa espantosa série de situações de vida. Poderão ser embrulhadas em mantas de pelo de urso no frio ártico ou transportadas em faixas, pele contra pele, através de florestas tropicais. Poderão ouvir uma de centenas de línguas, com os seus inúmeros dialetos. Essas línguas nativas poderão ser expressadas aos berros, com dureza, por bêbedos, ou em vozes suaves, embaladoras e amistosas. Um bebé poderá ser propositadamente protegido das cruéis realidades da vida, ou atirado para “nadar ou ir ao fundo”, num bairro de pedintes. Desde o princípio, o cérebro começa a adaptar-se ao lugar e ao espaço onde aterrou.

Não existe um modelo único e específico para o crescimento do cérebro que cubra aquilo que será necessário para sobreviver em todos os ambientes possíveis. O cérebro começa apenas com um mandato geral: “Faz crescer as tuas conexões conforme for necessário.” Os cérebros são constituídos de forma a mudar para poderem ficar vivos! A sobrevivência depende da contínua adaptação a novas informações e condições mutáveis. Este instinto é inconsciente, mas poderoso. A rápida velocidade com que um jovem cérebro se adapta permite que o bebé ganhe a máxima vantagem no interior do clima, da cultura ou do sistema familiar em que lhe calhou nascer.

Durante o desenvolvimento inicial, serão formadas mais conexões do que as necessárias – biliões a mais! O cérebro de uma criança de dois anos normal, por exemplo, tem quase o dobro do número de conexões do vosso cérebro. As rotinas como comer, tomar banho e brincar fortalecem sinapses particulares, ao passo que as conexões que não são reforçadas pela repetição acabam por definhar. Este processo natural chama-se desbaste neuronal.

“Durante o desenvolvimento inicial, serão formadas mais conexões do que as necessárias – biliões a mais! O cérebro de uma criança de dois anos normal, por exemplo, tem quase o dobro do número de conexões do vosso cérebro.”

Dado que estamos condicionados para acreditar que mais é melhor, muitas pessoas partem do princípio de que construir sinapses é que interessa. Afinal de contas, ninguém gosta de pensar em “perder” alguma coisa! Mas o desbaste neuronal é um puro truque de sobrevivência humana que permite que um bebé se adapte a muitos possíveis cenários e condições diferentes. As conexões que são frequentemente usadas mantêm-se e são fortalecidas através do uso continuado. A um nível celular, este uso repetido de vias permite à energia que viaja entre os neurónios fluir com maior rapidez e eficácia, libertando assim energia de modo a conceder à pessoa que se especialize nessas ideias sons e conceitos com que trabalha mais frequentemente.

Ajuda imaginar as vias no cérebro como uma rede de estradas. Antes de começar o desbaste neuronal, quando precisamos de ir do local A para o local B, existem muitos percursos diferentes por pequenas estradas que podemos tomar para chegar lá. Com a experiência, aprendemos qual o percurso mais fácil e mais rápido e fazemo-lo com maior frequência, deixando de usar as outras estradas, mais pequenas e menos eficazes, para ir de A a B. A estrada que usamos mais vai-se alargando com o tempo e transformando-se numa estrada maior, acabando eventualmente como uma super-autoestrada, tornando a viagem de A para B rápida e fácil.

O número de conexões sinápticas atinge o pico nos primeiros anos de vida. Depois, estabiliza na primeira infância, sendo em seguida desbastado em cerca de 40 por cento no final da infância e na adolescência. Para vos dar uma ideia da atividade que ocorre, apenas entre os quatro e os dez anos, cerca de um bilião de sinapses são perdidas só na área do processamento visual do cérebro. Como é possível que tantas capacidades sejam desenvolvidas durante esse período, quando tantas conexões estão a ser perdidas? Tal deve-se ao facto de, enquanto o desbaste neuronal ocorre febrilmente, o mesmo se passa com outro processo chamado mielinização. Esta acelera e torna mais eficaz a comunicação entre as células cerebrais nas conexões que restam. A mielina é uma substância gordurosa que cresce para rodear a fibra nervosa, permitindo que os impulsos elétricos que viajam ao longo da fibra, quando as células cerebrais comunicam, fluam mais fácil e rapidamente. A mielinização ocorre em diferentes alturas em diferentes partes do cérebro e parece coincidir com o surgimento da melhoria de várias aptidões físicas e capacidades cognitivas. Por outras palavras, o cérebro está desenhado para aprender mais facilmente em determinados pontos do tempo. A mielinização é mais rápida durante os dois primeiros anos de vida – quando o cérebro processa uma grande quantidade de informação nova: linguagem, temperaturas, cores, sons, odores, texturas, causa e efeito, o que é um rosto, etc. –, mas prossegue durante a vida adulta, com a máxima velocidade de processamento neuronal a ser atingida durante os dez e os 20 anos.

As imagens [em baixo] mostram fatias do cérebro que foram aumentadas de modo a revelar os neurónios individuais e as conexões entre neurónios. A imagem da esquerda apresenta alguns dos neurónios presentes ao nascimento. Reparem que existem poucas ligações entre eles.

A do centro mostra a explosão da atividade neuronal na altura em que a criança tem seis anos. Não admira que os miúdos da primeira classe sejam tão ativos e difíceis de sossegar! No seu mundo, tudo está ligado a todas as coisas.

O cérebro de uma criança de seis anos está animado de conexões neuronais. Reparem no emaranhado de árvores neuronais, cheias de dendrites cerradas. A aprendizagem é quase sem esforço, embora os traços como o autocontrolo tenham de esperar que as vias inibidoras sejam mais tarde esculpidas no interior desta massa de ligações excessivas. (…)

Cerca dos 14 anos (à direita), o cérebro começou a desbastar as conexões raramente usadas e que não formaram circuitos permanentes. (Se tiver um jovem adolescente, poderá brincar com ele, mostrando-lhe aqui a prova viva de que está a perder a cabeça!) Um exemplo do tipo de conhecimento que se perde: quando andavam na quarta classe, era importante saber o nome da rapariga que se sentava ao seu lado na sala. Agora, anos mais tarde, saíram da terra natal e deixaram de ter necessidade de saber o nome da rapariga. Esse tipo de informação pode ser desbastado sem qualquer “custo” para o cérebro.

O que isto significa para o seu filho: as conexões que são formadas e as conexões que acabam por ser retidas são moldadas pelas experiências iniciais de cada um. Como pai, tem o poder de influenciar alguns dos tipos de “estradas” que são construídas e as que serão mais frequentemente percorridas no cérebro do seu bebé. Fatores essenciais: repetição, rotina e reforço positivo.

Dica nº 4: a estruturação inicial do cérebro é resistente à mudança

Eis mais provas de que os recém-nascidos e a primeira infância merecem atenção especial: essas estruturas cerebrais que se estabelecem mais cedo fornecem uma espécie de “molde organizacional”, que influencia o futuro crescimento e desenvolvimento. As primeiras partes do cérebro a serem organizadas são as que menor probabilidade têm de mudar. Por exemplo, os sistemas cerebrais iniciais a serem estruturados, pré-natalmente e durante os primeiros meses, são os que regulam a tensão arterial, o ritmo cardíaco e a temperatura corporal. É óbvio que ninguém deseja que esses sistemas biológicos vitais variem radicalmente de um momento para o outro.

As estruturas cerebrais envolvidas no processamento das emoções são também estabelecidas muito cedo. É crucial conhecer este facto porque estas estruturas ajudam a preparar a reatividade emocional, a capacidade de escolher apropriadamente as reações emocionais em relação à situação presente. Embora o sistema emocional seja mais adaptável do que as regiões cerebrais que sustentam as funções corporais vitais, não deixa de ser bastante resistente à mudança.

O que isto significa para o seu filho: esta noção de que quanto mais cedo é estabelecido um sistema, mais resistente se torna à mudança constitui ao mesmo tempo uma boa e uma má notícia. A boa notícia: os efeitos de ter um forte começo emocional provavelmente persistirão, o que traz repercussões positivas para a grande parte do desenvolvimento cerebral que se segue. Se uma criança tiver um forte começo emocional, provavelmente será resistente e capaz de enfrentar mais tarde os fatores stressantes da vida. Todos os sistemas que processam a informação necessária para estabelecer uma base estável, para toda a vida, do melhor tipo para a aprendizagem, florescem num ambiente previsível, fornecido por pais que:

  • Criam experiências interessantes.
  • Asseguram uma forte sensação de segurança.
  • Pegam e tocam ternamente o seu filho com frequência.
  • Partilham coisas interessantes que podem ser vistas e ouvidas.

A má notícia, contudo, é que o contrário é também verdade: se as crianças viverem em ambientes caóticos, desatentos e abusivos, os seus efeitos serão da mesma forma resistentes à mudança.

Dica nº 5: nunca é tarde!

Se tiver um filho já perto dos três anos ou mais velho, quero que pare agora para o encorajar: “Respire fundo!” Por vezes, vejo pais que, depois de saberem como os primeiros anos são cruciais, ficam nervosos e lamentam todas as coisas que receiam não ter feito “bem”. (Talvez devesse ter lido mais ao meu bebé… Eu sabia que devia ter insistido para que a Rachel tivesse aulas de música… Quem me dera não ter permitido que a minha irmã ficasse a fazer de babysitter todos os dias, só porque precisava do dinheiro depois do divórcio…) Quaisquer que sejam os remorsos, livre-se deles. Uma das minhas citações preferidas é de Maya Angelou, que sintetiza uma importante lição: Fiz o que sabia. E quando sabia mais, fazia melhor. Cada um faz o melhor que pode com a informação que tem, e as probabilidades são de que o bebé esteja a florescer. Não é toda a pequena escolha que determina se o seu filho irá desabrochar, mas o padrão geral de amor, segurança e estimulação que lhe fornece.

“A ciência torna claro que o cérebro do bebé não para de crescer e de aprender aos três anos. Nunca é ‘tarde demais’ para influenciar as ligações do cérebro. Nunca é tarde demais para melhorar a qualidade de vida de uma criança. Não é tarde demais aos três ou aos cinco anos; não é tarde demais aos 14. Nunca é tarde demais.”

A ciência torna claro que o cérebro do bebé não para de crescer e de aprender aos três anos. Nunca é “tarde demais” para influenciar as ligações do cérebro. Nunca é tarde demais para melhorar a qualidade de vida de uma criança. Não é tarde demais aos três ou aos cinco anos; não é tarde demais aos 14. Nunca é tarde demais.

O cérebro possui uma notável capacidade, durante toda a vida, para se reorganizar em resposta à informação que recebe do meio ambiente. Os investigadores chamam -lhe plasticidade neuronal e ocorre em todas as idades. A plasticidade neuronal consiste em vários processos diferentes que os investigadores só agora começam a compreender, envolvendo ao mesmo tempo aumentos no número de conexões entre os neurónios e mudanças físicas na forma e estrutura dessas conexões. Pensa-se que, ao longo da vida, a plasticidade neuronal está subjacente a todo o tipo de aprendizagem e memória e explica como o cérebro recupera várias funções quando ocorre um dano traumático.

Quanto mais velhos somos, porém, mais tempo esta “religação” em resposta à experiência poderá demorar; um começo que não seja o ideal na primeira infância poderá significar uma jornada pela vida cheia de problemas não antecipados, ou dispendiosos conselhos e terapias profissionais. Muitos tipos de intervenção são por vezes bem-sucedidas, desde o recondicionamento do cérebro de uma criança disléxica que a ajude a ler melhor até à terapia física de irregularidades psicomotoras. Mas exigem tempo, esforço e dinheiro.

O que isto significa para o seu filho: terá mais de uma estreita oportunidade de três anos para “conseguir ou quebrar” as hipóteses de sucesso do seu filho na vida (ou na entrada para Harvard). Uma criança de qualquer idade beneficiará da atenção/ligação/comunicação. O principal valor da atenção inicial a estes aspetos essenciais nos primeiros três anos é a prevenção. Se tiver a sorte de começar com uma criança normal e saudável, as coisas básicas que fizer para evitar alguns dos percalços da vida poderão ter poderosas repercussões. Como dizia muito bem numa recente campanha mediática californiana acerca da importância dos primeiros anos para o desenvolvimento precoce do cérebro: “As vossas escolhas… moldam as hipóteses deles.” A coisa mais importante que um pai pode fornecer é uma relação carinhosa e estável que conduza a interações frequentes, significativas e recetivas com o seu bebé ou criança pequena. A prevenção faz poupar tempo, dinheiro e desgostos – e não é difícil de conseguir.

Quando nosso cérebro escolhe não sentir para não sofrer

Seu cérebro e hormônios de prazer atacam seu bolso sem que você perceba

Lembre-se da última vez em que acompanhou um jogo importante do seu time de futebol. Na hora que um gol é marcado, é impossível não ter algum tipo de reação forte, não é mesmo? Pode ser um grito, pular do sofá ou da cadeira da arquibancada, enfim, algum tipo de explosão acontece e a euforia toma conta do seu corpo. Na verdade, por mais que você não esteja em campo, a sensação é tão boa que parece que foi você mesmo quem fez a jogada bonita e anotou o gol.

Isso não acontece somente porque você fica feliz. Na verdade, essa sensação de imersão e de viver aquela jogada junto com o jogador acontece em função do trabalho dos neurônios-espelho. Eles são chamados assim porque são ativados tanto quando uma ação está sendo executada ou quando está sendo observada. Em outras palavras, eles são capazes de nos proporcionar sensações semelhantes àquelas que estão sendo praticadas por outras pessoas. A ação desses neurônios, combinada com o efeito da dopamina – hormônio responsável por despertar a sensação de prazer – é a receita perfeita para que os grandes estrategistas de marketing nos induzam a consumir mais.

 

Martin Lindstrom, especialista em marketing reconhecido mundialmente, dá um exemplo claro de como essa combinação é explorada, no livro “A lógica do consumo”. A Abercrombie, loja de roupas americana, tem seu foco principal no público adolescente. Nessa etapa da vida, em meio a uma enxurrada de hormônios e muita necessidade de afirmação social, os jovens são um público fácil de ser atingido.

 

A primeira isca é fazer com que os neurônios-espelhos sejam ativados. Para isso, a marca contrata jovens modelos para ficarem próximos da vitrine de algumas lojas da Abercrombie (é isso mesmo que você leu, eles são pagos só para ficarem na frente da loja, vestindo roupas da marca). Os jovens consumidores que passam por ali, encontram outros meninos da mesma idade, bonitos, bem vestidos, com roupas que destacam seus corpos. A primeira ideia que vem em mente é: “Quero ser como eles, quero fazer parte disso”.

 

Um aroma característico da marca também age como um forte chamariz para que eles entrem no local. Lá dentro, o ambiente se assemelha ao de uma balada – que também é foco de interesse de grande parte jovens dessa idade. Ao provar uma roupa semelhante às dos modelos na porta da loja e levar a peça ao caixa, a dopamina faz sua parte e libera uma enorme descarga de prazer no jovem consumidor. Pronto, a mágica está feita. Com essa receita, a marca consegue fazer com que os jovens retornem e caiam na mesma cilada diversas outras vezes.

 

Você pode pensar que esse tipo de estratégia só dá certo com adolescentes porque eles ainda estão em fase de amadurecimento, mas  ações dessa natureza são usadas o tempo todo para públicos diversos e elas funcionam. Basta ver quando alguma roupa é lançada como moda e, inicialmente, você acha horrível, mas ao ver as pessoas aderindo, tem vontade de fazer o mesmo. São os neurônios-espelho entrando em ação.

 

Para o mercado, vale o ditado de que “a grama do vizinho sempre parece mais verde”. Ao ceder aos nossos desejos de ser como os outros, estamos consumindo mais com a emoção do que com a razão.

Quando nosso cérebro escolhe não sentir para não sofrer

V, a vitamina que dá férias ao cérebro.

Quando as pessoas voltam de suas caminhadas na natureza, elas mostram melhora em testes de memória e de atenção. Conheça os efeitos da “Vitamina V”.

Todos nós já experimentamos como é bom estar na natureza. Quando passamos alguns dias ou até mesmo algumas poucas horas caminhando por uma trilha no meio de uma mata, parece que recebemos uma recarga de energia e somos tomados por sentimentos de paz e otimismo.

Até mesmo os cientistas ficaram muito intrigados com este efeito e resolveram pesquisar. Um grupo de cientistas da Universidade de Michigan EUA descobriu que, quando as pessoas voltavam das suas caminhadas na natureza, elas mostravam 20% de melhora em testes de memória e de sustentação de atenção. Este efeito não acontecia quando a caminhada ocorria em áreas urbanas. Eles relataram que é como se a caminhada em uma área arborizada equivalesse a dar férias ao nosso cérebro. Este efeito foi carinhosamente chamado de efeito Vitamina V (verde).

Quando estamos em espaços verdes, nos conectamos ao ritmo natural da vida, onde tudo tem seu tempo para acontecer, onde as estações nos lembram que tudo é cíclico e que cada fase tem sua beleza. Até mesmo uma árvore morta pode ganhar um novo sentido servindo de moradia para musgos e pequenos insetos. Esta é a ideia de transformação que integra a tudo e a todos!

Porém, parece que a vida moderna nas cidades nos desconectou deste ritmo da natureza. Principalmente nos ambientes corporativos, criou-se a ilusão de que é possível viver só de verão e primavera e que o dia tem 30 horas. Mas esta aceleração “artificial” cobra seu preço! Normalmente o preço é a doença física, emocional e também moral, de quem faz o que for preciso para continuar crescendo.

Metas cada vez mais desafiadoras e competição interna para galgar as escadas da pirâmide organizacional, vão na contramão do aprendizado de bilhões de anos da natureza que nos ensina que tudo tem seu ritmo e que a cooperação além da adaptabilidade, são fatores chave para o sucesso das espécies. É claro, que com todo o avanço científico e tecnológico, podemos e devemos avançar, mas para isto não precisamos esquecer os princípios básicos da natureza; uma análise ecológica (de todas as partes interessadas), pode nos ajudar a tomar decisões mais sábias que gerem prosperidade compartilhada!

E mesmo se você vive em uma cidade como São Paulo, não precisa tornar este contato com a natureza algo complexo e distante. Existem parques com áreas verdes deliciosas dentro da cidade e a poucos quilômetros de distância, reservas florestais. Que tal reservar um tempo da sua semana para desfrutar destes espaços? Uma caminhada a sós e em silêncio na natureza, pode ser maravilhosa! Perceba o que te chama atenção, que sensações novas você tem e como você se sente durante a caminhada. Os efeitos são sutis e muito profundos e muitas vezes é neste espaço de descanso que encontramos a solução para “aquele problema” que passamos a semana toda tentando resolver! Se possível, durante sua caminhada, encontre um local agradável e sem circulação de pessoas. Sente-se e medite por um tempo em uma postura confortável e com olhos fechados. Note para onde vai sua mente. Algumas vezes pode estar atenta aos sons da natureza, outras à sua própria respiração, outras a uma lembrança de algum compromisso que você tem em seguida. Não se prenda a nenhum deles, seja apenas uma testemunha que observa a si mesmo.

Espero que você inclua esta prática na sua vida e que ela traga muitas experiências transformadoras!

in,

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